— Sophie... Eu não...

— Você devia ter me contado. – O interrompeu, irritada.

— Todo mundo esconde coisas e minha família é um assunto complicado.

— Posso compreender, mas quando o assunto vai me prejudicar, prefiro ser avisada. Seu irmão veio na porta da minha casa sabe Deus para quê!

— Desculpa... – Buscando uma forma de reverter a situação, Fernando resolveu arriscar. — Você também esconde coisas.

— Nada que seja da sua conta ou vá te prejudicar. – Rebateu, indignada pela tentativa dele.

— Então acho que podemos ser honestos um com o outro, não acha?

Sophie recostou no sofá e apontou para o outro, sem precisar falar nada, Fernando sentou.

— Pode começar. – Ela cruzou os braços e aguardou.

— Bom... – Pensando que sua sugestão tinha sido uma má ideia, ele elaborou uma forma de contar sem revelar muita coisa. — O que falei antes sobre minha família é verdade, a única diferença é Lucas. Temos o mesmo pai, aparentemente Lucas foi abandonado pouco depois de nascer. Minha mãe só soube a traição do meu pai quando a mãe de Lucas morreu. Minha mãe ficou com ele e tudo que aconteceu comigo por causa do vício dela, aconteceu a Lucas também e hoje nós trabalhamos juntos.

— Não tem mais nada que eu precise saber? – Ergueu uma sobrancelha e reparou em cada movimento dele, não conseguia se livrar da sensação de que Fernando não estava contando tudo.

— Não. Agora é sua vez. Sei o necessário sobre sua família e trabalho, mas quero saber de você. Mais especificamente, como você sabia da vinda de Lucas?

O que ele não entendia, era que Sophie não sabia, havia apenas sonhado, o que costumava revelar algumas coisas, no entanto, não sabia explicar como e nem porque acontecia.

— Certo... – Ela mordeu a bochecha por dentro antes de continuar e sentiu o gosto de sangue. — Eu sempre sonhei com coisas que estavam para acontecer e isso era um problema, ainda mais para uma criança comunicativa. Meu pai me levou a um psicólogo. Passei a tomar remédios fortes e um deles era para dormir. Assim eu não teria sonhos e se tivesse a recomendação era manter a boca fechada. Cheguei a interromper a medicação algumas vezes e os sonhos sempre voltavam. Há um ano, decidi não tomar mais e não ir ao psicólogo. Os sonhos voltaram e dessa vez piores, mais reais.

A falta de reação de Fernando a preocupou, sempre teve medo de contar o que acontecia às pessoas, nem mesmo Carlos sabia, apesar de desconfiar que havia algo errado.

— Isso é incrível e assustador. – Concluiu, impressionado com o resumo dela.

— Bom, você pode se cagar de medo longe de mim. – Não era bem essa resposta que queria dar, mais valia também.

— Por que eu faria isso? Gosto de você. E há relatos de pessoas assim pelo mundo, você não é a única.

— Eu sei disso. Tive muitas noites em claro para pesquisar, acredite. – Sophie leu tudo o que encontrou sobre sonhos e de tempos em tempos voltava a fazer novas pesquisas, mas continuava encontrando as mesmas explicações sobre espiritualidade, se desligar do corpo e se transportar para outro mundo enquanto dormia, ou até mesmo alguns poucos testes de cientistas tentando descobrir como isso acontecia. Deixou de procurar com frequência a última vez que leu sobre alienígenas. — É que... Você mesmo disse que é assustador. – Repassou, confusa pela atitude dele.

— Imagino que deva ser assustador para você. Eu acho incrível!

Por essa reação Sophie não esperava. Tentou não se animar por não ter sido rejeitada, muito menos por ele ter dito que gostava dela, tudo parecia surreal demais. Depois do silêncio que sucedeu a conversa, Fernando pediu mais uma vez desculpas.

Manipuladores do Futuro (1)Waar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu