- Ele não me balança - respondera a mãe, sem rodeios. - Às vezes isso acontece.

Julie, que na época tinha 8 anos, assentiu, perguntando-se onde ficava o parquinho com o balanço e por que nunca o vira.

Anos depois, enfim percebera o que a mãe quisera dizer e, ao olhar para Richard segurando seu pé, lembrou-se dessa expressão.

Richard a balançava?

Julie sabia que deveria balançar. Deus sabia que ela provavelmente não encontraria ninguém melhor, pelo menos não em Swansboro. Richard tinha todas as qualidades de um homem adequado, mas mesmo agora, depois de quatro encontros românticos e de terem passado muito tempo juntos, subitamente Julie percebeu que ele não a balançava. Isso a deixou com a sensação de estar presa no fundo de uma piscina, mas não podia negar que, fosse o que fosse que unisse os casais - química, magia ou uma combinação de ambas -, não existia entre eles. Richard não lhe provocara os arrepios no pescoço que ela havia sentido quando Jim pegara pela primeira vez em sua mão. Não a fazia ter vontade de fechar os olhos e sonhar com um futuro juntos. E Julie tinha certeza de que não passaria o dia seguinte num estado de enlevamento romântico. Os encontros que Richard planejava eram fabulosos, porém, por mais que Julie quisesse que fosse diferente, a única certeza que tinha em relação a ele era a de que parecia um homem bom... o tipo de homem perfeito para qualquer mulher.

Às vezes isso acontece, dissera sua mãe.

Julie se perguntou se parte do problema era que ela estava tentando apressar seus sentimentos. Talvez precisasse de algum tempo para as coisas se tornarem mais fáceis e confortáveis. Afinal de contas, seu relacionamento com Jim demorara bastante para deslanchar. Depois de mais alguns encontros talvez ela pudesse olhar para trás e se perguntar por que tinha sido tão esquiva, certo?

Ao escovar os cabelos diante do espelho, Julie considerou isso. Talvez. Então, pousando a esposa, pensou: sim, deve ser isso. Só precisamos nos conhecer melhor. E em parte a culpa é minha. Eu que estou na defensiva.

Embora ela tivesse falado horas com Richard, a maior parte de suas conversas tinham sido superficiais. Sim, um sabia das coisas óbvias a respeito do outro. Mas Julie não tinha ido muito além. Sempre que o passado havia surgido na conversa, dera um jeito de evitá-lo. Não chegara nem a falar para Richard quão difícil fora seu relacionamento com a mãe, quão inquietamente fora ver homens entrando e saindo da casa dela a qualquer hora e como se sentiu desolada saindo de casa ainda tão jovem. Nem do medo que sentia quando vivia nas ruas, sobretudo tarde da noite. Ou do que sentiu após a morte de Jim, quando se perguntou se algum dia encontraria forças para seguir em frente. Essas eram lembranças difíceis, que deixavam um sabor amargo quando verbalizadas. Parte de Julie ficava tentada a dividi-las com Richard, para que ele a conhecesse de verdade.

Mas não fez isso. Por algum motivo não conseguiu. E notou que Richard não falou muito sobre si mesmo. Também tendia a evitar o passado.

Porém, no fim das contas, não era a isso que tudo se resumia? A capacidade de se comunicar, se abrir, confiar? Isso estava presente no relacionamento com Jim não conseguia se lembrar do que surgira primeiro: os arrepios na nuca ou todas aquelas outras coisas.

O toque do telefone interrompeu suas reflexões. Quando foi atendê-lo, Singer a seguiu até a sala de estar.

- Alô?

- Então, como foi? - perguntou Emma. - Quero saber tudo. não me esconda nada.


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O GuardiãoWhere stories live. Discover now