Capítulo Dois

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Eu me lembro daquele dia como num estalar de dedos, por que aquele dia foi o pior - porque fui informada por minha melhor amiga, Katherine mais conhecida como Kate que eu iria me casar -, e também o melhor dia da minha vida - porque eu conheci você.


Naquele dia eu estava atrasada demais para ouvir as conversas fiadas de Kate, e por mais que eu gostasse dela as vezes ela é irritante e se estiver lendo Kate, me desculpe porque eu realmente estou sendo sincera, mas parei de caminhar assim que escutei as quatro palavras saírem de sua boca.

- Você vai se casar!

Aquele foi o momento em que tive mais raiva de meus pais, porque apesar de quererem que eu fosse a filha perfeita, a melhor aluna na faculdade de Literatura Inglesa, - que por muita insistência eu pude fazer -, a que aceitava tudo e ficava de boca fechada, eu sempre aceitava tudo o que eles opunham para mim.

Mas assim que eu atravessei a porta de supetão, assustando tanto a minha mãe quanto meu pai, eu tive a certeza absoluta de que eu não iria cair no jogo deles.

Porque eu estava cansada de ser perfeita em tudo.

- Por que fizeram isso? - eu perguntei totalmente possessa para meus pais que ainda me encaravam assustados, mas que depois de alguns segundos e aquele olhar me enojou.

Eles tinham orgulho, tanto orgulho de mim e acharam que eu me submeteria a esse teatro, porque sim, era um teatro em que eu era a protagonista, a que tinha que

fazer exatamente como era mandado.

- Por quê? - perguntei novamente, e olhei para os dois que ainda continuavam calados, e assim que minha mãe abriu a boca para falar eu realmente havia achado, naquele momento, que ela iria me apoiar e que essa ideia maluca de casamento não era válida.

Mas eu estava enganada!

- Filha, nós precisamos...

Assim que as palavras saíram de sua boca, eu tapei meus ouvidos assim não podendo escutar o que ela estava falando, porque e não queria, em hipótese alguma, ouvir a voz dela.

Eu estava sendo infantil, mas se você estivesse em meu lugar Christian, faria o mesmo? Bom eu não sei, porque realmente naquele momento, naquele instante, eu não pensava com clareza, eu estava completamente perdida em meus devaneios e quando percebi, havia saído de casa.

Nada me incomodava, nem a chuva forte que me atingira, nem os trovões que ecoavam no céu e que freqüentemente costumavam me assustar.

Nada.

Eu não sentia, eu não ouvia, e nem mesmo a sua voz que me chamava eu conseguia escutar, e por mais que hoje, dois anos depois daquilo tudo, eu quisesse escutar ela novamente, isso não seria possível porque ainda não construíram uma máquina do tempo.

- Senhorita! - você gritou para mim novamente, pois na primeira eu nem sequer escutei, e chegou mais perto de mim me pegando pelos ombros e me chacoalhando fortemente e por fim eu acordei e me perdi em seu olhar.

Era de um cinza profundo, tão intenso e tão brilhante que me fez ofegar diante daquela vista.

- Senhorita! - e mais uma vez eu pude escutar a sua voz, tão perfeita e tão nítida que eu ficaria calada novamente só para escutar ela mais uma vez. Mas se eu fizesse

aquilo naquele dia, qualquer forma de vê-lo novamente seria nula.

Por mais que eu estivesse errada, porque aquele seria um de nossos infinitos encontros.

- Estou bem! - consegui falar pela primeira vez e vi seu rosto preocupado se transformar em um rosto aliviado, sorri timidamente ao perceber que naquele momento a chuva cessara e nós ainda estávamos ali, parados olhando um para o outro.
- Você precisa se aquecer! - disse você, passando as mãos ao meu redor, me
aquecendo de uma forma que só você sabia fazer.

Nossas roupas estavam encharcadas, então você me levou até seu apartamento e me deu roupas femininas que eram de sua irmã, mas que no momento achei que era de sua namorada e só depois de, muito timidamente, perguntar se você tinha um relacionamento.

Os dias se passaram tão lentamente para mim que eu sequer conseguia me conter, porque depois de somente uma semana eu pude ver você novamente. Estava sentado em uma cafeteria, num canto mais afastado do local e parecia muito pensativo e distraído.

Eu queria saber o que você estava pensando, de o porquê estar tão distraído, e eu queria, queria muito que você estivesse pensando em mim tanto quanto eu estava pensando em você. Não tive coragem de me aproximar, e então quando seu olhar se levantou e se encontrou com o meu você deu aquele sorriso torto que se tornou o meu favorito, foi o estopim para mim.

Minhas pernas pareciam ter ganhado vida, porque quando eu vi já estava parada na sua frente e meu rosto estava quente, muito quente, aliás.

- Olá estranha! - sua voz divertida e suave se tornou uma melodia para mim, sorri timidamente ao ver seu sorriso torto aumentar ainda mais, e naquele momento eu quis saber o porquê de estar rindo, mas hoje esse sorriso era a minha única lembrança.

A única lembrança de você realmente foi real.

- Olá estranho! - devolvi timidamente e sorri verdadeiramente para você que até então me encarava como se quisesse realmente me desvendar, como se quisesse me conhecer tanto quanto eu queria conhecer você.

Você indicou á cadeira mais próxima para eu me sentar, e dali em diante, naquela conversa de vai em vem eu realmente conheci seu medos, conheci fundamente o verdadeiro você.

Nos dias que se seguiram, os nossos encontros foram se intensificando e se tornando coincidência demais, porque sempre encontrava você nos lugares mais inusitados, como na biblioteca, como num restaurante italiano que a minha mãe fez questão que eu fosse com ela, porque meu pai tinha muitos assuntos a tratar sobre o meu casamento, ou naquele momento meu noivado, como na mesma cafeteria que nos encontramos pela primeira vez desde que você me tirou da chuva e me acolheu em seu imenso e perfeito apartamento.

Aquilo tudo não passava de uma imensa coincidência que hoje eu daria de tudo para ter novamente, porque eu queria vê-lo, queria tocá-lo, mas sabia que você não iria me perdoar, porque em um dos nossos encontros você dissera que o que mais odiava em uma pessoa era a mentira.

E eu mentira para você da pior forma, e hoje eu sei que o que fiz nunca teria perdão.

Ah, como eu queria voltar atrás.

Cinquenta Tons De IncertezasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora