— Meu Deus!

— Com isso ele perdeu parte dos seus movimentos. O acidente fez com que ele perdesse os movimentos das pernas. Meu filho ficou inconformado e se fechou para o mundo. Tentamos de todas as formas fazer com que ele reaja, mas ele apenas desistiu da vida. Trouxemos ele para cá, mas mesmo assim ele continua o mesmo de quando estava fora. Ele não quer saber de fazer o tratamento. O médico não deu garantias, mas que ele poderia fazer algumas cirurgias para poder voltar a andar, mas ele se nega a fazer qualquer tipo de tratamento. Já chamei vários médicos, fisioterapeutas e nada. Ele simplesmente se isolou para a vida. — Ela abaixou a cabeça e nem tinha percebido que eu estava chorando.

— Se ele não quer um tratamento o que faço aqui? — Perguntei e ela olhou para mim.

— Você é a minha última tentativa. Não vou mentir de que estava entrando em desespero. Três dias atrás o Igor tentou se matar com os remédios que ele está tomando e eu como mãe não iria e nem vou deixar meu filho se acabar assim.

— Ele o quê?! — Praticamente gritei e ela se assustou com meu rompante.

— Eu o entendo, mas a morte não é uma solução. Meu filho era um rapaz que amava viver perigosamente, amava a vida e hoje não o reconheço mais.

— Dona.... Marta. Posso pedir para vê-lo? — Perguntei receosa.

— Claro, minha filha. — Ela se levantou e estendeu a mão para mim que aceitei. — Mas já peço desculpas antecipadamente por qualquer ato que venha do meu filho.

— Sem, problemas. — Ela me levou até o quarto dele e não vou mentir meu coração parecia que iria sair pela boca de tão ansiosa que eu estava.

— Aqui fica o quarto dele. — Apontou para uma porta. — Veja o meu filho e depois me diz se vai querer entrar nesta jornada comigo e aí poderemos acertar todos os detalhes. — Ela abriu a porta e o quarto dele estava totalmente escuro, apenas um abajur mal iluminava uma parte do quarto, não consegui controlar as minhas pernas e no momento seguinte já estava em pé ao lado de sua cama.

— Filho. — A Marta se referiu ao filho com tanto carinho que me imaginei no lugar dele se eu tivesse sido criado pela minha mãe. — Filho, quero te apresentar... — Ele estava com o rosto virado pelo lado contrário e nem fez esforço para nos olhar.

— Mãe, por favor! Já chega de trazer essas pessoas na tentativa de me ajudar. — Sua voz era grossa e rouca, mas soou fria. — Eu. Não. Quero. Ajuda! — Dona Marta olhou para mim como se pedisse ajuda.

— Olá, Igor. — Olhei para a Marta que fez gesto para que eu prosseguisse. — Sou uma grande fã sua e....

— Sinto te decepcionar, mas acho que não posso ter mais fãs do jeito como estou. — Se virou e pude encarar aqueles olhos. Meu Deus! Estava de frente para o rei do MMA. — Sai daqui! — Gritou comigo e por incrível que pareça eu não me assustei.

— Olha aqui, Igor. Sou sua fã sim, mas não venho aqui como uma e sim como uma profissional que sou. — Ela me olhou de baixo para cima e sorriu.

— Olha, agora vejo que a minha querida mãe começou a trazer as profissionais, agora. — Pude sentir o duplo sentido na palavra profissional e uma raiva tomou conta de mim.

— Olha aqui seu ogro, eu não sou nenhuma puta se foi isso que você quis deixar a entender. Sou sim uma profissional, na verdade quase, mas estou me formando em fisioterapia e você mesmo estando como está não deveria agir assim com as pessoas. Sua mãe só está tentando te ajudar! — Não consegui ter filtro, cérebro e boca. Coloquei a mão na boca e olhei para a Marta que estava olhando para mim e depois para o filho. — Desculpe-me dona Marta, mas acho que não dá para mim. — Olhei para ele e ele me fitava incrédulo. — Sabe o porquê eu era sua fã? — Ele nada falou. — Todas as vezes que eu assistia as suas lutas e via os seus rivais te trucidando no octógono, você sempre virava o jogo ao seu favor. Você nunca desistia de uma luta, por mais ruim que ela estivesse. — Ele arregalou os olhos. — Quem eu vejo deitado aqui em cima dessa cama não é o mesmo cara por quem eu sou fã. O Igor, o rei do octógono ele sim nunca desiste de uma luta, mas esse que está aqui diante de mim não passa de uma pessoa sem vida. — Lágrimas saiam dos meus olhos livremente. — Eu sinto pena.

Veia de Lutador REPOSTANDOWhere stories live. Discover now