-Está tudo bem ?~Pergunta o garoto que suponho ter a minha idade. E sua pergunta me irrita mais ainda.

Aponto para a minha roupa molhada e olho furiosa para ele. Ainda tinha a cara de pau de perguntar se estava tudo bem depois me dá aquele banho?

Ele desce do carro e vem em minha direção parecendo culpado. Tinha a pela levemente bronzeada e a mesma altura que Mateus. Mas seus olhos castanhos tinham um ar inocente, já os do meu namorado eram sempre astutos e cheios de segredos.

-Olha eu sinto muito mesmo moça, eu não vi a poça de água. Estava meio perdido sem saber qual a direção da faculdade que fica na rua Hosthin e já passei em frente a esse hospital quatro vezes tentando achar o caminho. Juro que não fiz por mal... Eu posso de dar meu casaco... Eu...
 ~Ele tenta se explicar gaguejando e percebo que estava nervoso e sem graça pela situação.

Respiro fundo me dando por vencida e sentindo a raiva se esvair do meu corpo.

Pego meu caderninho e escrevo:

"OK, jovem. Tá tudo bem, mas tome mais cuidado da próxima vez."

Dou o papel a ele que me olha arregalando os olhos.

-Ué, mas por que você não fala ? Só falta dizer que é daquelas moças ricas e  metidas que querem poupar a voz. ~Ele fala fazendo careta e isso me faz sorrir.

Não parecia ser uma má pessoa.

-Olha meu nome é Gustavo.~ Diz estendendo a mão animado.

Eu poderia falar meu nome.
(SE EU PUDESSE FALAR.)

Volto a escrever em meu caderno.

"Meu nome é Luz, muito prazer. "

Quando ele lê meu caderno me olha confuso como se tentasse entender porque eu não falava. Estendo a mão mesmo ainda estando completamente molhada.

Ele sorrir e nós apertamos as mãos.

-Olha, me desculpa, Luz. Eu estava indo para uma nova faculdade da qual serei aluno e estava tão apressado que não vi a poça de água. ~Ele diz passando as mãos pelos cabelos. Por sorte o ponto de ônibus tinha uma cobertura que impedia um pouco que nos molhássemos mais.

"Por o acaso do destino eu estou indo para a mesma faculdade que fica na rua que você falou.
E sim, você está desculpado. "

Escrevo e dou a ele que me olha erguendo a sobrancelha e olhando para minha boca procurando alguma coisa errada. Será que era tão difícil ver que quando uma garota não fala ela pode simplesmente ser muda ?

-JA SEI!~Ele grita me assustando.
-Ah me desculpa pelo susto mas eu iria sugerir que você poderia ir comigo, já que eu nem sei onde fica a faculdade. Assim eu me desculparia por ter te deixado ensopada e você vai estar fazendo uma grande ajuda a humanidade. ~Ele sugeri feliz pela solução que encontra e eu olho para o chão pensativa.

O fato é que desde pequena e até em histórias ouvimos que não devemos aceitar nada de estranhos.

-Olha eu sei que a gente mal se conhece e você nem quer falar comigo, mas seria uma forma de me redimir. E você pode mandar uma mensagem do seu celular avisando a alguém que está voltando comigo e pode dar a placa do carro como segurança... Pode enviar sua localização também.. ~Pedi com um sorriso esperançoso.

Eu poderia esperar o ônibus passar mas pelo visto ainda demorar muito e olhando aquele garoto não conseguia ver maldade nenhuma em suas palavras ou em suas ações.
 
Resolvo aceitar a carona.

Faço que sim com a cabeça e ele abre a porta do carro para mim. Assim que entro já vou enviando minha localização para Laura, já que para meu namorado era impossível, pois o mesmo tinha evaporado da terra.

Gustavo entra e pedi para eu coloque o cinto enquanto ele faz o mesmo. A chuva aumenta mais e percebo que começo a tremer de frio.

-Toma esse casaco, Luz. Você está encharcada por minha causa, e não quero que adoeça. ~Ele diz estendendo um casaco jeans azul em minha direção.

Eu retenho em pegar mas o frio que sentia tanto que resolvo aceitar.

O garoto sorri olhando a pista atentamente como se sentisse orgulhoso em me ajudar.

-Então não vai falar nada comigo mesmo? ~Quebra o silêncio mais uma vez e óbvio que eu não respondo.

-Sabe Luz? Hoje não foi um dos meus melhores dias. Primeiro meu pai resolve me tirar da faculdade da minha cidade e me transferir para cá onde eu não conheço ninguém, tudo por puro capricho dele. Depois eu derrubo meu celular na piscina da minha casa enquanto arrumava o cadarço do sapato. E para piorar espirro água em uma moça que nem ao menos dirige a palavra a mim. É, não sei se meu dia pode piorar. ~Fala rindo de si mesmo.

Ele parecia ser atencioso e brincalhão mas acima de tudo bem atrapalhado. Nego com a cabeça prendendo o sorriso e o resto da viagem é leve e nada desconfortável.

Alguns minutos depois paramos em frente a faculdade e percebo que a chuva já havia diminuído.

-Uau! Essa faculdade até que é bem bonita, hein?~Ele diz admirado enquanto tiramos o cinto de segurança.

-É isso, está entregue senhorita. ~Ele fala passando o braço por mim para abrir a porta no meu lado.

Nessa hora vejo a porta do lado dele ser aberta com tudo e alguém puxa Gustavo de dentro do carro dando socos nele que como não esperava a ação acaba caindo no chão.

Assustada saio rápido do carro em uma tentativa de ajudar. Mas o que eu não esperava era ver que quem estava batendo em Gustavo não era um alguém desconhecido.

A Muda (COMPLETO)On viuen les histories. Descobreix ara