Capitulo 24 - Estrada de Sangue.

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Ele se aproximou e sentou-se na beirada da cama.

__Armaram uma armadilha para nós__ ele disse, ia contar a ela que era um plano de seu pai, mas alguma coisa nos olhos dela o impediu de prosseguir__ é uma longa história, não vai se interessar.

__Alguém conseguiu machucá-lo, é claro que me interessa__ ela provocou, mas se sentou ao lado dele__ deixe-me ver se é grave.

__Não preciso da sua ajuda__ ele se afastou do toque.

__Não seja chato, deixe eu ver__ ela insistiu__ a menos que consiga fazer um curativo sozinho, o que duvido muito.

__Porque se importa?

__Não que eu me importe__ ela tratou de dizer e o obrigou a se virar de costas__ mas me você salvou hoje e não foi à primeira vez.

__Já disse que só estava fazendo o meu trabalho.

__Não faz diferença, a questão é que lhe devo minha vida.

Ele nada respondeu, ficou quieto enquanto sentia os dedos finos e gentis por entre seus cabelos, tocando-lhe com todo o cuidado.

__Não foi fundo__ ela sussurrou__ só tem um pedacinho de vidro preso e precisa limpar para não infeccionar.

__Devia ter matado aquele bastardo.

__Eu posso cuidar disso__ ela se levantou e sem pedir permissão mexeu nas coisas dele a procura de algo para lhe ajudar a fazer o curativo. Ele apenas a observou em silencio, sem nada dizer. Sua cabeça e seu corpo doíam e ele não estava com paciência para discutir, e realmente precisava de ajuda, não conseguiria cuidar do ferimento sozinho.

Depois de um minuto, ela se sentou novamente atrás dele e pediu que abaixasse a cabeça.

__Você e Paola vieram do mesmo lugar não é mesmo?__ ela comentou__ por isso são tão amigos.

__Porque pergunta?

__Eu sou muito curiosa__ ela deu de ombros__ todo mundo por aqui sabe quem eu sou, qual a minha história, mas não sei nada sobre vocês. Você por exemplo é um homem complicado, uma hora grosseiro e rude, outra tranquilo e até mesmo amável.

__Eu não sou amável. Ai__ ele resmungou ao sentir uma pontada de dor na cabeça.

__Calma, foi só o pedaço de vidro, não seja um bebê chorão__ ela provocou__ e você pode ser amável sim, eu o vi brincando com o menino no outro dia, rindo. E você me ajudou com o Rei, quer dizer... Não me entregou pra ele.

__Isso não faz de mim uma pessoa amável__ ele avisou__ mas também não sou o monstro que as pessoas gostam de dizer por ai. Elas ouvem e inventam coisas o tempo todo, elas não sabem de nada.

__Como você se tornou o cavaleiro das sombras?__ ela perguntou__ as histórias não contam tudo e... Você mesmo disse que muitas coisas que dizem por ai é mentira. Gostaria de saber de onde surgiu essa fama.

Ele ficou em silencio, Isabela pensou que estivesse pensando em uma resposta, mas depois de um tempo entendeu que ele não diria nada. Ele não queria lhe contar sua história, ela não era sua amiga e ele não lhe devia nada. Mas o silencio a incomodava.

__Em Severac__ ela começou a falar, molhando um pedaço de pano e começando a limpar a ferida__ tinha uma menina, mais ou menos da idade de Peter, eles eram muito parecidos. Ela me perseguia, como Peter faz com você, querendo que eu lhe ensinasse as coisas que sabia. A menina era uma plebéia de família pobre, mas muito bonita e adorável e sonhava ser uma princesa__ ele gemeu com outra pontada de dor__ eu a tomei como minha protegida, a mãe dela não se importou, e transformei-a numa menina nobre, tratei-a como se fosse minha irmã. No dia da invasão, quando me seqüestraram... __ Isabela sentiu um nó na garganta__ eu vi o corpo dela, morta no chão como um animal qualquer, era só uma criança.

Cavaleiro das Sombras.Where stories live. Discover now