Prologo

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O primeiro dia de aula, geralmente é extremamente esperado. Principalmente quando se fala do último semestre. Mas Dulce não desejava voltar para a sala de aula, muitas coisas haviam acontecido no ano anterior. Dois meses e meio não eram o suficiente para superar o semestre passado. Ela consegue se lembrar muito bem do que havia acontecido. Lembrava do dono daquele par de olhos mortos caindo sob sua mesa, convulsionando e morrendo em seguida. Estava tão imersa em suas lembranças que nem ao menos entendeu o que July havia lhe dito.

 — Dulce? Você está neste planeta?

July e Dulce eram amigas de infância, não se lembravam de terem brigado uma única vez durante a vida. Ela era a única garota ruiva da faculdade, o que era raro por si só, já que moravam numa cidade universitária desde pequenas, ela também tinha um irmão gêmeo, cujo os cabelos ruivos nunca era permitido crescer.

 — Desculpe. – Se recompôs, bebeu um pouco d'água. – Eu estava pensando demais. O que você falou?

 — Perguntei se você sabe quem é o novo substituto de história contemporânea. Dizem que o novo professor é famoso, e vai trazer com ele um seminário antropológico.

— Não sei.

 — Estava pensando no Pedro? – Era o nome do antigo professor, era um dos melhores da instituição, mas o pior de tudo era que Dulce conhecia o professor desde criança. Teve um fim tão trágico e repentino, era jovem.

 — Mais ou menos, tudo aconteceu muito rápido.

Ela e o pai haviam pensado na possibilidade de trancar a faculdade, se inscreve em outra instrução, cursar outra disciplina. Mas ela mesma havia insistindo para permanecer nesta, conhecia todos os alunos, seu pai já havia estudado e lecionando ali, tinha vínculos afetivos com o lugar.

 — Você precisa pensar que aquilo não foi culpa sua... sabe, as pessoas morrem.

 — Eu não acho que a morte dele tenha sido minha culpa. — no ano anterior, havia corrido um boato de que Dulce estava tendo um caso com o professor de história contemporânea. Também diziam que por conta do boato, o homem corria o risco de perder o emprego e todo esse estresse havia sido o verdadeiro culpado do infarto. — Só acabei relembrando o que aconteceu... o cara morreu na nossa frente.

 — Ouvi dizer que ou ele estava se matando, ou mandaram matar ele.

 — As pessoas falam demais.

Pararam de falar e ficaram olhando para o pátio, July pintava as unhas de verde, sempre fazia isso no primeiro dia de aula, segundo ela lhe dava sorte. Um grupo de garotas se sentou perto delas. Eram as meninas do Handebol, todas vestidas com o uniforme do time, a instituição tinha seus próprios times oficiais, muitos dos universitários entravam ali, na esperança de irem parar em alguma seleção olímpica.

O pátio era como uma selva, uma selva muito bem dividida. Haviam grupinhos espalhados pelo local, Dulce os conhecia bem. Haviam os estudantes de medicina, andando para cima e para baixo usando o jaleco branco e um estetoscópio pendurado no pescoço os estudantes de humanas, sempre numa roda no gramado perto da fonte, dividindo uns com os outros uma fileira de baseados, tinham uns caras que de achavam músicos, sempre levando o violão de um lado para o outro, as pessoas mais velhas, que haviam entrado na faculdade depois de casarem e terem filhos, os estudantes de moda, que uma hora ou outra apareciam na rodinha dos estudantes de humanas, mas os mais interessantes eram os turistas, exatamente eles se encaixavam em qualquer um dos grupos. E para o azar, ou sorte, de Dulce e July, elas eram conhecidas por serem turistas.

 — O Daniel se atrasou no primeiro dia de aula. – Disse Dulce.

 — Ele foi comprar erva. — respondeu July. Daniel era o gêmeo se July. Fumava maconha quase todos os dias, era inteligente demais, mas as garotas não gostavam dele, ele costumava ser um babaca com boa parte das pessoas que conhecia.

A amante Livro1 ( Em Revisão )Where stories live. Discover now