 — Meu pai descobriu que a gente fuma maconha. – Disse July por fim. — Pensei que fosse ficar puto, mas não. Proibiu a gente de fumar fora de casa.

 — Acho que ele demorou tempo demais para descobrir, vocês dois nem tentavam disfarçar.

— Bem, isso é verdade. Eu acho que ele sempre soube, so precisava de um motivo pra perguntar a gente diretamente. Quer dizer... ele é militar sempre sabe quando está rolando essas coisas.

Ela disse guardando o esmalte dentro do estojo e soprou as unhas.

 — E não ficou uma situação estranha entre vocês?

 — Talvez tenha ficado, a gente ainda não conversou direito.

Eram filhos de pais separados. O pai deles era médico num hospital do exército, fazia vários plantões num hospital público e tinha um vício quase totalmente conhecido em medicação de tarja preta. Tudo começou com uma cartela de ritalina. A mãe era professora em outra cidade, desde o divórcio decidiu começar a viver sua vida longe do ex-marido e dos filhos, com no máximo uma ou duas visitas ao ano, e um ligação por semana.

O sinal tocou, mas elas não se levantaram. Continuaram ali, observando o corredor, esperando o irmão de July chegar. Ela avistou aquele homem, adentrando depressa, não olhava para ninguém, carregava um livro em uma das mãos. Mas o que chamou a atenção da jovem, for a o olho roxo no rosto do desconhecido.

Além disso, ambas as jovens tinham a ligeira impressão de que conheciam aquele homem de algum lugar

Era um alto, ele tinha ombros largos, passos firmes, mas levemente saltitante, como se mancasse de uma das pernas. Os dedos que seguravam a alça da mochila estavam com algumas feridas, o jeans que ele usava aparentava ser velho, mas a camisa parecia ter sido comprada naquele dia.

 — É Alexander Cabral! O escritor! – Disse uma das garotas que estavam sentadas na mesa do pátio.

Dulce e July fitaram o escritor atravessar todo o pátio e entrar na sala dos professores. Se entreolharam com a certeza de que aquele homem seria o substituto. O ano letivo tinha terminado de maneira trágica, o antigo professor de história tinha morrido enquanto dava sua última aula. Um mal súbito. Logo começaram a espalhar a teoria de que o cargo era amaldiçoado.

Mas aquele substituto parecia ter suas próprias maldições. Elas tinham certeza de que o ano seria conturbado.

•••

Correram pala a sala de aula, decidiram não esperar Daniel chegar, afinal faziam matérias diferentes naquele ano. Escolheram lugares próximos para se sentar. July pegou o celular para ver se tinha alguma mensagem do irmão, mas acabou se perdendo em uma rede social.

Já Dulce tentou ler um pouco, mas não conseguiu, estava tendo leves picos de ansiedade, quando olhou para a frente e teve certeza de que teria uma péssima companhia em sua sala. Seu nome era Antônio Coutinho, o cara era um idiota, tinha a certeza de que qualquer garota ao seu redor queria dar para ele. Se vestia feito um idiota, carregava um cigarro atrás da orelha e tinha feito uma tatuagem no antebraço. Em resumo, Antônio era um cara que achava ser dono do mundo, inclusive pensou ser dono de Dulce.

— Oi Dulce.

Ela não respondeu. Apenas olhou para July, implorando para a amiga livra-la daquele cara. Dulce não era o melhor tipo de pessoa para comprar uma briga, mas quando arrumava não conseguia mais sair.

 — Ela não está afim, Antônio! — July interveio pondo seu braço na mesa entre os outros dois.

— Pensei que sua amiga soubesse falar.

A amante Livro1 ( Em Revisão )Where stories live. Discover now