Capítulo 1

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Quantas vezes não nos perguntamos se uma decisão diferente não mudaria tudo, se as escolhas fossem outras, os resultados também seriam diferentes. Eu gostava de pensar que não ou talvez quisesse me consolar desta maneira. Sabia que seria mais fácil lidar com o dia a dia se acreditasse nessa mentira que criei em minha mente.

A verdade é que a alguns meses estava enfrentando um dos piores momentos de minha vida, presa nas minhas decisões prematuras escolhidas no momento de desespero e me perguntando constantemente se não haveria outra solução.

E até o momento, não há outra solução. 

— Precisamos ir, eles estão nos esperando. — A voz alarmada de minha mãe me desperta de meus pensamentos e repenso algumas vezes antes de me levantar. 

Já fazia alguns meses que meu pai estava internado, diagnosticado com lma, um tipo de câncer do sangue e da medula óssea.
No início ele só reclamava de cansaço mas sempre dizia que era por causa do estresse do trabalho, nunca passou pela minha cabeça que se tratava de algo tão grave.

— Está bem, vamos logo. — Me levanto e a sigo em direção a saída de nossa casa. Entramos no carro que estava a nossa espera.

Para a nossa sorte, o trânsito estava ao nosso favor e chegaríamos mais rápido que o esperado. Fazia algum tempo que não andava pelo centro se não fosse para visitar meu pai ou para trabalhar, acabei me distanciando um pouco das pessoas mais próximas a mim, meus amigos de infância e colegas da faculdade já não os via há meses.

   Saímos do táxi e vamos em direção a empresa, quase tão grande quanto a nossa, a diferença é que trabalhávamos com linhas de perfumes e fragrâncias únicas e a família Dawson era uma nova marca de roupa no mercado. Eles não tinham um nome reconhecido, começaram de baixo e chegaram aonde estão com muito trabalho árduo. Infelizmente as más línguas da sociedade os julgam por terem começado com uma lojinha de utilidades e que a esposa consertava roupas por um longo tempo. Meu pai sempre me criou com os pés no chão, sempre deixou claro que se eu quisesse algo deveria correr atrás. Me lembro da minha adolescência em que quebrei meu notebook, ele me disse que para ter outro eu deveria dar valor ao meu dinheiro. Trabalhei como babá por um período até conseguir comprar outro, e entendi o que ele estava me ensinando. Então eu não entendia o porquê, e se essa história fosse realmente verdadeira? Qual mal teria? Isso deveria ser algo para se orgulhar.

     — Senhora Blake, que bom que está aqui. Eles já estão a espera de vocês. — Diz a secretária nos recebendo gentilmente assim que saímos do elevador. Seguimos a mesma que nos direcionou até a sala presidencial. — Com licença. Senhor, elas estão aqui.

— Diana, Katherine! Entrem, entrem! — Diz Joseph assim que nos ver. Entramos e vamos em direção ao mesmo que se levantou para nos receber, ao seu lado estava sua esposa Elena e Robert, seu filho. Só de vê-los meu estômago embrulhava.

— Sentimos muito pelo atraso, o trânsito estava caótico. — Minha mãe diz apertando a mão do mesmo. Olho para o relógio na parede e não vejo razão para se desculpar, se passaram apenas dois minutos da hora marcada. — Ola, Elena. — Ela nos olhou como se fossemos um tipo de vírus. Elena e minha mãe não se davam muito bem, correram boatos que o senhor Dawson estava interessado por outra mulher, que no caso seria minha mãe. Eu tinha certeza da integridade da minha mãe, ela sempre me contou que só amou um homem a sua vida toda, meu pai.

Observei tudo com muita atenção mas não era a única que olhava atentamente, quando olho para Robert vejo que o mesmo me olhava curiosamente, como se pudesse ler meus pensamentos.

— Está tudo bem, chegaram bem na hora. — Ele diz se sentando e fazemos o mesmo, mesmo que não estivesse olhando diretamente, sabia que Robert ainda me olhava. E talvez eu devesse desviar o olhar mas não queria demonstrar medo ou fraqueza.

