Introdução

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(CONTÉM SPOILERS DO GAROTO#2)


Bárbara

Eu daria qualquer coisa para ser filha única. Minha orelha esquerda, o dinheiro que tenho na poupança, meus pares de sapatos e todos os sorvetes que estão escondidos no meu freezer, embora não sejam de fato meus. Porque vou te dizer, ter irmãos é um pé no saco, principalmente dois tão cabeças-duras como os meus. Para mim, é um mistério o que minha mãe estava pensando quando resolveu ficar com eles ao invés de colocá-los em uma cestinha e deixar na porta de uma igreja qualquer. Ela vive em outra dimensão a maior parte do tempo. Se eu fosse julgar, diria que só se deu conta do tamanho da burrada quando já era tarde demais.

Augusto, meu irmão mais velho, hoje em dia é o menor dos meus problemas, já que ele foi domesticado. E pensar que era o mais descrente em se tratando de amor. Achei que mulher nenhuma teria o poder de mudá-lo (ele com certeza pensava o mesmo), mas não contávamos com a doce e tímida Anna entrando em nossas vidas, tomando conta de seu coração à força e fincando uma bandeira de encoleirado nele. Monstro se transformara e agora exibe uma postura muito diferente do homem mulherengo de antes, que não valia nem uma moeda de um centavo. Uma postura de homem de família. Meus olhos se enchiam de água todas as vezes em que ele abraçava sua noiva e passava as mãos por sua barriga minúscula que abrigava uma vida.

A vida deles.

Eu sempre quis que eles se acertassem, encontrassem uma garota boazinha de quem eu obrigatoriamente gostasse e montassem no cavalo branco por elas. Eu sei, eu sei, eu e os cavalos. Meu maior problema é que Gustavo, meu irmão do meio, fez diferente, em vez de montar em um cavalo, ele encontrou uma égua e se apaixonou por ela. Ele era minha maior decepção, ele e aquele creme mágico que prometia diminuir celulites e não passou de perda de tempo.

Só de pensar que ele estava namorando justo ela, a mulher que tentou destruir minha felicidade e me fez passar pela maior humilhação da minha vida, eu tinha vontade de gritar, me jogar no chão e fazer birra que nem aquelas criancinhas medonhas fazem no supermercados.

Nossa família é estruturada, é uma unidade indivisível e inabalável. Eu morreria pelos meus irmãos, mas, no momento, tudo que tenho vontade de fazer é matar um deles. Não posso, simplesmente não posso vê-lo jogando a vida fora por um amor que não é de verdade, e vou fazer o que for preciso para protegê-lo.

Se, para isso, eu tiver que jogar sujo, que seja. Mas uma coisa eu digo, Gustavo não se casará com aquela mulher, ou não me chamo Bárbara Vitorazzi.


O Garoto que eu abandoneiOnde as histórias ganham vida. Descobre agora