– Posso pedir para o George passar aqui – Disse inocente.

– Ele é funcionário da empresa, não é mais meu motorista – Nisso ele tinha razão.

– Como se isso fosse algum empecilho – Peguei meu celular e liguei para George, em 30 minutos ele estaria aqui.

– Obrigado Gabriel, eu não sei nem por onde começar a agradecer – Dava para ver que ele estava muito sem jeito.

– Sem querer ser grosseiro, mas poderia mesmo tomar um banho. Tem toalha limpa no banheiro, pode pegar qualquer uma.

Ethan assentiu e eu lhe indiquei a porta. Meu banheiro foi reformado recentemente e quando comprei o apartamento ele ainda tinha cheiro de tinta. A bancada de granito tem uma cuba alta e o armário tem uma porta basculante. Tem um nicho na lateral onde eu deixo sempre dois pares de toalha de banho e rosto.

Qual é? Tá, admito que comprei uma ou oito revistas de design de interiores para tirar ideias de como mobiliar, decorar e arrumar minha casa. Quem sabe um dia eu não pague um profissional de verdade para melhorar o lugar?

Enfim, enquanto Ethan tomava banho eu fui até meu guarda-roupas. Nós temos praticamente a mesma altura, eu tenho 1,78m e ele tem 1,82m. Peguei um conjunto de moletom que comprei para malhar e nunca usei, separei uma samba-canção que estava na embalagem ainda e deixei sobre minha cama.

Voltei para a sala e recolhi o lençol. Eu aprendi a apreciar vinhos e é praticamente a única coisa que eu bebo, mas espero jamais feder a álcool daquele jeito. Enquanto eu pensava em técnicas para higienizar meu sofá recém maculado, Ethan sai do banho.

Eu só o encarei por um único segundo, mas pareceu uma eternidade. Ele estava com a toalha preta enrolada na cintura, os cabelos castanhos ainda um pouco molhados faziam algumas gotas caírem e escorrerem em seu peito e provavelmente costas.

Sempre soube que ele fazia exercícios físicos, mas nunca imaginei que ele tivesse aquele corpo todo definido. Eu me matava de malhar e não tinha um abdômen daqueles, que pode ser em parte culpa do cheeseburgers que eu tanto gosto.

Ele não era musculoso parrudo. Ele era definido, muito bem definido e em bom e velho português claro, gostoso pra caralho. Meu único segundo em slow motion acabou quando ele olhou para mim sorrindo e começou a falar.


– Esse banho foi muito bom, mas não tenho o que usar depois dele – Disse e eu briguei com todas as forças para falar algo em resposta.

– Deixei uma muda de roupa separada em cima da minha cama, pode usar meu quarto para se trocar. Fique à vontade – "FIQUE À VONTADE"? Sério Gabriel?

- Obrigado mais uma vez.


Eu queria evaporar e alguns minutos depois sai Ethan vestindo o conjunto e um par de chinelos brasileiros. Até de moletom ele me parecia sexy e estava começando a ficar feio para o meu lado.


– Esse conjunto ainda tem a etiqueta da loja, qualquer camiseta serviria – Disse Ethan meio desconfortável.

– Infelizmente meus sapatos são todos 9 e o senh... Seu número é 10,5. Quando chegou aqui ontem só tinha um pé de sapato, não sei onde ou como perdeu o outro.

– Tudo bem, esses chinelos são bastante confortáveis para falar a verdade. Onde os comprou?

– Eles são bem comuns no meu país e algumas lojas aqui em NY os vendem. Custam bem caro por aqui, mas minha mãe sempre me manda alguns pares. Vou pedir para ela mandar uns 42.

– 42? – Me perguntou intrigado.

– A numeração no Brasil é diferente.

– Sente falta do seu país? – A pergunta me pegou desprevenido.

– Sinto falta das pessoas que ficaram, da minha família, mas não sinto falta do país em si. A vida lá é muito difícil e por mais que eu tenha sido criado no Méier eu nunca me adaptei ao calor.

– Méier? – Seu sotaque americano fazia soar como "Mayer".

– É um bairro na cidade do Rio de Janeiro.

– Como você trabalhou para mim por dois anos e eu sei tão pouco sobre você? – A pergunta era mais para ele mesmo do que para mim.

– Sou bom no que faço sen... Ethan. Minha função era ser invisível e fazer com que sua vida funcionasse de forma perfeita.

– Profissão ingrata – Concluiu.

– Para mim foi uma honra e um aprendizado muito grande e fora que sem esse emprego nós não estaríamos aqui. O cheque de 5 mil dólares que me deu virou praticamente tudo o que tem na cozinha.

– Ainda falta algo no seu apartamento? Gostaria de retribuir o favor dessa noite de alguma forma.

– Não precisa. Tenho mais do que preciso, menos do que gostaria e o suficiente para ter uma vida confortável – Meu celular apitou – George já está aqui.

– Acharei uma forma de te compensar pelo inconveniente que causei – Disse outra vez.

– Não precisa, não fiz nada demais.


Ethan ainda resmungou um pouco enquanto nos dirigíamos até o carro e eu insisti que deixasse as coisas de lado. Quando George saiu de vista com o carro, voltei para minha cama.

Não consegui dormir e toda vez que tentava a imagem de Ethan enrolado na toalha vinha na minha cabeça. Comecei a sentir raiva de mim mesmo e peguei um livro para ler. Precisava de distração.

Fiquei a manhã toda largado em casa, o instinto de pedir um delivery qualquer foi bruscamente interrompido pela imagem do corpo escultural de Ethan. Precisava começar a me alimentar melhor.

Reuni vergonha na cara e fui fazer compras, comida de verdade. Peguei o metrô e fui até uma região da cidade com vários mercadinhos e lojas que vendem produtos orgânicos, hidropônicos, sem glúten, sem açúcar, sem lactose, ou seja, sem gosto de nada.

Depois de voltar para casa com muitas frutas, legumes e verduras, preparei uma super salada colorida, com vinagre balsâmico e encomendei um peixe grelhado de um restaurante China que é muito bom.

Assisti TV, vi filmes e ainda encontrei disposição para ir para a academia. Cheguei em casa e cama, queria dormir bastante para voltar à rotina no dia seguinte.

Uma pena que meu subconsciente não tinha ainda desligado a imagem do meu ex-chefe de toalha e eu tive sonhos esquisitos e até meio pornográficos a noite toda. Acordei para trabalhar mais quebrado que arroz de terceira.

Sem ter muitas opções do que fazer, sai da cama no horário habitual, tomei um banho e fui encarar mais um dia de trabalho. Quando encarei Natasha ao sair do elevador eu sabia que outra fofoca estava pronta para cair no meu colo.

O Assistente (Romance Gay)Where stories live. Discover now