Prólogo

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Manuela

— Vamos, Lara. Pra quê tanta maquiagem? — Falo para minha filha, que está na frente da sua penteadeira há mais de vinte minutos.

— Já vai, mamãe...

Continuo encostada no batente da porta vendo a minha amada e doce filha, que hoje resolveu se "maquiar". Ela é meu tudo, daria minha vida por ela.

Hoje resolvi fazer uma visita ao meu marido, Edson, pai da Lara. Ele trabalha em uma empresa farmacêutica e por ser sexta-feira os familiares são liberados para fazerem uma visita, mas se ele soubesse que estaríamos indo para lá nunca deixaria. Diz que a empresa não é ambiente para diversões e não tem motivos para que eu vá... Só que ele não entende que hoje é um dia comemorativo e devemos estar todos juntos, celebrando mais uma conquista para todos nós.

Bem, me chamo Manuela, tenho 24 anos e sou empresária. Tenho uma loja de cosméticos, não é conhecida, mas muito bem planejada e organizada e dá pra viver do que vem de lá. Sou casada há cinco anos e a Lara foi o nosso presente de um ano de casamento, foi a melhor coisa que aconteceu em nossas vidas.

— Vem, filha. Deixa a mamãe ver essa obra de arte. — Falo indo em sua direção e me abaixando para ficar na sua altura, e o que vejo me faz dar uma gargalhada alta, a assustando e enchendo seus olhinhos de lágrimas. — Calma, meu amor. A mamãe vai dar um jeito nisso rapidinho... — Falo, enquanto, pego um lencinho para limpá-la.

Enfim, depois de muito tempo consegui ajeitar a "obra" de arte da minha princesa, que modéstia parte estava linda em seu vestidinho florido e uma rasteirinha branca com strass.

— Vamos amor, ainda dá tempo de pegar o seu pai de surpresa. — Hoje é a primeira vez que quero que todos da empresa a vejam. Desde que Lara nasceu, ninguém do seu ambiente de trabalho a conhece, a não ser por fotos é claro.

Após trancarmos tudo e pegarmos nossas bolsas, fomos para o carro, acomodadas em nossos assentos e como regra, ligo o DVD do carro com o pen drive já conectado e coloco sua música favorita. Lara tem 4 anos e é muito esperta, por eu trabalhar fora ela precisou ir para escolinha muito cedo, mas isso só ajudou. Ela é filha única e muito mimada. Não só por mim, como pelo seu pai também.

Assim que os toques da música começam, Lara se anima em sua cadeirinha e começa a cantar com a personagem Ana do filme Frozen...

"Você quer brincar na neve?

Um boneco quer fazer?

Você podia me ouvir e a porta abrir

Eu quero só te ver

Nós éramos amigas de coração

Mas isso acabou também

Você quer brincar na neve?

Não tem que ser com um boneco"

E como se fossemos as personagens, e eu sendo a irmã Elsa, digo:

- "Vai embora, Anna".

E Lara continua sua cantoria...

"Tudo bem...

Você quer brincar na neve?

De alguma coisa que eu não sei?

Faz tempo que eu não vejo mais ninguém

Até com os quadros nas paredes já falei

"Firme aí, Joana?"

É meio solitário, tão vazio assim

Só vendo o relógio andar"

E faz aquele barulhinho lindo com a boca que quanto mais ela canta essa música, que ao em vez de me enjoar, eu amo! E como uma boa atriz de novela mexicana ela faz aquela voz de drama, na parte mais triste da música...

"Elsa?

Por favor, me escuta

Todos perguntam sem parar

E me encorajam para te dizer

Mas espero por você

Me deixa entrar

Só temos uma a outra, o que vamos fazer?

Temos que decidir

Você quer brincar na neve?"

Continuamos nosso passeio, cantando diversas músicas do filme até chegarmos ao nosso destino.

Assim que estaciono o meu carro em uma das vagas disponível, saio e tiro Lara de sua cadeirinha. Em seguida, fecho e travo o carro, caminho em direção a entrada da empresa, quando estou próxima ao local, paro. Lara chama minha atenção para que continuemos a caminhada, mas o que vejo faz o meu coração querer saltar da boca, desejando apenas brincar na neve com a minha pequena Lara.

— Lara, minha pequena... Que tal ficar sentadinha naquele banco ali? — Digo, indicando com o dedo onde está o banco, minha princesa muito inocente e obediente vai até onde indico. E eu sigo em frente.

Conforme vou me aproximando ouço risadas e Edson falando:

— Aline, meu amor o que está fazendo aqui? — Ele pergunta para a mulher que está em pé próxima ao carro do meu marido.

— Viemos te dar "oi". Não está feliz, Edson? — A tal diz. Mas percebo que ela está sozinha e não entendo o "viemos", até me aproximar mais e ver sua enorme barriga, enquanto, Edson passa a mão carinhosamente nela. Não aguento mais e me aproximo deles.

— Olá, meu querido... — Digo, olhando bem em seus olhos.

— Oi... O que te traz aqui? — O safado de uma figa me pergunta.

Sei que vai doer nela, assim como doeu em mim ouvir essa mesma frase, mas tanto ela como eu, estávamos no escuro. Digo:

— Viemos te dar "oi". Não está feliz, Edson? — Aponto para o banco onde se encontra a nossa filha, e nessa hora como um ímã, minha pequena olha em nossa direção e acena para o pai, meu coração é quebrado em milhares de pedaços.

— Manu, escuta... eu preciso apenas de um minuto, conversarei rapidamente com a Aline e já irei até você e Lara. Por favor? — Ele diz muito apressado, colocando a outra dentro do seu carro, ajudando-a colocar o cinto.

E nessa história eu sei que não sofrerei sozinha...



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