12-Moonbean

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Acordo com dores nos pés e frio nos mesmos. Ontem cheguei tão cansada do trabalho que caí em cima da cama mesmo destapada. Claro que agora estou eu aqui sentada à olhar para a janela, porque nem o sol acordou. A lua fixa-se na minha janela e eu fixo os meus olhos nela. Nem sequer está cheia mas transmite uma luminosidade incrível. Está a brilhar com tanta intensidade que até consigo ver o pó a manifestar - se no meu quarto, espalhando - se por lugares escuros e escondidos.
Esta imagem lembra - me o rapaz. O rapaz da ponte, o rapaz do café e não sei se devia estar a pensar noutra pessoa. Pensando bem, ele anda sempre sozinho. Talvez eu consiga animá-lo com uma parceira ou parceiro. Talvez assim eu o salve. Se é que ele precisa da minha salvação.
Desde que sou cupido sinto-me obrigada a salvar pessoas. Quase nem me lembro da minha vida antiga. Será que tive alguma tartaruga? Será que gostava da cor amarelo? São coisas desse género que não se fazem notar na minha memória. Acho que só retirou o principal, ou pelo menos, o que eu queria reter.
Agora deito - me na cama, puxado os lençóis para cima para me cobrir mas fico acordada, a olhar para a lua e ela a olhar para mim.
Consegui adormecer a contemplar a sua forma e acordei passado umas 3 horas. Os meus pés ainda me doíam mas era já uma dor menor.
Decidi passear um bocado pela cidade, apreciar a madrugada.
Desci a avenida e vi um carro cinzento que me era familiar, parecia estar num cantinho da minha memória. Co tudo não liguei, de certeza que não é um carro único e já o devia ter visto numa publicidade.
Quando cheguei ao café esta já estava aberto.
Owen estava a lavar uma chávena, devia ter acabado de beber o seu chá como fazia todas as manhãs.
Mal notou a minha presença olhou para mim e mostrou me o seu sorriso caloroso e reconfortante. Tenho a ideia de que ao pé dele me sinto mais segura. Parece que estou protegida. Acho que isso é bom certo? Pelo menos uma coisa boa nesta nova vida.
-Bom dia!!
-Olá- disse enquanto me dirigia aos cacifos para trocar de roupa.
Fi-lo e voltei para ao pé dele. Ainda não tinha chegado mais ninguém do staff e o café estava deserto a estas horas numa quinta feira.
-Conseguiram sobreviver sem mim ontem?
-Acho que sim, toda a gente está intacta e não houve nenhuma queixa.
Ele fez uma pose dramática e logo a seguir disse:- Ai, já não sou necessitado neste mundo frio.
Uau ele conseguia ser tão totó e encantador ao mesmo tempo. Era da risada, ou das piadas ou do tom de pele ou dele mesmo como pessoa. Ninguém desgostava dele. Era uma tarefa difícil agradar a todos e não sei como é que ele consegue.
-Hey-disse- chegaste a ver a lua hoje?
Ele olhou para mim com um ar estranho mas eu prossegui.
-Estava muito forte mas parecia gentil, aparentava ser fraca mas mostrou o contrário. Como é que algo tão natural tem tantos mistérios?
Ele riu-se. Depois disse:
- Como é que tu consegues ter tantos mistérios?
Olhei para ele séria e disse:
- Da mesma maneira que tu consegues ser adorado por quem tu és.
Ele não percebeu, ou pelo menos fingiu.
Afastei - me dele e fui preparar o balcão.
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Está na hora do lanche e os nossos clientes habituais já estão presentes. Está toda a gente a ser atendida então fui para os cacifos relaxar um bocado.
Até que chamam pelo meu nome.
-Hey Diana vem atender estes senhores por favor!
-Vou já!
Levo o meu caderno de notas e caneta e dirijo-me ao balcão.
