A Sede da Ordem

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Aquela era uma das raras manhãs ensolaradas da Grã-Bretanha, com pássaros cantando no alto dos muros e pessoas aproveitando o clima agradável esparramados em qualquer metro quadrado de grama disponível pela cidade. Harry, contudo, sequer tinha conhecimento de um dia tão bom em Londres, ele só queria dormir. O último ano havia sido o mais agitado e perigoso de sua vida. As coisas que viu, fez e passou faziam suas ameaças anteriores se assemelharem a uma excursão escolar. Enfrentar um cão de três cabeças, um basilisco, dementadores, dragões... Preferia ter de encarar tudo isso mais uma vez à caçar e matar Hórcruxes.

Harry não reclamava, é claro. Voldemort morto era mais do que um alívio, independente dos esforços e sacrifícios que ele, Rony e Hermione se viram obrigados a fazer. Viajaram e se esconderam por tanto tempo, perderam amigos e família, se viram diante da morte várias vezes. Acumularam noites mal dormidas, refeições duvidosas que Granger se dedicava tanto em tornar comestíveis, corpos doloridos e machucados, lágrimas e desentendimentos. Tudo aquilo era demais para encarar, principalmente quando se tem apenas dezessete anos. 

A exaustão do garoto também se devia aos holofotes da comunidade bruxa que novamente haviam se voltado para ele, com ainda mais fervor do que antes. Desde seus um ano e três meses de idade, já não existia uma só criatura mágica ou bruxo que não conhecesse o seu nome. A história d'O-Menino-Que-Sobreviveu era passada de boca em boca por todos os lugares em que a magia era conhecida. Vencer a Maldição da Morte uma vez já era um feito extraordinário por si só, imagine então a comoção instaurada depois que a notícia da façanha de sobreviver a ela novamente se espalhou. Além disso, ele era O Eleito, aquele que derrotou o bruxo das trevas mais perigoso de todos os tempos, venceu a guerra e colocou a comunidade bruxa de volta nos eixos.

Depois que Você-Sabe-Quem morreu, a cicatriz em forma de raio parou de doer como se nunca antes o houvesse feito, mas sonhos continuaram a lhe perturbar. Não se tratavam mais de presságios de mau agouro e dos pensamentos de Voldemort, mas ainda assim se tornavam cada dia mais estranhos. Há meses seus sonhos eram inundados com imagens curtas e desconexas de Draco Malfoy.

Desde o início, aos onze anos, seu relacionamento baseou-se apenas em provocações e um desagrado mútuo pela pessoa um do outro. Nunca compartilharam uma conversa descente, um tempo de qualidade ou uma risada, ainda assim era com momentos como esses que Potter se deparava em seus sonhos. Ele não compreendia a razão, tudo o que sabia era que os sonhos haviam começado no dia em que a guerra acabou. 
A última vez em que se viram foi pouco depois de Malfoy dar sua varinha ao moreno, afim de derrotar Voldemort. Harry viu o garoto, Lucius e a mãe Narcisa no Grande Salão de Hogwarts, deslocados como se não soubessem se mereciam estar ali.

Era exatamente com essa imagem que o garoto de olhos verdes sonhava naquela manhã.

Ele viu os lábios de Malfoy formarem a palavra "obrigado" e despertou de repente, muito confuso. Harry coçou os olhos e tateou a mesinha de cabeceira à procura de seus óculos redondos. Levantou-se ainda com sono, emburrado por não poder passar o resto da vida na cama como seu corpo gostaria. Vestiu-se rapidamente e abriu a janela deixando o ar fresco invadir suas narinas. Era realmente um belo dia. Antes de sair do quarto, Harry não esqueceu de passar os dedos pelo nome entalhado na madeira, Sirius, como fazia todos os dias.

A casa estava um tanto quieta, ainda um pouco escura apesar do sol que entrava pelas vidraças estreitas. O garoto desceu as escadas e nem deu importância aos gritos e uivos da Sra. Black em sua moldura bolorenta: "MESTIÇO NOJENTO. ESCÓRIA DO NOSSO MUNDO. SANGUE IMUNDO E IMPURO, POLUINDO A MINHA CASA. E OS WEASLEY'S, TRAIDORES DO PRÓPRIO SANGUE..."

— Cala a boca, sua sapa velha. A casa é de Harry agora! — Rony fechou as cortinas à frente do quadro e imediatamente a horrível voz silenciou-se. — Até que enfim, cara, não estou aguentando mais de fome.

Unbreakable Vow • DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora