— Nada disso! Ela não é seu brinquedo. Limpe essa bagunça, eu a levo para casa.

Will me levou pra casa e Wallace nem tentou desmentir que queria brincar comigo. E eu quis chorar porque Will atrapalhou, eu queria ser o brinquedo dele.


Minha segunda entrevista de emprego foi um fracasso total. Foi numa loja de telefonia, além de não conhecer marca nenhuma, eu não era muito ligada nessas coisas de tecnologia. Na hora do teste eu tinha que conseguir vender um aparelho para um cliente que claramente não queria o produto. Nunca gostei de entrar nas lojas e vir algum vendedor insistindo para eu levar o que não queria comprar, então por uma questão de princípios não podia fazer aquilo com o cliente que não queria um aparelho, só colocar crédito no dele. Resultado: a gerente da loja faltou me expulsar antes mesmo de dizer o óbvio, eu não havia passado no teste.


Voltei para casa desanimada. Quando estava chegando, Wallace estava saindo com a moto, estava lindo com uma camisa azul clara colada ao corpo e a jaqueta de motoqueiro dele. Ele tentou fazer graça, mas apenas o cumprimentei, comentei que havia tido um dia difícil e entrei para minha casa. Joguei-me na cama e fiquei lá até que a noite chegasse, e quando fui tomar banho já passava da meia-noite.

A água quente escorria pelo meu corpo e me senti, aos poucos, aliviando a tensão do dia inteiro. Estava com muito medo, medo de ter que dar adeus ao meu sonho de independência, de ter que voltar para casa com o rabinho entre as pernas e admitir para os meus pais que eles estavam certos o tempo todo: eu não estava mesmo pronta para morar sozinha. Isso seria suficiente para eles aceitarem que eu ainda era uma criança, mas não seria para mim, eu voltaria para casa e continuaria o tempo inteiro pensando que se eu tivesse arrumado um emprego tudo teria dado certo. Se eu tivesse conseguido um meio de me manter é que poderia saber o quão responsável eu seria, se daria conta de pagar todas as contas, se gastaria meu salário em futilidades.

Eu sempre me achei mais adulta do que minha mãe, e me conhecia bem o suficiente para saber que daria conta de cuidar de mim sem a ajuda deles. Depois de uns dez minutos embaixo da água quente, desliguei o chuveiro e me enrolei em uma toalha. Penteei o cabelo em frente ao espelho do banheiro e saí tremendo, ainda molhada.

Quando entrei no quarto, dei um pulo e quase deixei a toalha cair.

— O que você está fazendo aqui?

Wallace me olhou com um sorriso malicioso nos lábios e um brilho no olhar que não era característico dele e falou com a voz rouca, olhando meu corpo de cima a baixo.

— Você parece gostar que eu entre, já que deixa a porta sempre aberta.

— E você parece gostar mais da minha casa que da sua — rebati.

Ele sorriu. Uma gargalhada deliciosa e continuou me avaliando.

— Com certeza aqui é bem mais interessante.

Havia algo na maneira como me olhava, se eu não soubesse que ele era gay, acharia que havia desejo em seus olhos. Ele me olhava como se quisesse me devorar. Peguei minha calcinha e vesti por baixo da toalha, eu não tinha vergonha dos meninos, por serem meus amigos e gays, mas com Wallace era diferente, eu me importava com a maneira como ele me olhava. Ele me prendia naqueles olhos castanhos esverdeados e tudo o que eu mais queria era beijá-lo sóbria para saber se ele era aquilo tudo mesmo ou se minha imaginação de bêbada havia enfeitado o beijo. Virei de costas para ele e tirei a toalha, colocando o sutiã. Em seguida vesti um blusão velho, da época do colegial por cima. Quando me virei ele estava de boca aberta, olhando fixamente para o meu corpo. Eu pigarreei e ele desviou o olhar para o meu rosto.

Quando eu ia perguntar se ele estava bem, ele se aproximou de mim me prensando contra a cômoda. Seu corpo musculoso grudado ao meu, passou um braço pela minha cintura me prendendo ainda mais a ele. Roçou o nariz pelo meu rosto, meu pescoço, mordiscando meu ombro. Minhas pernas ficaram bambas e deitei meu corpo mais no dele, fechei os olhos e inspirei seu perfume gostoso, seu cheiro invadindo minha mente. Ele enfiou uma mão pelos meus cabelos e puxou meu rosto para cima, de forma que a boca dele quase encostava-se à minha, então sussurrou:

— Eu trouxe uma coisa para você.

Eu estava a ponto de encostar meus lábios nos dele, quando ele se afastou de repente, passando a mão pelos cabelos e saiu do meu quarto mandando que eu o seguisse. Demorei alguns minutos para me recompor antes de segui-lo escada abaixo.

Eu não entendia o jogo dele, será que estava em dúvida sobre sua homossexualidade? Será que eu poderia despertar nele o desejo por mulheres? Logo afastei esses pensamentos, eu estava mesmo ficando louca.

Quando cheguei à cozinha ele estava de costas na bancada, a respiração acelerada, parecia tenso. Eu dei a volta e parei de frente para ele, do outro lado da bancada. Ele abriu a sacola e retirou de lá um pote de sorvete. Não consegui esconder o sorriso quando começou a explicar:

— Eu te achei meio desanimada mais cedo... Então, pensei que talvez um sorvete poderia te animar.

— Você parece ter lido meus pensamentos — falei, dando a volta na bancada e um beijo no rosto dele, que me prendeu em seus braços por alguns segundos antes de me soltar e ficar olhando para o meu rosto com um sorrisinho.

Vou dizer, estava mesmo chateada, pois ele e eu acabamos com o pote de sorvete. Ele pegou meu colchão e jogou no chão da sala. Colocamos uns filmes que o Olavo tinha deixado lá em casa, e decidimos por uma comédia romântica, que por mais que Wallace tenha dito que odiava, percebi que ria sempre e estava mesmo prestando atenção ao filme. Por fim cansei de ficar na poltrona dura e me juntei a ele no colchão. Ele passou o braço por baixo da minha cabeça e assistimos ao filme assim, e acabamos adormecendo assim também.

Nossa história - DEGUSTAÇÃO!Where stories live. Discover now