— Por que não vamos direto ao ponto? — Elena diz e seu tom de voz demonstrou impaciência. — Vocês precisam de ajuda e nós também. Querem ajuda financeira e nós um nome reconhecido.

— Isso é tão ridículo. — Digo assim que ela termina de falar e minha mãe me olha rapidamente, havia prometido que não diria nada mas era difícil escutar algo assim e permanecer calada.

— Achei que sua mãe tivesse acertado tudo com você mas vejo que não. Se não é isso que quer, pode simplesmente se levantar e ir embora. Não queremos perder tempo. — Ela diz firmemente.

— Já está tudo acertado, mas temos pontos a deixar claro também.  — Elena revira os olhos ao escutar as palavras de minha mãe.

— Claro, podem falar.

— Eles irão se casar mas quero que minha filha tenha sua total segurança nisso. — Era como pedir para que andasse na chuva e não ficasse molhada. Não os conhecia mas a última coisa que deixaria é que esse homem encostasse em mim.

— Você pode ficar tranquila quanto a isso. — Finalmente Robert abre a boca, ele parecia ser um homem firme em sua palavra, seu tom de voz demonstrou isso. Robert não era um homem feio, muito pelo contrário, seu físico com certeza era chamativo para a maioria das pessoas. Ele era alto, deveria ter um metro e oitenta ou mais. Seu cabelo era castanho escuro e junto com seus olhos azuis davam um destaque ao seu rosto bem marcado. Qualquer mulher se interessaria por seu físico, não podia negar isso. Mas somente por pensar em tudo o que estava acontecendo, não conseguia sentir outra coisa se não repulsa. — Ela terá um quarto separado e quase não teremos contato, passo mais tempo na empresa e fazendo viagens. Ela estará segura.

— Como viu, nada dará errado. Mas também temos nossas cláusulas para esse acordo. — Diz Joseph se levantando novamente. — Mesmo não sendo um casamento convencional, qualquer comentário na mídia ou especulação que nos prejudique terá consequências. E esse casamento não poderá se desfeito em menos de cinco anos.

— Cinco anos? Você quer que fiquemos juntos por cinco anos? — Olho para a minha mãe e ela viu o desespero em meu olhar. Eu realmente achei que seria fácil assim? Me casaria com ele, ajudaria meu pai e a empresa e depois iria embora? Definitivamente estava tudo perdido.

— Exatamente. Caso isso não aconteça, vocês perderão setenta por cento do capital da empresa de vocês. Esse é nosso acordo. — Diz ele enquanto caminhava até uma mesa no canto e pegava um copo com alguma bebida. — Aceitam um copo? É limonada.

— Não, muito obrigada. Prepare o contrato, aceitamos o seu show. — Minha mãe se levanta e faço o mesmo. — Já terminamos aqui. — Saio daquela sala o mais rápido que posso, estava me sentindo horrível. Meu corpo parecia dormente aquela situação toda, minha cabeça estava a mil e sentia que iria desabar a qualquer momento.

— Eu não acredito que tenho que fazer isso. — Digo assim que entramos no elevador. Meu coração batia tão forte que precisei respirar fundo algumas vezes. — Mãe, não temos outra solução? Eu não sei... Não vou conseguir fazer isso.

— Eu sei o quanto é difícil, filha, nunca imaginei que passaríamos por isso. Mas é a única solução, você sabe. Não temos como pagar aquele hospital e nem o tratamento. — A angústia em sua voz era palpável. — Não podemos esperar mais ou perdê-lo, não posso.

Era horrível concordar mas sabia que ela estava certa. Por meu pai eu faria isso, faria o que me mandassem se isso ajudasse a salvar a vida dele. Se eu pudesse trocaria de lugar com ele, daria minha vida pela dele. O quanto ele fez por mim todos esses anos, isso não seria nem um por cento de todo o esforço e trabalho duro. Por ele, eu seria forte. Aceitaria esse acordo.

O Acordo PerfeitoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora