Capítulo 1 - Apollo

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Eu amava aquela visão. Aquele corpo estendido na cama, completamente relaxado, entregue. Exausto de luxúria e gozo. E fazia questão de levantar para admirá-lo de um ângulo melhor. Os cabelos com tons diferentes, que iam do preto, passando pelo cobre, com pontas de um loiro escuro, bagunçados, jogados de qualquer jeito. Os ombros relaxados, a curva acentuada da lombar que culmina naquela bunda redonda e linda, uma das pernas esticada e a outra levemente flexionada. Todo esse monumento à meia luz. Todo o cansaço temporário provocado pelas sacanagens que a gente faz junto. Tudo isso ao meu alcance.

Algum dia eu me acostumaria com isso? Já desejei que sim. Já torci que não. A verdade é que eu não faço ideia. Aprendi a viver um dia de cada vez com ela. Aprendi a controlar a minha ansiedade e assim mantê-la na minha vida. Aprendi a esperar e a respeitar o tempo dela. Logo eu. É hilário perceber o quanto ela me mudou, aliás, ela não, o amor que eu sinto por essa mulher.

Ela resmunga algo. Eu não entendo, mas sorrio mesmo assim. Detesta falar nessas horas. Prefere se entregar a sensação pós-gozo, que segundo ela, é quase tão boa quanto o gozo em si. Ela vira o rosto e me encontra de pé, displicentemente encostado ao lado da porta do banheiro, observando-a. Sorri. Um sorriso tímido que a deixa mais parecida com a adolescente de anos atrás. É uma das coisas que acho mais incrível nela, a capacidade de me comer olhando nos meus olhos, sem pudor, falando baixarias, e a de ainda ruborizar quando me pega admirando-a nua.

– Vem.

Ela não chama. Ela ordena. E eu vou. Eu sempre vou. Nem sempre foi assim, então eu aproveito. O pós, eu digo, porque o sexo sempre foi maravilhoso. Ela não era de carinho. A gente terminava a loucura toda, ela me deixava sozinho, tomava banho e já voltava vestida, mal me olhando. Eu ficava puto, sem entender aquela porra toda. Nós, e quando eu digo "nós", falo dos caras. Nós não somos acostumados a esse tipo de comportamento pós foda. Mesmo que a gente só queira comer a gata, a gente continua tratando bem depois. Faz carinho, promete ligar, que é para garantir um replay noutro dia, quando bater a vontade de novo.

Com a Roberta nunca consegui fazer isso. Ela me deixava sem ação porque sempre agia de uma forma que eu não esperava.

Na nossa primeira transa ela me deixou fazer carinho, embora não tenha retribuído. Mas hoje eu percebi que isso só aconteceu por pura ironia do destino.

No dia seguinte, ela me ignorou como se nada tivesse acontecido. Tentei me aproximar de todas as maneiras. Mas ela me despachou tantas vezes, e de tantas formas diferentes, que eu fiquei puto. Mas o pior, é que a raiva passava. E lá ia eu de novo, rastejar atrás dela. Quem diria?

A vida toda que nem cão e gato. Trocando farpas desnecessárias. Quando finalmente a gente baixa a guarda e rola a noite mais literalmente foda da minha vida, onde eu pensei que tudo entre a gente fosse mudar, no dia seguinte ela age como se tivesse sido super banal.

Eu devia ter dado as costas e parado de me importar. Eu só tinha dezoito anos, idade onde todo cara quer sair por aí comendo qualquer uma. Mas, depois daquela noite, eu não quis mais ninguém por algum tempo. Se eu for bem sincero, na verdade, nunca mais quis ninguém além dela. Peguei outras, claro, não ia ficar na mão, mas como ela, não houve mais nenhuma.

Estudamos juntos a vida inteira. Eu sempre fui bonitinho, ajeitadinho. Aí veio aquela fase punk do esticão que todo adolescente fica desengonçado, com braços enormes e desproporcionais. Não aguentava sequer me olhar no espelho nessa época. Comecei a malhar, queria estar bem com a minha imagem, e surtiu efeito. Eu já tinha altura, e fui criando corpo.

Depois disso, não precisei fazer esforço para pegar ninguém. Incrível como ter uma melhor amiga mulher te ajuda nessas horas. Tem mulher que adora uma competição, e como eu e a Lua vivíamos grudados, despertava o senso de concorrência de algumas meninas bobas. Elas davam mole, e eu pegava fácil.

Como cão e gatoWhere stories live. Discover now