Ele não me olha, apenas aperta o volante com força e parece fuzilar a Letícia mentalmente.

— Sim.

— Eu amo a Letí, mas quero que saiba que ela é louca, muito louca — ele cria coragem e me olha. O azul celeste dos seus olhos está arrebatador. — Esqueça tudo o que ela disse.

Antes que eu consiga falar alguma coisa, ele desce do carro, pega minha mala e abre a porta do carro para eu descer.

— Vamos, vou te mostrar o quarto que você pode ficar, ainda está muito cedo.

A casa de praia do Cássio é enorme e muito bonita. Tudo parece no lugar certo, como se fosse uma casa familiar, não a casa de um homem solteiro.

Ele começa a subir as escadas e o sigo, ele para apenas quando chegamos em um corredor não muito longo.

— Pode ficar naquele quarto, o meu é no fim do corredor — ele fala colocando minhas coisas no chão e apontando para portas opostas. — Vou tomar uma banho e depois procurar alguma coisa para comer.

Pego minhas coisas e sigo para o quarto indicado. Não me preocupo em bater na porta, apenas abro e ligo a luz, me assustando quando dou de cara com um Daniel sonolento.

— Sinto muito, Daniel — apago a luz rápido. — Não queria te acordar.

— Está tudo bem, Rebecca — ele liga uma luminária ao lado da cama, esfrega os olhos, ajusta o travesseiro e senta escorado na cabeceira. — Acredito que não há mais quartos vagos. Não me importo de dividir esse com você.

Fico em dúvida do que fazer. Conheci o Daniel ontem, não tenho intimidade para dividir um quarto, mesmo que seja apenas por algumas horas.

Ele pega uma camiseta que estava ao lado da cama e veste.

— Assim está melhor? Que horas são?

Começo a me sentir um pouco mais confortável com a situação. Fecho a porta, solto minhas coisas ao lado de uma poltrona e caminho para perto da cama.

— Cedo, muito cedo. O sol está apenas começando a nascer.

— Deus! Qual é o problema com essas pessoas? — Ele volta o travesseiro para a posição anterior e deita novamente. — Por que parecem um bando de zumbis que não dormem?

Sorrio com a ideia de ser um zumbi, meus colegas de profissão sempre falam isso.

— Minha desculpa é minha profissão, a desculpa deles eu não sei.

— Hoje é domingo! Quero dormir até o meio-dia, você não? — Descansar não seria uma má ideia. Ele parece entender meu pensamento. — Vamos lá, deita aqui e vamos dormir até o meio-dia.

— Vou procurar outro quarto, não quero atrapalhar.

— Se você não gritar, não roncar alto, não chutar enquanto dorme e nem abusar do meu corpo sem minha permissão, não vai atrapalhar — ele fala sorrindo. — É sério, o Cléo não quis atrapalhar a Alice e o Lucas, então também ficou aqui. Não deve ter quartos sobrando.

Não ter quartos sobrando seria uma boa desculpa para eu ter que ficar no quarto do Cássio, mas não é ele quem está me oferecendo um lugar na cama.

Tiro minha rasteirinha, coloco meus óculos na mesinha de cabeceira, onde eu posso pegar sozinha, e deito de vestido por cima do edredom. O Daniel apaga a luz, vira para o outro lado e dorme.

Escuto um barulho longe, não consigo identificar exatamente o que é. Acordo totalmente quando percebo alguém me observando de perto, muito perto. Consigo identificar os olhos azuis do Cássio, sinto sua respiração na minha pele e seus braços estão me segurando.

Amizade, Amor e Você - DegustaçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora