Eles foram o caminho todo ouvindo Sabrina tagarelar sobre roupas, garotos e sapatos. Carlos teve vontade de atirar um sapato na cabeça dela, mas se conteve.

Apesar de sua idade, Sophie não costumava ir muito à baladas ou festas, preferia sair com algum garoto que estivesse a fim. Seus pais não pegavam em seu pé, pois ela sempre saía com seu celular, deixava algum endereço caso precisem encontrá-la e nunca desligava o aparelho.

Uma vez, seus pais ligaram querendo saber onde a filha estava. Sophie deu o endereço de um restaurante e os dois foram conferir se a encontrariam jantando com algum garoto e de fato foi o que viram. Falaram a semana inteira sobre o namorado da filha e perguntaram quando iriam conhecer o rapaz, foi a única vez em que a deixaram realmente irritada.

Ela explicou que não estava namorando e seus pais ficaram curiosos, principalmente Rogério, que fez a besteira de perguntar o que o garoto era então. Com paciência, Sophie esclareceu que ficava com o garoto de vez em quando, mas seu pai cismou que tinha que conversar com a filha sobre o que os garotos nessa idade queriam das meninas.

Sophie ouviu tudo com a maior impaciência possível e quando Rogério terminou, Bárbara tentou interferir. Era tarde demais. A garota disparou dizendo que já sabia de tudo aquilo e que sabia se prevenir. Rogério achou um absurdo a filha transar com alguém que não fosse seu namorado e a discussão foi longe, até Bárbara gritar com os dois e contar ao marido que já tinha conversado com Sophie sobre isso e que ela sabia o que estava fazendo. Seu pai ficou vermelho de tanta raiva e foi para o quarto sem falar mais nada. Sophie não soube o que os dois conversaram depois, só que nunca mais seu pai perguntou sobre sua vida afetiva.

Quando chegaram à festa, ela quis sair correndo. O lugar estava cheio de adolescentes bêbados se atracando, não que ela fosse adulta, mas não tinha paciência para pessoas da sua idade. Estavam em uma chácara; a piscina estava cheia de pessoas com roupa, outras sem, e fumaça de algo não identificável empesteava o lugar. Seus amigos foram se arrumando em algum lugar na multidão, deixando-a sozinha.

Inquieta, foi procurar algo para comer, não encontrou nada, apenas bebida alcóolica, então foi se sentar na mureta perto do minicampo de futebol. A única coisa boa era a música, naquele momento tocava Church Heathen de Shaggy, tirada do baú, claro, mas boa, e a festa parecia o clipe dessa mesma música, porém, com menores de idade, pouca gente bonita, bem menos dança e mais agarração a céu aberto.

À distância, observava os amigos, aguardando o melhor momento de avisar que queria ir embora, Sabrina beijava um garoto bonito, muito bonito na verdade. Carlos conversava com algumas pessoas e justamente quem interessava não estava à vista, Igor, o motorista, seu passaporte para casa.

Em sua distração observando as pessoas daquela festa e pensando naquele acidente, decidiu pensar que imaginou mesmo tudo aquilo e que não tocaria mais no assunto, pelo menos sabia que seria melhor que ir ao psicólogo. Notou um garoto que parecia destoar daquele ambiente e que era familiar.

Ele estava fumando alguma coisa e seu jeito estava completamente alterado, demorou a perceber quem era, mas ficou surpresa quando o fez.

O garoto que tinha sobrevivido ao acidente. Ele estava eufórico. Sophie ficou olhando fixamente em sua direção, se perguntando o que ele estava fazendo ali, uma semana depois de perder o pai. Provavelmente tinha sido obrigado a sair de casa também. De repente, ela ouviu alguém dizer "oi" próximo de seu ouvido e sobressaltou-se.

Quando virou na direção da voz, sentiu a sensação de já ter visto o rapaz em algum lugar, mas o ignorou, respondendo com um "oi" seco. O sujeito se parecia muito com o garoto que Sabrina estava beijando, se deu conta, procurando com os olhos o parceiro de sua amiga só para confirmar. Reparou que sua amiga ainda estava agarrada ao garoto e suspirou aliviada.

Manipuladores do Futuro (1)Where stories live. Discover now