I

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Início de dezembro. Giovana chegou atrasada a gráfica. Correu para o segundo andar, vestiu a bela – santa ironia – camiseta com o logotipo de seu trabalho e voltou para o primeiro andar. Phelipe, seu gerente, já estava reclamando.

− Giovana... – seu tom era duro, inflexível. – Você está vinte minutos atrasada.

− Eu sei, eu sei. Não vai acontecer outra vez, eu juro – ela pegou uma pasta de documentos, sabendo que eles estavam à sua espera. Bufou.

− Eu vou descontar do seu salário. Só por precaução – avisou. Assim que seu chefe lhe deu as costas, Giovana fez uma careta para ele. Careta essa, que deveria ter passado despercebida.

− Você está bem? – a voz rouca e firme ecoou pelo ambiente, assuntando-a.

Hum... – ela o encarou, sentindo-se uma total idiota. – Sim, estou. Em que posso ajudar? – sorriu gentil para o cliente. Ou, pelo menos, o mais gentil que podia depois de ter perdido uma parte de seu salário e ainda ter sido flagrada agindo como uma menina emburrada de cinco anos. 

− Preciso que você imprima esses arquivos para mim − disse, entregando-lhe um pen drive. – Em papel couché 150. Impressão à quatro cores, tamanho A3.

− Certo. Um momentinho. – Giovana inseriu o pen drive no computador ao lado. Alguns arquivos sobre promoção de alguma coisa estavam ali. Ela os enviou para a impressora, seguindo as instruções dadas pelo moreno. Um moreno atraente. Um moreno atraente de olhos verdes. Um moreno atraente de olhos verdes que sorria muito pouco. Um moren... CHEGA! – Fica pronto em alguns minutinhos.

− Obrigado – ele meneou um meio sorriso para ela, meio sorriso esse que lhe pareceu incrivelmente sedutor. Subitamente pensou que... Há tanto tempo não transava com ninguém, podia facilmente ter fantasias com aquele homem cheio de predicados. 

Parecia sério demais, é verdade. Mas talvez toda essa seriedade fosse boa. Talvez isso refletisse em uma agressividade avassaladora na cama. Giovana mal conseguia pensar a respeito... Sempre tão puritana! Desviou o olhar novamente para os documentos que precisava copiar. Alguns instantes depois, a impressão finalmente estava pronta. Mas já?

− Se precisar de mais alguma coisa... – ela disse, sorrindo. Talvez mais que o necessário.

− Não, isso é tudo. Quanto lhe devo?

− Trinta e dois reais – ele assentiu, tirando uma nota de cinqüenta da carteira e entregando a ela. – Se precisar de qualquer coisa, volte e não hesite em me procurar – um daqueles sorrisos cheios de segundas intenções brotou em seus lábios e o homem pareceu indiferente. Pegou o seu troco, o envelope com as impressões, agradeceu e foi embora.

Giovana sentia-se patética. 


Alguém como vocêOnde as histórias ganham vida. Descobre agora