- Eu parei, quando fui alvejada e me confinaram a um quarto monótono no hospital –disse ao acabar o café já frio.

Ele gargalhou e logo me olhou preocupado.

- Como é que isso aconteceu?

Expliquei a situação vivida com o impetuoso assassino mentalmente débil. Ron riu.

- Acho que esses tenentes a odiaram por uns momentos! –disse ainda a rir.

- Eles congratularam-me, penso que isso não tenho acontecido –respondi um pouco curiosa.

- Uma mulher tomou-lhes o lugar e mostrou que afinal o sexo forte não passa de um mito –voltou a gargalhar levando a mão ao peito –adorava ter visto –suspirou – mas foi grave o que teve?

Sorri dos seus comentários e expliquei a situação de risco em que me coloquei. Após umas quantas comunicações da parte de vários o assunto voltou-se para os meus sentimentos, em especial os sentimentos pelo arquiteto.

- Acho que ainda está a errar numa coisa...–Ron expos com um olhar protetor. –Quer tanto a liberdade que acaba por se esquecer...

Continuei a olhá-lo curiosa. Esperava que esclarecesse algo ao não me ouvir, no entanto gargalhou e acariciou a minha face.

- Pelo que sei a Jennifer está perdidamente apaixonada e está a negar a felicidade a si mesma sabe? – Ron disse ternamente.

- Tenho de deixar o meu coração ser livre? –as minhas sobrancelhas ainda estavam arqueadas e os lábios cerrados.

- Ora nem mais! É uma mulher com coragem para se aventurar no mundo selvagem e não consegue entregar-se a um homem.

O silêncio assolou assim como os meus pensamentos acerca de todas as coisas perigosas que fiz e do quão cobarde era por não conseguir prosseguir a um namoro.

- Talvez...acho isso demasiado louco. –proferi de olhar fixo no copo vazio de café amargo.

A calorosa gargalhada de Ron foi novamente ouvida e eu sorri ao encará-lo.

- Realmente o amor é louco, uma insanidade saudável.

(...)

As palavras do saxofonista não me largavam e o facto de conseguirmos conversar tão bem e mal nos conhecermos continua a ser peculiar. Talvez tenha mesmo razão, não sou inteiramente feliz porque não sou completamente livre, continuo a aprisionar os meus sentimentos e a altura de os deixar guiar-me chegou.

Conversei também com Eleanor quando cheguei a casa e troquei para a roupa de trabalho. Ela vai ajudar-me a preparar para a gala que Jack me convidou uma vez que vou ter de ser rápida pois o meu turno acaba pouco antes.

(...)

O turno estava prestes a acabar e James continuava a sorrir para o ecrã do computador. É normal ele sorrir e eu até gosto, aliás, quem é que não gosta de um bom sorriso e de um chefe bem disposto? No entanto ele hoje sorri de outra forma, mais amoroso, e isso só acontece antes de ele escrever atentamente. Há miúda...

- O agente James poderia partilhar quem é a sortuda? –Inquiri com um pouco de gozo. Olhou-me confuso e eu revirei os olhos. – Quero saber quem é a rapariga que te vai ver nu dentro de breve.

- Ela não te vai dizer nada, irás continuar sem saber o que perdes.

- Ah ah, afinal há alguém! – Festejei orgulhosa pela primeira conquista e fui até ao lado de James que gargalhou. - Diz lá quem é que é. – continuei a insistir.

O tenente recusou mais uma vez, e, sem demoras, tentei aceder ao seu computador ao lutar contra os braços dele.

- Quieta! –James prendeu-me os braços com as mãos imobilizando-me. Quem é que te mandou meter com um polícia?

- Olha a minha integridade física – falei. Ele revirou os olhos ao mesmo tempo que suspirou e soltou os meus braços levantando os seus em rendimentos.

- Beth.

- Beth? – a minha mão direcionou o seu queixo para mim. – A que me foi ver ao hospital? – assentiu que sim com um sorriso a nascer. – Oh, a Beth!

Abracei-o impulsivamente e logo me afastei.

- Não há nada entre nós!

Abanei a cabeça negativamente com uma expressão de 'nunca há nada'.

- Apenas falamos, Jennifer – James declarou e eu sorri ao lembrar-me das férias em Vegas e de como Beth era.

- És um amorzinho, sabias? Ela é tão tímida e tão querida...

- Eu sei, eu sei

O tenente falou. Um pouco convencido pelo elogio e um pouco envergonhado por já saber como Beth é.

- O Jack também é envergonhado? - Ri e encostei-me á sua secretária ao confirmar que era o contrário. – Eih, que dois que se juntaram...deve ser a loucura!

- Isso não é totalmente verdade. Nós não estamos juntos.

- E ele é querido. – O tenente disse como se fosse óbvio a não total validade da sua afirmação anterior.

Desencostei-me, não estando a gostar tanto do rumo da conversa, e dirigi-me para a minha secretária à frente da sua.

- Devias convidar a Beth para um encontro. – sugeri mudando de assunto.

- Estou a pensar nisso e tu devias de deixar de mudar de assunto!

Depois da conversa com Ron e de refletir decidi que iria falar com Jack e deixar-me ser feliz. Foi uma das mais difíceis decisões desde a vinda para Inglaterra e isso atormentava-me.

- Quando é que vais estar com Jack?

A voz de James interrompeu a minha viagem pelos meus pensamentos onde a conversa com Jack já se formava.

- Quando sair daqui, ele convidou-me para o acompanhar a uma gala do seu clube.

- Estás aqui a fazer o quê?

- Trabalhar?!

James riu-se ironicamente.

- Vais assim vestida? Raio de pergunta...-barafustou consigo mesmo e eu gargalhei dele. –Ainda estás ai sentada?

Concentrei-me no computador. Este tenente consegue ser passado louco que eu.

- Eu justifico a tua saída, vai embora –olhei para a fonte das palavras sem sentido. - Jennifer, vais recusar uma loucura?

Já disse que detesto o facto de ele ser tão parecido comigo e saber sempre como conseguir as coisas? Se não disse devia...30 minutos depois já estava a entrar em casa e a avisar Eleanor que ia tomar um duche rápido. Quando sai da casa de banho já a bailarina me esperava com tudo o que era preciso.

- O James 'obrigou-me' a vir mais cedo –informei ao vestir a roupa interior.

- Assim podemos conversar – ela sorriu e ajudou-me a vestir o comprido vestido.

- Conversar?

Cada vez estava mais baralhada, culpa das minhas decisões e dos meus sentimentos, e de Eleanor que contava cada pormenor meu que tinha mudado desde a vinda de Jack para a minha vida atribulada. O percurso matinal que se fixou, a diminuição das saídas, o interesse por novas áreas, o próprio Jack no meu quarto e casa, o não envolvimento sexual...'Ele fez com que a minha Jennifer se apaixonasse novamente e isso é maravilhoso' foi a frase que me afetou. A minha companheira de casa discursou sobre a minha vida e de como eu estava diferente acabando quando me colocou o batom e explicou como seria bom eu voltar a namorar.

As minhas mãos suavam e o nervosismo tomava conta de mim. Estava fraca e incrivelmente forte. Sentia a adrenalina a percorrer as minhas veias por causa do que faria em breve e um enjoo da ansiedade.

- Dar um nome à relação não vai ser mau. – admiti ao abrir a porta de casa e sentir o vento gelado.

Eleanor deu um gritinho e um sorriso enorme apareceu na sua face. Sorri e fechei a porta, uma nova experiencia esperava-me.


***

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