- Agente Jennifer. – Cumprimentei cordialmente. – Sentem-se à vontade para prestar declarações?

Se substâncias ilícitas ou uma elevada quantidade de álcool fosse encontrada nas vítimas estas seriam as culpadas e começariam as enormes notícias acerca do uso de tais coisas. Contudo, com ou sem substâncias nocivas, todo o ser tem direito a certos momentos. Um deles, e talvez dos mais preciosos, o luto, deve ser feito conscientemente e com calma de forma a não deixar danos psicológicos. Num trauma como este a interação com um psicólogo é fundamental mas na falta dele uma pessoa consciente serve.

Os jovens anuíram. Começamos pelas apresentações. Ambos amigos próximos das vítimas que tiveram o infortúnio de assistir à tragédia e de não a conseguir evitar. Confessaram que depois de uma festa num bar decidiram vir até à praia, como tantos outros, e que a brincadeira nas rochas foi a pior ideia. Isto explicava o facto de existirem cada vez mais pessoas perto do local e da falta de prestação de cuidados em relação ao perigo inerente.

- Bebemos uns copos. – A jovem reconheceu. – Ele escorregou nas rochas molhadas...depois foi tudo muito rápido...- Soluçou.

- Apenas isso, estávamos todos sóbrios. – O jovem explicou ao reparar nas lágrimas da rapariga – Foi um acidente! Ninguém previa isto...

Levei as minhas mãos até aos bolsos do casaco com a intenção de as aquecer e assenti fazendo-os prosseguir com a história.

- Sabem, por estarem sóbrios já se safam de uns bons sermões. – Sorri-lhes levemente e olhei em volta ao ouvir um assobio. Provavelmente uma má forma de chamar os colegas de equipa. Eles deram um ligeiro sorriso.

- A nossa intenção era ver o nascer do sol de uma forma diferente sabe...- A rapariga falou já mais calma, sem soluços e lágrimas.

Poderiam vê-lo se se virassem para trás...certamente não irão repetir um por de sol com este cenário. Evitei o meu humor inadequado deixando-o apenas nos meus pensamentos.

- Eih! Precisam de ajuda? – Proferiu uma voz rouca distante.

Suspirei.

- Guardem apenas as boas memórias, talvez as últimas gargalhadas. – Proferi amigavelmente. -Abstraiam-se da situação e ignorem qualquer comentário. – Sugeri ao ouvir um novo comentário vindo do imbecil anterior.

- Assim o faremos. – Disseram em coro embora com a voz baixa. Sorri reconfortando-os.

- Posso-te ajudar moreninha? – Agora a voz estava perto, os olhos da rapariga arregalaram-se enquanto o namorado olhava para o mar.

Rodei o meu próprio corpo acabando por observar um outro jovem, de copo na mão e camisa um pouco aberta, que certamente tinha consumido álcool a mais para o seu organismo. Invadira o local do crime e podia ser castigado.

- Com licença. – Disse para o casal e aproximei-me do bêbado. – Pedia que se retirasse e não voltasse a perturbar.

Falei educadamente enquanto ele ajeitava o cabelo.

- És boa demais para polícia sabes? – Articulava com dificuldade as frases e olhava-me presunçosamente. – Podíamos juntar-nos e ganhar um bom dinheiro, o que dizes?

- Invadiu, alcoolizado, uma área vedada pela polícia, pedia que saísse daqui para não causar mais problemas. – Abstraindo-me do que dissera voltei a pedir.

O cheiro a álcool voltou a invadir as minhas narinas assim que ele se aproximou e falou.

- Gosto de mulheres difíceis...- Sussurrou perto do meu ouvido, a sua mão pousou no meu braço fazendo-me afastar num ato brusco.

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