Ela disse Sim

Capítulo 1

Não dava para entender essa mania de se enfiar dentro de academias de lutas. Isso era chato, repugnante e nojento. Se academias normais já tinham aquele cheiro péssimo de suor, esses lugares que homens se atracavam, arrancando sangue do nariz, e "achando que estavam ganhando alguma coisa", eram piores ainda.

Mas Alice e Natalia conseguiram me arrastar para esse lugar horroroso. Não tão facilmente, mas era melhor do que nada. Tá, também não foi tão complicado, só tive que comprar meus seguranças com meia dúzia de cervejas importadas e falar, logo em seguida, que nenhum deles poderia dirigir com a Lei Seca do Rio de Janeiro. E o que eles iriam falar para meu pai? Que não poderiam seguir Olivia Vaz, porque estavam quase bêbados? É... Eu deixei sem saída de propósito e que se dane. Já que não tinha nada melhor para se fazer, que eu pelo menos pudesse fazer sozinha e sem meia dúzia de seguranças atrás de mim.

Natalia passava dos cem quilômetros por hora quando entramos em São Conrado. Em algumas daquelas ruas secundárias, abrigava uma academia desconhecida. Mas pelo que eu entendi, ela também realizava uns tipos de "lutas sem regras", e era por isso que as minhas amigas estavam com esse fogo imenso. Era algo como Brad Pitt e Edward Norton: A primeira regra do Clube da Luta é não falar sobre o clube da luta.

Não ter Marcos e Rogério atrás de mim era basicamente a perfeição. Eu me sentia uma "estranha" saindo com as amigas para um lugar furada. Para aquele tipo de lugar que seus pais nunca deixariam você ir e, muito menos sozinha. A voz de meu pai já basicamente ecoava em minha mente, do estilo "esse não é lugar para a minha filha ficar", ou coisas do tipo. Quando eu tinha vontade de entender o que significava a palavra "paz", eu colocava música nos meus ouvidos e começava a desenhar. Por isso, qualquer momento de "liberdade", era bem vindo. Mesmo que fosse dentro de um lugar que eu não tinha a mínima vontade de estar.

Natty estacionou o carro e nos esperou sair. Alice saiu correndo, encontrando com Marcelo, que já estava parado na porta. A única coisa que eu sabia sobre esse cara, era que eles estavam ficando há algum tempo. Talvez não fosse mais um dos casos sem rumo da Alice.

Essa coisa louca de se apaixonar do dia para a noite, era meio que sem nexo. Na verdade, qualquer tipo de sentimento, acabava se tornando uma fraqueza e um ponto fraco.

Por outro lado, eu odiava a ideia de ter que entregar o meu coração para uma pessoa aleatória. Pra quê? 

Assim que cruzei a porta de entrada, foi praticamente imediato sentir aquele cheiro insuportável de suor e sangue. A umidade se impregnava pelo meu nariz e me fazia ficar enjoada. O barulho que ecoava, eram os socos de punhos em rostos.

Bem na frente, conseguia ver o tal octógono. Algumas pessoas estavam bem próximas à ele, mas tinha também uma espécie de "arquibancada", e como minha altura não favorecia em nada, eu e as meninas decidimos ficar por ali.

Não dava para ver muito mais do que aquela cena de combate. O ambiente era muito escuro, com um rock estranho e várias pessoas bebendo e gritando suas apostas. Marcelo, o então mais novo namorado de Alice, era um desses responsáveis pela luta. Não que eu estivesse animada, mas já que estava ali, também ia entrar na brincadeira de apostar em alguma pessoa. Olhei a lista e vi que diversas pessoas apostavam em um tal de Gabriel Montroni, então apostei cem reais nesse tal lutador e fiquei olhando, tentando descobrir quem era quem naquele troço de oito lados.

Demoraram umas três lutas até a desse tal de Gabriel. Natalia não parava de comentar que queria levar um daqueles lutadores para casa. Eu só estava feliz por estar com meu celular desligado, longe de casa e sem ninguém para me encher o saco. A liberdade sempre tinha o seu valor, mesmo que eu pudesse me ferrar completamente com meu pai depois.