O Reino Escondido | original

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Apesar de Courtney ser uma pedra 90% do tempo, ele sempre fora mais apegado à ela do que à própria irmã gêmea, disso não tinha dúvidas. Quando eram menores, na época em que o acidente ainda não havia acontecido, enquanto todos viam Courtney como a garota burra que não ia bem na escola, Aiden a via como o gênio dotado de talento por trás de suas pastas e pastas com folhas e mais folhas rasgadas de caderno, todas preenchidas com os traços finos, cuidadosos e precisos de sua lapiseira 0.5, acompanhados de sua assinatura delicada, sempre no canto superior esquerdo acima dos desenhos dignos de uma perita. Enquanto todos a viam como a garota abrutalhada, pejorativa e ríspida, a sua convivência com ela o permitia perceber seu verdadeiro eu, sua personalidade sensível, afável, e até mesmo gentil.

    Aiden tomou um susto.

— Courtney... — ele tocou de leve seu queixo, um pedido silencioso para que ela olhasse para ele. Quando ela o fez, um sensação desconhecida o dominou. Os cantos de seus olhos estavam vermelhos e inchados. Estava chorando? Não, não podia ser. Courtney simplesmente não chorava.

Ela havia se deixado ceder a algumas lágrimas no velório de seus pais, e ainda se justificando com o clássico "Entrou um cisco no meu olho". Fora a primeira vez que Aiden presenciara a irmã em prantos e, na época, pensou que seria a última. Para falar a verdade, o assunto não lhe havia ido à cabeça nenhuma vez desde então, e ele estava transtornado demais no dia do acidente para se preocupar com algo tão banal.

Aquele brilho no olhar de Courtney havia desaparecido. Aiden a chamou novamente, tentando decifrar sua expressão distorcida pelas lágrimas. Chegou a se questionar o que seria tão forte a ponto de abalar Courtney. Angústia? Solidão? Desespero? Saudade? Tristeza? Ele não fazia ideia.

Como se estivesse lendo seus pensamentos, a garota se explicou:

— Nós a perdemos, Aiden — ela fez uma pausa para soluçar e penetrar o olhar no dele. — Perdemos Mellie.

— Isso não é verda...

— É sim — Courtney o cortou. — Você sabe que é. A única de nós que se salvava era Mellie, e agora... Ag-gora... — sua voz saía entrecortada, a respiração ofegante não a permitia concluir as falas.

Aiden não sabia como agir, foi quando percebeu que deveria haver algum tipo de curso preparatório, com instruções do quê fazer quando sua irmã impassível desabasse em lágrimas. Tateou a pia atrás de si à procura de algo, sacando o primeiro objeto que encontrou. Papel toalha. Ele o ofereceu para Courtney, imaginando se a cena soava tão ridícula quanto em sua cabeça.

Como que em resposta, ela jogou o rolo de papel no chão.

— Ela só tem onze anos, Aiden! — berrou, levando as mãos à cabeça. Podia jurar que o grito fez o casebre precário tremer. Apesar de citar seu nome, sabia que a irmã estava falando mais consigo mesma do que com ele. À cada segundo que passava, mais Courtney delirava, e mais confuso Aiden ficava.

— Mellie é esperta, estrategista, cuidadosa e concentrada. — ele tentou.  — Um verdadeiro gênio, e só nós sabemos o quanto é madura para a idade. Isso não é nada para ela. Tente se acalmar, ok?

— Me acalmar??! — Courtney explodiu. — Como você me pede para me acalmar, seu... idiota? — mas sua entonação sugeria que ela procurava uma palavra mais forte do que "idiota". — Você não percebe, Aiden? Eu sou a mais velha. Sou eu quem supostamente deveria estar cuidando da família. Eu fui péssima. Como eu pude largar todos vocês aqui por dois anos para sair em busca dessa... Dessa vaca dessa Escolhida?!