2. Paraíso da Perdição

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Samuel desceu do carro olhando o letreiro em neon da boate, vendo aquela figura feminina abrindo e fechando as pernas repetidas vezes de acordo com a transição de luzes. Ao lado da figura, o nome da boate: Paraíso da Perdição.

— Te prepara, Sam — disse seu amigo Elias saindo do volante do carro. — Hoje você vai conhecer o paraíso.

Samuel tentava esconder o nervosismo, mas era aparente seu desconforto. A "surpresa" preparada por Elias era leva-lo a uma boate de strippers?

— Que porra é essa, Elias?

— Uma igreja é que esse lugar não é.

— Podia ter me avisado antes, pô.

— Você ia se cagar todo e inventar uma desculpa pra não vir.

— Porra, Elias...

— Se não gostou eu dou meia-volta e te deixo em uma boate gay, que parece ser mais tua praia.

— Eu estou sem grana, pô.

— É por minha conta.

Elias deu um sorriso confortante e um tapinha nas costas do amigo. Samuel não podia pedir pra ir embora, ia pegar mal pra ele, ainda mais com Elias bancando tudo. Além do mais, por que não?

O segurança pediu as identidades dos dois antes que comprassem os ingressos. Samuel mal conseguiu encarar o gigante: tinha mais de dois metros e uma cicatriz enorme no rosto. Ainda bem que tinha dezenove anos, pensou. Não queria ver a reação daquele monstro caso ainda fosse menor de idade. Cada um recebeu na recepção um cartão eletrônico.

— É nossa comanda — explicou Elias para Samuel. — O cartão de créditos para usar aqui dentro. A gente paga tudo na saída. Ao final das contas é tudo no dinheiro vivo aqui.

Mal entraram, já foram dominados pelo jogo de luz e pelo som psicodélico tocado pelo DJ.

— Eu ouvi falar que esse tipo de música mexe com o organismo e funciona como droga, sabia?

— Nem precisava — Elias mexia-se de acordo com o ritmo da música. — Tem tanta droga rolando por aqui que a música é só um aperitivo.

O ambiente era decorado com o tema "paraíso", com Adão e Eva espalhados pelas paredes em posições sexuais bem lascivas. Em um dos desenhos, Eva enfiava a serpente entre as pernas. Havia um enorme palco com um ferro no meio, onde uma stripper dançava e tirava a roupa peça por peça; ela usava uma fantasia rosa de coelha com orelhas pontudas. Vários homens estavam próximos ao palco gritando com cédulas na mão. A "coelhinha" agachou-se de costas e um dos homens pôs várias notas em sua calcinha, dando-lhe em seguida um beijo na nádega.

— Olha lá a galera — mostrou Elias dirigindo-se à mesa onde estavam dois rapazes.

Assim que os dois viram Samuel entreolharam-se incrédulos, depois olharam para Elias.

— Você convenceu o virgem a vir pra Paraíso da Perdição? — disse o mais alto e gordo dos dois, Alcides.

— Virgem o caralho, Cidão — Samuel defendeu-se se sentando. — Já tive namoradas.

— Namorada. Singular — corrigiu Agenor, o de cabelo amarrado em rabo-de-cavalo. — Você teve uma experiência com aquela crentezinha da Renata.

— O Agenor tem razão, Sam — Elias concordou acendendo um cigarro. — Você namorou quase um ano com ela sem absolutamente nada de sexo.

— Ela que não queria — defendeu-se.

Arlequim [completo]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora