Capítulo 4- Não Olhe Para O Passado

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Olha o Unidos do Marquês , chegando aí! Com mais um capítulo fresquinho de bônus!
Divirtam-se , minhas ciganas!
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FRANCESCO

Seis anos depois.


  Voltava da cidade para resolver alguns assuntos da fazenda quando avistei na porteira Zé Feitiço sentado num mourão fumando seu cigarro de palha. Aquela cena só significaria uma coisa, tratava-se de uma visita para mim. Fui descontinuado o cavalo e dispensei a companhia de Clóvis que prosseguiu para sede.
_ Tarde senhorzinho.
_ Tarde Zé.
_ O senhor teria um minuto. Para um dedo de proza?
_ O que você quer?
_ É sobre aquele assunto que o patrão me pediu.
_ Toque seu cavalo para o rio. Vou aguarda-lo lá.
Muitas coisas haviam mudado drasticamente em minha vida desde aquele tombo. Consegui afastar Ismael de Enola e da fazenda por muito tempo. Ele foi mandado para um Reformatório para delinquentes, foi a alternativa que meu pai deu a Pedro Bispo para não denuncia-lo por tentativa de homicídio, para Enola ele foi para casa de sua avó,  regressaria naquele semestre, pois a velha havia falecido. Por um pedido de madrinha, que eu não poderia recusar, permiti o seu regresso.
Minha relação com Enola se fortaleceu ao ponto de pedir sua mão em casamento, faltava pouco mais de um mês do evento, cerca quinhentos convites haviam sidos distribuídos para o creme de lá creme da sociedade mineira. Seriam três dias de festas regados a muita comida, bebidas e música boa, e eu não via a hora de passarmos um ano morando em Paris para começarmos nossas vidas embora fôssemos tão jovens. 
Papai se aproximou mais de mim a fim de mostrar como gerir os negócios da família assim como a fortuna de Enola que em breve seria mais minha que dela propriamente dito após o casamento no civil. O mais importante foi voltar a andar. Isto se deu a três fatores cruciais: Enola, minha vontade e ao ritual que contratei das entidades de Zé Feitiço. Não foi como um passe de mágica, mas com muito empenho que consegui o êxito em dois anos. Primeiro com andadores, depois muletas, bengalas e por fim sozinho, mas como herança ficou um mancar discreto em meu andar. No entanto, a aparição do feiticeiro certamente falaria sobre um assunto mais delicado. Apeei do cavalo deixando o animal solto bebendo água enquanto avistava meus alqueires de terras a perder de vista, até que senti a presença de Feitiço chegando por trás do meu ombro esquerdo. Virei-me sem paciência. Queria resolver logo aquilo.
_ O que foi desta vez? Eles precisam de mais dinheiro?
_ A espiritualidade não carece de seu dinheiro sinhozinho Frank.
_ Então o que é?
_ Não é possível ser feito.
_ Como assim não é possível ser feito? Você me deu garantias!
_ Não. Eu lhe disse que carecia assuntar a situação.
_ O que houve?
_ Não há caminho sinhozinho. Não tem passagem.
_ Do que você está falando preto velho? – cruzei os braços já irritado com o andamento da conversa.
_ O senhor me pediu para amarrar a senhorita Enola a suncê, não foi? Mas para uma amarração como essa ser feita o principal é ter caminho, ou seja, tem que ter no coração da sinhazinha um sentimento que possa ser usado para o feitiço ser realizado.
_ Você tem a petulância de vir me falar que Enola não me ama?
_ Ela ama sinhozinho.
_ Então qual é o problema?
_ Ela o ama como um primo, não é amor de homem e mulher. Sem contar que...
_ Que o que homem?
_ O sentimento dela.
_ O que tem?
_ Tem dono.
_ O que?
_ O senhor sabe. Não faça de desentendido! Eu lhe avisei há muito tempo atrás quando entrei naquele quarto que ela não é do seu caminho.
_ Que importa o que tenha dito. Faça o feitiço!
_ Como posso amarrar a moça se o coração dela pertence ao filho de Pedro Bispo?
Tomado pela notícia o agarrei pelo pescoço o empresando contra uma velha jaqueira. Quando dei por mim ele quase desfalecia, só então o larguei no chão esperando que recuperasse seu fôlego.
_ Em todos esses anos você tem feito coisas que a manteve comigo. Como agora vem ressuscitar esse filho da puta?
_ Sinhozinho... O que... O que  fiz foram adoçamentos. São encantos leves que como o próprio nome diz adoçam, amansam a pessoa. Mas não faz amar. Para isso tem que ter caminho.
_ Pois você não é o melhor mandingueiro da região? Dê seu jeito! Arrume um caminho ou a merda que for! Eu quero Enola amarrada a mim o quanto antes! Ouviu bem?
_ Sinhozinho Frank...
_ Ouviu bem Zé Feitiço?
_ Eu não posso lhe dar garantias como das outras vezes.
_ Faça o que for necessário. Pago o que me pedir. Só me procure para dar as boas novas.
Subi em Meia Noite disparando pela montanhas para aliviar minha mente daquela realidade. O augi da minha vida estava se iniciando eu não permitiria que a presença de Ismael colocasse seus pés sujos em meus planos perfeitos. A medida que Meia Noite cavalgava eu pensava em ir até às últimas consequências, eu o destruí uma vez sentado numa cadeira de rodas, agora de pé eu o retiraria de vez da face da Terra se necessário fosse. Eu faria tudo para ficar com Enola.
Ao me aproximar da sede, dava gosto em ver os criados pintando toda faixada da sede de branco com suas janelões azuis. Desci do cavalo entregando-o a Clóvis, e em seguida avistei Enola sentada debaixo de sua árvore predileta lendo mais um de seus incontáveis livros, parecia um anjo figurando a cor do meu céu. A cada dia estava mais linda, mais formosa e corpulenta. Meus instintos mais primitivos borbulhavam só para ela, apesar de já ser um assíduo frequentador do Fungado da Jiboia, o puteiro da cidade, dirigido por Maria Quenga.  Porém eu sabia que minha vida ao lado de Enola seria perfeita. Perdido em meus pensamentos fui brutalmente trago a realidade a voz de Pedro Bispo.
_ Patrão, uma palavrinha, por favor?
_ O que foi Pedro? – falei pondo-me a caminhar sem muita paciência.
_ Eu sei que o patrão está ocupado com os preparativos do casamento com a senhorita Enola, mas eu queria lhe pedir um favor.
Parei meus passos com a intuição gritando que ouviria o nome do  borra-botas mais uma vez.
_ Diga. – virando-me para ele.
_ Eu lhe sou muito grato por permitir a volta de meu filho. Mas eu queria saber se não há como deixar Ismael trabalhar aqui na fazenda comigo. Ele precisa de trabalho e a fazenda está precisando de mão de obra.
Mordisquei os lábios ajeitando minha fivela. Vi a necessidade estampada em seus olhos, apreciei isso. A melhor maneira de manifestar seu poder é abafando a voz de um medíocre. Mas haviam pós e contras. Lancei meu olhar sobre Enola que permanecia intacta em sua leitura, ponderei como mostrar a ela minha grandeza permitindo não só a volta como oferecendo o morto de fome comida em sua mesa. Julguei divertido imaginar que desde o sabonete ao pedaço de goiabada cascão que ele comprasse viria do meu dinheiro. Por outro lado, eu não queria correr riscos em facilitar a aproximação dos dois fosse em quaisquer esfera.
_ O que o senhor me diz?
_ Diga a Ismael que tome conta dos porcos. Da manutenção da alimentação a limpeza dos chiqueiros. – notei um desconforto na face do meu capataz – É isso ou nada Pedro Bispo. O que me diz? – sorri satisfeito.
_ Eu lhe agradeço Sinhozinho Muito obrigado. Com sua licença, vou voltar ao meu trabalho.
Segui sua caminhada até que sumisse na porteira que dava caminho para o estábulo. Abri os braços recebendo os raios do sol quando escutei Enola me chamando. Aproximei- me dela com uma margarida colhida no caminho. Eu gostava de mima-la.
_ Ah Frank... Quanta gentileza.
_ Tudo para arrancar mais um lindo sorriso seu. – disse ali, ajoelhado aos seus pés colocando a flor em seus cabelos cor de mel.
_ Você é sempre muito querido comigo. Às vezes acho que não mereço tanto.
_ Você merece sempre muito e mais meu amor.  – permaneci admirando seu jeitinho.
_ Como foi na cidade? Resolveu tudo?
_ Algumas dores de cabeça, mas nada que possa aplacar meu sentimento por você. – agora sentei-me ao seu lado abraçando-a, envolvendo seu corpo com meus braços, talvez essa fosse a mais forte das amarrações amorosas.
_ Que bom que tudo tenha dado certo.
_ A pintura não está ficando linda? Da para ver antes da ponte do riacho a imponência de Doze Cedros.
_ Com certeza. Está ficando divina.
_ Nosso casamento será perfeito Enola. A maior e melhor festança do último século das minas Gerais!
_ Você parece ter orgulho disso.
_ Claro que tenho. Você não? Sou o homem mais rico da região e terei como esposa a mais bela moça do mundo. Quem não teria?
_ Fico feliz com sua felicidade Frank. – naquele segundo lembrei-me do que Zé Feitiço me contara mais cedo.
_ Enola... Você me ama?
_ Que pergunta! – o modo como seu corpo se revolveu me mostrou algum desconforto – Eu te amo muito Frank.
_ Ama como?
_ Como assim? – enfim saiu dos meus braços olhando dentro dos meus olhos.
_ É uma pergunta simples. Ama como?
_ Somos cúmplices, parceiros, nos entendemos tão bem. Estou casando com meu melhor amigo.
_ Pensei que fosse com o homem de sua vida. – testando os limites dela.
Aquela conversa já havia existido muitas vezes e a reação de Enola era a mesma. Ela tentava consertar tudo da melhor maneira com seu jeito delicado sem me ofender.
_ Essa pergunta é por causa da volta dele Frank? - acenei que sim com a cabeça observando cada gesto seu – Ah Frank... – suspirando – Por que você insiste em olhar para o passado? Não vai me encontrar lá.
_ O que sente por ele Enola?
Ela levantou sem esconder a irritação da minha insistência.
_ Ismael foi um amigo. A primeira pessoa que me acolheu aqui. Frank, já cansei de repetir isso para você, casaremos nos próximos dias, o que mais você quer de mim?
_ Seu amor. Seu devotado amor.
_ Eu não sei mais o que falar. – abrindo as mãos – Parece que você tem sempre encontrar um meio de colocar Ismael entre nós. Eu não aguento isso. – dando as costas para mim abraçando o próprio corpo.
_ Desculpe Enola. Não queria te aborrecer.
_ Precisa parar com isso Frank. Se quer que possamos construir uma vida a dois, pare de trazer um terceiro elemento para ela! É desagradável demais!
_ Eu vi como você ficou quando ele partiu. Mal comia, falava ou dormia...
_ Eu era uma menina de doze anos de idade que perdeu o grande....
_ O grande?
_ Que perdeu um amigo. Ele me fazia feliz.
_ Vocês conviveram tão pouco.
_ Amor não tem relação com tempo Frank!
_ Então o amava!
_ Por Deus, Frank! – suas mãos foram para sua testa.
_ Você está assumindo que o amava!
_ Eu nunca neguei que o amei! Mas a questão é que estou aqui do seu lado! Eu escolhi você! Mas você insisti em minimizar todo meu empenho com essa maldita pergunta.
_ Logo ele estará aqui Enola. Chega no trem de amanhã se não me falha a memória.
_ Que seja Frank. Eu te perguntei alguma coisa sobre a chegada de Ismael?
_ Pedro Bispo me pediu emprego para ele. Mandei que cuidasse da criação dos porcos. Acho que vai fazê-lo lembrar de seu lugar aqui.
_ São essas atitudes que me desapontam em você, sabia? – com o dedo em punho.
_ Ora Enola, madrinha me pediu para deixar que ele voltasse e eu aceitei. O pai pediu um trabalho e eu ofereci. Acho que fui muito generoso dada as circunstâncias que o fizeram ir embora depois do que fez comigo.
_ Vocês eram crianças. Nós três éramos. Por que não esqueceu isso ainda?
_ Se o plano dele tivesse dado certo e eu batesse com a cabeça na pedra  e estivesse morto hoje,  será que você também esqueceria tão rápido assim?
_ Chega! Não quero mais prosseguir essa conversa. Eu quero paz. Vou me deitar um pouco meu querido.
Beijou meu rosto apanhando seu livro em cima da pedra e rumou para dentro da casa, deixou-me ali olhando para o tudo que eu tinha, enxergando o nada diante dos meus olhos.

MUITO OBRIGADA PELO CARINHO DE SUA Leitura! GOSTOU? CURTE! COMENTA!

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O Marquês Das SerpentesWhere stories live. Discover now