- Perdão, Miss. – ele falou em seu melhor inglês, mas seu sotaque não foi totalmente escondido, o que não passou despercebido por Caroline que o olhou dos pés à cabeça. Devido ao estado de desalinho dos cabelos, da bagunça das roupas e da tez bronzeada só poderia ser um pescador. Como ele sabia se comunicar em seu idioma?

Enrique pegou a garrafa de vinho que sobrara de sua farra da noite anterior e ofereceu à mulher.

- Creio que se sentirá melhor.

Caroline sabia que ele tinha razão. Sua boca estava seca. Estendeu a mão e recebeu a garrafa de vinho. Sentia-se horrorizada pelo que ia fazer, mas era a única forma. Sorveu o vinho diretamente do gargalo da garrafa com um grande gole e arrependeu-se amargamente. O gosto era muito forte para o seu paladar desacostumado. Engasgou com a bebida e tossiu, corando o rosto enquanto o estranho achava graça.

- Pelo visto a senhorita não está acostumada aos bons vinhos da España!

- E nem pretendo se todos forem como este! – ela respondeu irritada.

- Beba mais um pouco, vai lhe fazer bem.

Ela tentou novamente, dessa vez com mais cuidado, o que não impediu que uma gota furtiva escorregasse pelo canto de sua boca. Enrique acompanhou a maneira sensual com que ela usou de seu delicado lenço bordado para enxugar seu queixo, e gostou da sensação. Já se imaginava sendo enxugado por ela da mesma forma.

Caroline assustou-se com a intensidade no olhar do estranho para si e tentou levantar-se depois de colocar a garrafa no chão ao seu lado, mas ele se aproximou e, tomando suas mãos, ajudou-a a pôr-se de pé. Ela bateu o vestido tirando o máximo de areia possível.

- Preciso ir. Obrigada pela ajuda.

- Vou acompanhá-la.

- Não é necessário. – respondeu nervosa.

- E se a senhorita passar mal novamente? Eu insisto. – ele reafirmou oferecendo seu braço.

Ele não queria mesmo que Caroline Bingley aceitasse o braço de um pescador, queria?

- Minha criada deve estar um pouco mais à frente. Ela está a minha espera. – dito isso começou a andar.

Enrique pegou a garrafa de vinho do chão e acompanhou-a. Caroline bufou. Não diria mais nada. Se ele queria andar ao lado dela, que andasse, só não esperasse mais nada além daquilo. Ela não queria mais conversas com aquele estranho.

- Então Miss...?

- Caroline Bingley. – ela respondeu de má vontade.

- Onde está hospedada Miss Caroline?

- Numa hospedaria não muito distante daqui, próximo a Plaza Catalunya, creio. – ela respondeu de má vontade diante da maneira informal com que ele a tratava.

"Ela não é mesmo qualquer cortesã" – Enrique pensava consigo.

- Escute, você não tem que trabalhar? – ela indagou irritada com a conversa.

- Trabalhar? – Enrique surpreendeu-se com a pergunta.

- Sim. Você não estava pescando?

Ele não pôde suprimir um sorriso. Então ela o estava confundindo com um pescador.

- Falei algo engraçado?

Ele queria dizer que já havia pescado uma sereia naquela tarde. Mas achou por bem não prolongar tal assunto.

- O mar hoje não estava bom para a pesca.

- Lamento.

- Não lamente, miss. – dirigiu-lhe um sorriso enigmático.

Corazón PartioWhere stories live. Discover now