Prólogo

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Bom domingo! O prólogo é pequenininho, mas os capítulos serão maiores, eu prometo! Estou ansiosa pela opinião de vocês!!!


Antes do Fim

Eu jamais me esquecerei daquela cama.

Não é a estrutura de ferro, com a cabeceira em um arco enferrujado, que chamou tamanha atenção de meu cérebro a ponto de torná-la inesquecível. Nem mesmo os lençóis velhos e amarelados, mal lembrando a época em que já foram alvos. E sim aquela que estava deitada em cima da cama.

Ela quase parecia angelical. Os cabelos castanhos caiam ao seu lado, lisos como sempre foram, sem nenhum fio fora do lugar. Os olhos castanhos claros, estavam abertos e pareciam fitar o buraco na parede que eu havia feito quando tinha sete anos. E sua boca, estava fechada e levemente curvada, como ele ela tivesse tentado sorrir.

Porém seu vestido, o seu preferido, branco e acetinado, com uma leve camada de renda na parte superior e alças finas e peroladas, era o que dava o ar macabro do ambiente. Pois o peito antes adornado e muito bonito, agora havia sido manchado, pelo sangue que saia de seu coração.

A Faca, que ontem mesmo eu a havia visto manusear na cozinha, enquanto cortava uma carne, para fazer a sua famosa carne de panela que meu pai tanto gosta, estava em sua mão, manchada por seu sangue, mostrando que era culpada pelo ferimento em seu peito e que minha mãe a havia manuseado com a mesma maestria de ontem.

Mas não cortava carne para fazer o almoço. Ela cortava o seu coração, e com esse ato, cortava o meu junto.

***

A aula havia sido chata. O professor Becker tinha nos obrigado a fazer uma conta que havia me feito riscar toda uma página do meu caderno. Eu quase havia  fritado meu próprio cérebro no processo.

Nataly, minha melhor amiga, mexia em seu celular, enquanto eu tentava em vão colocar toda aquela chatice em meu cérebro e fazê-lo gravar de maneira que eu pudesse saber exatamente o que responder no exame final. Claro que eu não poderia dar-me o luxo de conversar no WhatsApp enquanto o professor passa a matéria, já que ao contrário de Nataly, não moro no Upper West Side, e meus pais não tem uma conta bancaria suficiente para comprar esse colégio. Sou apenas uma bolsista em busca de notas boas o suficiente para me transportar para uma boa faculdade. Por isso, me mato no grupo de ciências, pensando em conseguir um passaporte de lá, para a realização dos meus sonhos. Já que claro, não tenho talento o suficiente com a dança para conseguir uma bolsa nesse departamento.

Até porque meu pai me mataria se soubesse que eu gosto de dançar.

Certa vez, enquanto eu assistia um programa de dança na TV, onde uma garota dançava uma dança um pouco mais... Recatada, digamos assim do que a que eu pratico, meu pai mudou de canal dizendo que aquilo não era programa de garota de família assistir.

E ainda por cima, depois de levar uma bronca, citou isso na saída da igreja quando o pastor Roger nos acompanhava até nossa casa. Lembro de olhar para o pastor Roger e vê-lo piscar para mim, logo depois de balançar a cabeça negativamente de maneira quase imperceptível.

Tive que reprimir o riso, já que a surra que levaria em casa, não compensaria a gargalhada que sairia da minha garganta. O Pastor Roger, novo demais para um pastor, com seus vinte e poucos anos de idade, não compactuava com os pensamentos extremistas do meu pai. Segundo ele, Deus era amor para com seus filhos, ele não era um juiz com um martelo na mão pronto para nos condenar por qualquer coisa que fizermos de errado. E também, queria a felicidade de seus e não privá-los de coisas que os pudesse lhe trazer uma alegria sadia.

Naomi - Do Fim ao ComeçoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora