Eu não posso escolher

1. O yin

"Sabe o final daquele filme Amizade Colorida?! Então... Eu tenho vivido o 'felizes para sempre' dele há quatro anos. E tem sido perfeito!...

Conheci Jesse Scott na Columbia. Ele era o bookmaker da fraternidade masculina mais importante e conhecia praticamente o campus inteiro. Bastou eu acompanhar uma colega de turma que queria fazer uma aposta num jogo de basquete pra ele começar a me perseguir...

Perseguir não é um bom termo. Nunca foi assim com Jesse... Persistir é a palavra certa.

Nós, no começo, não estávamos interessados em nada além de curtição. Eu mesma saía com o Micha naquela época e..."

***

- Micha? Aquele baterista de Nashville? Eu me lembro dele... Gostoso, mas idiota... - interrompeu Ginger, esfregando ao lado do abdômen, bem na altura das costelas, visivelmente incomodada com a dor.

- Não a interrompa, Ginnie. - ordenou Jennifer, exasperada. Patti demorou semanas para contar, agora seria melhor deixá-la falar livremente, ou acabaria desistindo.

- Eu só não entendo porque ela está contando coisas que nós já sabemos... - reclamou Ginnie.

- Ginnie! Ou você cala a boca ou eu juro que...

- Okay! Okay!... Já entendi...

- Continue Patti... - exortou a voz macia de Viviene.

***

"O Micha era apenas mais um na longa fila de idiotas na minha vida, desde a adolescência. Estava exausta de me magoar, de investir tudo, de romantizar que havia encontrado o cara perfeito, pra depois ser deixada esperando sem qualquer explicação, ou ser traída na maior cara de pau, ou ser dispensada já com a próxima a tira-colo.

Mas o que eu posso dizer?!... Bad boys me faziam perder o juízo.

E o Jesse... Bom, tão grande quanto sua popularidade era a lista de garotas... Aquelas que já tinham passado pela cama dele, e aquelas que dariam um rim para passar. Mas o Jesse nunca foi um bad boy na mais profunda acepção do termo...

E eu me interessei pelo papo fácil, a inteligência e o humor acurado dele, mas não senti o chão fugir de sob os meus pés, apesar da perfeição dele em todos os aspectos. O tom moreno da sua pele destaca o uísque dos olhos e o mel dos cabelos. Os milagrosos lábios carnudos, o maxilar recortado e o corpo esculpido pelo remo apenas arrematam os traços perfeitos e ambíguos.

- O que nós vamos fazer ali, Stacy?! - obviamente rolava mais uma das inúmeras festas da fraternidade, quando minha amiga resolveu que apostar em jogos de basquete era uma ótima aplicação para multiplicar suas economias.

- Preciso falar com o tal Jesse Scott. Fui informada de que todas as apostas no campus são feitas por ele. De sinuca a MMA...

Adentramos a sala e havia uma fumaça de cigarros misturada com canabis, no som rolava System of Down alto, algumas mesas de carteado, com garotas sentadas nos colos de seus encontros, e bebericando da cerveja deles. As avulsas pairavam em grupos de conversa e risadas, mantendo o charme de cabelos jogados de lado e cílios piscando repetidamente, na tentativa de atrair aqueles membros desacompanhados. Elas sabiam que seriam apenas a transa de uma noite, mas não se importavam... E isso era tão ridículo que senti vontade de vomitar.

- Muito bem, onde ele está? - exigi, eu queria sair logo dali.

- Não faço ideia...

- O quê?! Como você vem procurar alguém que não conhece aqui? Quer virar a próxima piada?...