01. Bem-vinda à Chicago.

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A primeira coisa que faço ao descer do avião é ligar meu celular. O relógio indica 16h54minh, isso sem a adaptação do fuso-horário. Eu sabia que minha tia enlouqueceria se eu não desse um sinal de que a viagem tinha corrido bem e eu tinha conseguido chegar tranquilamente em Chicago. E como eu conhecia Beatrice muito bem, eu sabia que ela demoraria a chegar ao aeroporto para me buscar.

─Alô? Tia?

A chamada ficou em silêncio por alguns segundos, até minha tia perceber que já tinha atendido ao telefone. Usar um smartphone ainda era uma novidade para ela.

─Bruna? É você?

─Oi, tia. Sou eu.

Cheguei à esteira para buscar minha mala, mas o voo tinha acabado de pousar, o que significava que eu ainda esperaria por um tempinho para que eles começassem a despachar as malas.

─Oi, querida! Como foi a viagem?

─Tudo ocorreu bem, tia.

─Isso é ótimo! – Minha tia às vezes exagerava no entusiasmo. Depois de Beatrice, a Tia Elisa era a pessoa mais animada com minha viagem à Chicago e meu novo emprego. Claro que ela se entristecia por ver suas duas filhas do coração irem para bem longe, mas ela entendia que aquilo era uma oportunidade única para mim, assim como tinha sido para minha irmã, Beatrice.

─Tem como a senhora avisar ao papai, por favor? – Perguntei. – Acho que meus créditos não vão ser suficientes para ligar pra ele.

─Claro, Bru. – Ela diz em resposta. – Meu Deus, estou tão feliz por você!

Um sorriso formou-se em meus lábios.

─Obrigada pelo apoio, Tia Elisa. É muito importante para mim.

─Ora, não há por que, querida. – Eu podia notar que ela sorria do outro lado do telefone. – E não se preocupe quanto ao seu pai. Não vai demorar muito para ele se conformar. Fique tranquila.

Aí estava mais um motivo pelo qual eu não me sentia segura em ligar para o meu pai. Desistir da faculdade de Direito e me mudar para os Estados Unidos tinha sido a maior loucura do mundo em sua visão. E, para ser sincera, para mim também. A questão é que Direito nunca foi a minha praia. Eu sempre quis trabalhar no mundo artístico, com celebridades, pessoas influentes, tabloides e todas essas coisas. Claro que por trás das câmeras, já que não sei atuar ou dançar e Deus é testemunha do quanto eu canto horrivelmente mal.

Quando contei isso ao meu pai, ele sugeriu que eu fizesse outra coisa. Jornalismo ou, até mesmo, Relações Públicas, e eu realmente considerei uma dessas opções por algum tempo – isso até Beatrice surgir com a oportunidade de ajuda-la na assessoria de Tracy Trey, um dos rappers mais conhecidos – e lindo – dos Estados Unidos. Acho que está bem claro que não precisei pensar duas vezes.

─Eu sei. – Respondi à Tia Elisa. – Papai é um pouco cabeça-dura, mas acaba cedendo.

─Que bom que você está lidando com isso melhor do que sua irmã lidou.

Sorri.

─Beatrice é tão cabeça-dura quanto ele.

Tia Elisa suspirou.

─E você vem dizer isso a mim?

Quando minha mãe morreu eu tinha sete anos de idade e morava no interior do Maranhão com meu pai e minha irmã. Numa tentativa de recomeçar nossa vida num lugar diferente, o pai nos levou à Brasília, onde Tia Elisa morava. O esposo dela, o Ricardo, era um dos advogados mais conhecidos da cidade. Graças a ele, não demorou muito para que meu pai conseguisse um novo emprego. E, enquanto ele trabalhava durante o dia inteiro, Beatrice e eu ficávamos fazendo companhia à Tia Elisa.

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