Capítulo 10 - Jovens Solidários

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- É que parece que vai vir um pessoal fazer doação de suprimentos hoje. Não é nada incomum por aqui, mas não é uma ocasião muito divertida.

- Eu imagino. - Ela me encarou com seus olhos cansados que ultimamente transpareciam completa insanidade. - Aposto que são uns idiotas inconvenientes.

- Você nem imagina o quanto.

- Bom, parece que hoje seremos um show de horrores. - Riu.

Era exatamente o que éramos. Sorrindo para os visitantes como se nada estivesse acontecendo e recebendo pura repulsa em troca. Afrontas também não eram incomuns, levando em conta que todos ali haviam cometido crimes. Aquilo tudo era muita hipocrisia, pois todas aquelas pessoas achavam que merecíamos estar apodrecendo na cadeia.

Esfreguei as mãos pelo rosto, atordoado com tantos pensamentos.

A loira cruzou as pernas, me olhando com um ar curioso:

- O que foi?

- É que...Eu conheço as pessoas que virão hoje. São o terceiro ano do colégio onde eu estudava, são a minha turma. Cara, como alguém pode ser tão azarado?

- Oh, céus...O que vai fazer?

- Não descobri ainda.

-*-*-

Depois de comer senti que não tinha outra escolha senão encarar a situação. Não haveria como fugir, poderia apenas ficar ali e evitar encarar aquelas pessoas.

Mas nem tudo estava perdido, porque eu não estava sozinho. Ao meu lado, com um olhar perdido e expressão dura, encontrava-se uma Rafaela que claramente lutava para ficar fora de seu quarto.

Eu recebera elogios e agradecimentos de Ana por a ter trazido para fora, mas quem deveria ser elogiada mesmo era Rafa, que havia guardado sua dor para me ajudar a lidar com a minha.

Então, a hora do almoço chegou. Cada segundo parecia se transformar numa eternidade e eu me sentia parado no tempo. Minhas mãos suavam e eu não conseguia parar no meu lugar, não sabia o que fazer.

Logo vi duas Panoramas e duas Brasílias adentrando os portões e esmagando as flores do jardim. Delas, desceram quinze adolescentes magros e altos, que logo começaram a descarregar os porta-malas.

Suspirei audivelmente e olhei para Rafaela, que retribuiu com um olhar preocupado e um sorriso forçado.

Os alunos do colégio Santa Fátima começaram a entrar carregando sacolas e sendo auxiliados por Seu Zé e algumas enfermeiras.

Ana estava na porta, dando boa tarde, informando-os sobre onde deveriam deixar os suprimentos e dizendo que logo depois veriam Keitlyn.

-Pobres visitantes - brincou Rafa. -Aquela mulher é barra.

Eu mantinha a cabeça baixa enquanto toda aquela gente cruzava os corredores, talvez assim não me reconhecessem, mesmo com esse maldito farol vermelho que chamo de cabelo.

É claro que aquilo não daria certo, eu sabia que não conseguiria lidar com tudo aquilo. Minha cabeça rodou quando um cheiro doce e familiar encheu minhas narinas. Poderia ser...?

DevaneiosWhere stories live. Discover now