Quanto mais me aproximo começo a ver pessoas familiares. Aproximo-me e as pessoas são demasiado familiares até. Vejo com clareza as suas caras e apercebo - me que são família.
A minha família.
Deixo cair a caneta e o bloco enquanto olho para a cara da minha mãe, cansada, descuidada e à beira de lágrimas. O meu pai já tem mais cabelos brancos e rugas mais profundas. Já no mostra o seu sorriso e a sua camisa está amarrotada.
Olho para eles e não me consigo aguentar em pé. Apoio - me ao balcão e o Owen vem a correr para me segurar.
-Eu estou bem podes ir.
-De certeza? Sussurramos os dois.
Eu simplesmente aceno com a cabeça.
- A senhora está bem?-pergunta me ela, a sua voz ainda chega ao meu coração, ainda me transmite calor só que neste momento arrancou-me metade dele.
-Estou ótima peço desculpa - digo com a voz a tremer.
Ela dá o seu sorriso mais fraco e o meu pai imita-a. Vê-se solidão nos seus olhos.
A minha mãe limpa a garganta e exuga as lágrimas com as mãos.
- Desculpe perguntar, mas a menina é nova aqui?
Arranjo coragem e respondo:
-Sim, comecei recentemente. Costuma vir aqui?
Por favor diz que não...
-Agora estamos aqui com mais frequência - responde o meu pai seguro.
-Sim, é verdade faz - nos recordar os tempos com a nossa...-A foz dela desafina e ela deixa de falar.
Por favor não. Não me digam que ainda estão mal por minha culpa. Por favor esqueçam - me. Façam do que for preciso pra me ultrapassar. Por favor, vivam.
Ela recomeça:
-Sabe, você tem o mesmo nome que ela... e parece ter a idade que ela teria neste momento.
-Lamento imenso - digo eu curvando a cabeça.
-Obrigada, devo estar a aborrecê-la com esta história.-diz ela a sorrir. Ela sempre soube esconder as lágrimas. Já quando eu era criança Aproximei-me do fogão e ela pôs a sua mão à minha frente para eu não me queimar e depois foi ela que ficou queimada. Ela disse que estava tudo bem e abraçou - me enquanto que tinha dor nos olhos.
-Muito pelo contrário - disse.
Ela olhou para mim e sorriu - me.
O meu pai moveu os seus olhos para mim e agradeceu - me.
Se calhar a mãe não falava disto com mais ninguém. E o pai sempre foi muito reservado. Era ele que me ensinava a história do universo, as lendas gregas e os seus deuses. Devo a ele todo o conhecimento e simpatia que tenho. Porque ele também me ensinava maneiras. Calmo e paciente e fascinado comigo. São ambos excelentes pais e merecem muito melhor.
Passado um momento pediram as suas bebidas e sentaram - se numa mesa. A minha mãe olhou para o vazio enquanto o meu pai lhe segurava a mão. Ela olhou nos olhos dele e sorriu. É bom saber que ainda se amam.
Depois de lhes levar as bebidas fui para a zona dos cacifos e enrolei - me num canto, estava prestes a explodir. Queria gritar e chorar mas só me saiam gemidos fracos e baixos.
Corrigi a minha compostura e fui para o balcão, de garganta arranhada. Os meus olhos estavam vermelhos mas eu não tinha chorado, contudo tinha esfregado os olhos para ver se saía alguma lágrima. O que não aconteceu.
Estava no balcão a respirar fundo e eles vieram pagar a conta.
-Muito obrigada.-suspirou a minha mãe. Enquanto o meu pai me mostrou um sorriso.
Eu não consegui reagir então simplesmente acenei com a cabeça e disse:
-Voltem sempre.
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Peço imensa desculpa. Tive de me ausentar por razões médicas e ainda n estou a 100% e a escola não ajuda. Co tudo espero que tenham gostado deste capítulo por favor votem e comentem as vossas críticas ou opiniões.

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