- És formidável –disse antes de sair e levar com o vento frio.

(...)

- Jennifer, és viciada em adrenalina?- Jack quebrou o silêncio, talvez não da melhor forma. Ri com a sua pergunta e encarei-o. –Estou a falar a sério

Viciada em adrenalina? Isso é possível? Eu não o sou. Não sou viciada em nada! Nem em desporto. Porque qualquer vício, por mais saudável que seja, é mau. Os vícios são maus. A palavra é má.

- Não. Sabes que eu detesto vícios –proferi.

- Por isso é que eu estou preocupado –ele falou com outro tom de voz, mais baixo, mais meigo, mais frágil. O Jack está realmente preocupado e a pensar que eu sou uma viciada em adrenalina, uma estúpida hormona.

- Não precisas, eu estou bem –disse-lhe com um sorriso. Viciada numa hormona.

- Mas...eu li um artigo sobre isso e acredita, tens de ter cuidado

- Jack! –tentei não gritar. Várias palavras preenchiam a minha cabeça e começavam a afetar-me. Vício.

- Ouve-me por favor –Jack deu-me as mãos depois de guiar a minha cara na sua direção –sofreste algum trauma ou assim? Preciso que sejas sincera...-a sua voz quase quebrou. Engoliu em seco e voltou ao seu discurso –não precisas de falar sobre isso, apenas diz se houve ou não.

- Pode-se dizer que sim –respondi de olhar fixo nos pés.

Viciada.

Adulterada.

Estragada.

Deteriorada.

Arruinada.

- Hum...-abraçou-me por uns momentos e, depois de um beijo na testa, olhou-me nos olhos –por causa de algum trauma ou stress, as pessoas podem ficar com vontade de correr perigo. Ao fazerem-no e experimentarem novas coisas, algumas substâncias químicas são libertadas trazendo novas emoções e todas essas coisas que tu sabes...uma das consequências é o cansaço...

O meu cérebro rebobinou a minha vida, deixando de ouvir Jack. Realmente sentia-me cansada de vez em quando chegando a nem querer saber do telemóvel, sem muito sentido (ou com toda a razão), e sempre que experimentava algo queria mais.

- Não –sussurrei ao soltar-me dos braços de Jack.

- Jen, não vás –ele voltou a agarrar-me –não te ponhas em perigo!

Jack revirou os olhos e eu dei um risinho. Ele sabia que não adiantava, sabia que o seu pedido era um pouco parvo. Sabia demais até. Eu devia ter tido mais cuidado, ele não iria ficar sem fazer nada enquanto esperava que uma parva decidisse namorar com ele. Contudo, o que ele dizia não podia ser verdade! Eu não podia ser viciada em adrenalina. Eu sofri alguns traumas e muito stress em Portugal mas nada de mais, isso não podia ter-me exposto ao perigo porque eu sempre gostei do perigo.

- Tu não tens culpa –os seus lábios suaves tocaram na minha bochecha –eu posso te mostrar o artigo, explica a parte das substâncias e quais as funções e também tem citações de um psiquiatra...

- Por favor –apertei o corpo de Jack e falei, interrompendo-o.

Era demais. Um psiquiatra!

- Posso dormir contigo?

Ele sussurrou, após uns minutos de silêncio. Jack percebera que era demais para mim. Que eu não aceitaria. Que era uma ofensa. Que eu estava cansada e precisava de perigo...

Assenti que sim e beijei-lhe o pescoço num ato carinhoso levando-o a sorrir.

(...)

Dias passaram e o assunto sobre o perigo não voltou. Jack tem passado algumas noites na minha cama, assim como o domingo, no qual estivemos uma tarde no meu quarto; coisa impossível para a Jennifer Azevedo, mas a verdade é que aconteceu e eu não me importaria de repetir. Acho que isto é amor. Fazer coisas que nunca pensamos, que não gostávamos mas passamos a adorar.

- Podíamos ir até à praia –pedinchei enquanto fazia desenhos no peito de Jack.

- Está a chover!

- Não disse que era para apanhar sol –beijei-lhe os lábios –fazíamos surf ou assim

- O tempo está horrível e estamos tão bem aqui –Jack acariciou o meu braço, mostrando a sua enorme vontade de sair de casa.

- És tão...-olhei para o teto em busca das palavras certas.

- Lindo?! –o jeitoso deitado na minha cama completou.

- Convencido –sorri ao sentir os seus lábios no meu pescoço –de qualquer das maneiras, vais ter de sair da cama

Afastei-me dele, preparando para me evitar o seu meio engenhoso de persuasão.

- Tu és tão chata Jennifer! –protestou sentando-se encostado à parede. Cruzou os braços de amuado.

Levantei-me e ri da sua atitude.

- Vou preparar qualquer coisa para comermos oh jeitoso

Sai do quarto apenas com a t-shirt de Jack e caminhei até à cozinha em busca de algo rápido para fazer. Queria tanto não ter saído da beira de Jack, mas o meu estômago é excelente a pedir comida e eu não lhe posso negar algo tão bom.

O problema não seria grande se umas mãos não me agarrassem impedindo qualquer movimento. O calor do corpo quase nu de Jack fez-me reaquecer e a sua respiração na minha orelha fez o meu coração derreter.

- Amo-te mais do que nutella –ele sussurrou-me

- Isso é porque não há nutella –respondi-lhe ao virar-me –e não venhas com falinhas mansas, nós precisamos de comer!

Jack gargalhou e beijou-me lentamente. Deixei-me levar nas sensações fornecidas pelo incrível ser humano e o meu corpo não tardou a responder. Ter alguém ao nosso lado não é de todo mau. E, embora eu adore ter o Jack comigo, ainda não consigo assumir um compromisso.

- Eih eih! Ainda há comida cá em casa, não precisam de se comer –Eleanor comentou num tom brincalhão fazendo-nos separar.

- Estou a seguir os exemplos do casalinho –Jack desafiou El.

Eleanor tossiu e como sempre ajudou há brincadeira.

- Nah nah...muito mal feito... -abanou a cabeça em reprovação – Até vos explicava como é mas o Thomas não está cá

- Menina Eleanor, que modos são esses? –repreendi a mais nova que ainda se ria com Jack. –juizinho!

Eleanor levantou as mãos em rendimento e Jack soltou-me lentamente, dramatizando a dor de me deixar. Eu é que devia de me queixar! Assim tenho muito mais frio e ele é um maravilhoso aquecedor humano.

- Logo vou fazer noite, podes brincar com o Thomas à vontade –declarei da forma mais inocente que conseguia enquanto preparava algo para comermos e ouvi Jack a rir encostado ao balcão.

- Não sei como te aturo há tanto tempo –El suspirou –olha, devias tapar o teu amor porque uma pessoa não é de ferro ok? Agora divirtam-se muito que eu não vos quero interromper mais.

Olhei Jack e depois para Eleanor que se despedia com um beijo atirado ao ar. Jack repetiu o gesto e logo me puxou para ele.

- Ouviste?

- Tu não perdes uma oportunidade pois não? –falei já em frente a Jack e beijei-lhe o pescoço lentamente.


***

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P.S.: para quem não sabe há mesmo viciados em adrenalina! podem pesquisar se não se acreditarem :)



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