Prólogo

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Era uma vez...

Mr. Hiddleston era um homem honrado e muito bem visto na sociedade de sua época. Sua importância era devida não só ao seu nascimento, pois seu pai havia sido um homem igualmente importante, mas à perspicácia e a juventude de Thomas.

Suas qualidades intelectuais o haviam transformado em um senhor de vários negócios e vastas propriedades por todo o território da Grã-Bretanha. Um exímio investidor, ele fazia valer cada libra que havia herdado da fortuna de sua família. Também, sua beleza era algo que não ficava atrás de suas posses. De cabelos claros e ondulados, tinha os olhos de um azul vívido e profundo. Seu sorriso gentil se fazia marca importante em seu rosto quase perfeito, simétrico. Dizem que quando mais novo um só sorriso de Mr. Hiddleston era necessário para fazer com que uma bela donzela jamais o esquecesse.

Fora a beleza e as posses, suas maneiras eram também elogiadas pelos que tinham prazer de estar em sua companhia. De índole generosa e amável, sua presença era querida por todos nos eventos sociais de devidos a seus círculos.

Sobre seu coração. Ainda era bem jovem quando desposou uma moça chamada Vivien Lucas, uma jovem senhora da burguesia inglesa. Os pais da moça eram prósperos comerciantes, e ficaram muito alegres quando Mr. Hiddleston, um rapaz da alta nobreza, escolheu sua bela filha para desposar. Aquele era mais que um sonho para todos os pais da época, principalmente entre os ricos comerciantes que não tinham laços de sangue nobre correndo em suas veias.

Vivien Lucas, ou Mrs. Thomas Hiddleston como passou a se chamar depois do casamento, era descrita pelos poetas e cantores de sua companhia como um belo e dócil anjo. De cabelos dourados e lábios delicados, de voz mansa e atitudes caridosas, todos a amavam, principalmente seu terno marido.

Após o casamento, o casal resolveu abandonar a capital e ir viver em Greenhill Park, uma de suas propriedades nas colinas ao sul de Londres. Ali seria melhor para criar os filhos que, segundo Thomas, seriam muitos. Queria várias crianças para encher a propriedade onde cresceu sozinho já que, após a morte de sua mãe, seu pai havia decidido não se casar novamente, assim não lhe dando irmãos.

Mas o calor da cidade é viciante e, após poucos meses da mudança, Mr. e Mrs. Hiddleston decidiram ir a Londres visitar alguns amigos e sentir o fulgor voraz da cidade acinzentada novamente. Estavam animados. Eram recém casados e Londres parecia uma boa ideia para que pudessem aproveitar juntos alguns momentos da vida na capital.

Entretanto, os deuses não achavam a mesma coisa. Aquela ideia não poderia ter sido a pior. A jovem senhora mal havia acabado de chegar à cidade e já caíra doente. Vivien fora vítima do surto de cólera que aterrorizou os habitantes da capital em 1853. Infelizmente, apesar de todos os esforços de Mr. Hiddleston, Vivien não resistiu. A jovem e bela senhora, preciosidade da vida de seu inexperiente e apaixonado marido, se transformou em um corpo frio e miserável sobre um leito de piedade.

Thomas fez de tudo para estar com ela em seus últimos suspiros, porém foi impedido. O medo, por parte de seus conhecidos e amigos, de que ele acabasse do mesmo jeito que Vivien era maior. Mas Mr. Hiddleston não tinha dúvidas de que esse também era seu destino, seria fiel à sua amada não só até a morte, mas também para além dela. Se seu destino fosse morrer a seu lado, ele o faria. Porém, Dr. FlitzMiliam, antigo amigo de seu pai, o proibiu de ao menos chegar à porta do quarto de sua moribunda esposa.

"Você é o último e único herdeiro do nome Hiddleston, não pode fazer a desfeita a seu falecido pai de deixar que seu nome acabe em uma cama de penas com surtos de vômitos e calafrios."

O jovem Mr. Hiddleston foi metido em uma carruagem com sua governanta Mary e levado de volta a Greenhill Park. Dias depois, após passá-los trancado em seu quarto aos soluços de agonia, recebeu de um mensageiro a notícia de que Vivien havia sido enterrada em um campo aberto cheio de suas amadas flores amarelas, e bem distante da civilização para que descansasse em paz e tivesse seu nome lembrado pelas belezas da criação.

"Ela é uma Hiddleston! Deveria estar aqui, descansando ao lado dos meus pais."

Ele gritava.

"Senhor, entenda, a doença a que sua esposa foi acometida é contagiosa e muito perigosa... Todos querem o seu bem, senhor... Eu sinto muito."

O rapaz que tinha sido o orgulho de seu importante pai, o rapaz que era referência no meio da elite social inglesa já não era mais o mesmo. Foi tomado por um tremendo desgosto e culpa. Ele tinha certeza de que era o responsável pela morte da esposa.

"Maldito o caminho que nos levou à desgraça. Maldito o homem que puxou as rédeas para que fossemos amaldiçoados naquela cidade de ímpios. Só desejo que essa mazela devaste aquela terra..."

Seus olhos eram brasas de ódio e dor.

"Senhor, por favor... Deus não se agrada dessas palavras."

Um homem não merece ser viúvo, esse era um privilégio que não o agradava. Nunca havia feito mal a ninguém, por que estava sendo castigado?

Então passou a orar a Deus, todos os dias, pedindo, suplicando para que sua vida fosse tirada. Tinha no coração que seu maior desejo era o de abandonar essa terra de injustos, de ímpios. Porém suas preces não foram atendidas, nem mesmo ele tinha coragem de fazê-lo.

"Por que me maltratas, Deus? Gosta de me ver sofrer? Sempre fui fiel a ti, nunca cometi nenhuma injúria sob teu nome... Por que não me escutas? Por quê?

Por que não o escutava? Por que Deus não o escutava? Aquilo só teria uma explicação:

"Deus não existe!"

O que lhe contavam sobre um ser maior, bondoso e que tudo podia, não passava de uma invenção. Não passava de história para crianças. E ele já não era mais uma.

Em um momento de grande angústia mandou que fechassem todas as paroquias erguidas em suas propriedades. Thomas sentia que não podia mais fazer parte da disseminação desse mito que chamavam de Deus.

"Senhor, isso é loucura. Não o faça. Por Deus, senhor..."

"Não use essa palavra perto de mim, Mary."

"Senhor, seu nome será jogado aos ratos... Quem sabe até excomungado."

"Isso é um passatempo de pessoas que rezam ilusões e esperanças que não existem. Não quero isso nas minhas costas. Quem sabe os tipos de pessoas que poderão surgir quando abrirem os olhos à realidade?"

"Pessoas tristes, sem nenhuma esperança e motivo de vida surgirão. Senhor, entenda, eles não possuem muitas alegrias ou motivos para momentos de paz... Essas pessoas, seus inquilinos, precisam disso para que não se tornem amarguradas. Elas precisam disso para que aguentem a vida injusta que levam. Se não pelo senhor, faça por aqueles que moram em suas terras. São um povo tão bom... Um povo que ainda o admira tanto... Eles não merecem isso."

Mr. Hiddleston nada falou, apenas se trancou em seu escritório e ficou lá por horas, sem comer ou sair para respirar o ar puro. As palavras de Mary, apesar de tudo, tinham um fundo de verdade. Os menos abastados precisavam de algo para se apegar. Eles não veriam, de uma hora pra outra, a verdade que Thomas via. Assim, desistiu de seus planos para as paroquias e decidiu que não estava mais apto a tocas seus negócios. Não tinha o porquê disso. Contactou seus advogados e passou o comando de suas posses ao fiel amigo Dr. FlitzMiliam, ele era o homem certo para continuar zelando pelo nome de seu falecido pai.

Assimos anos passaram e Mr. Hiddleston não mais deixou sua propriedade em GreenhillPark. Difícil eram as vezes que saía para caminhar ou ver a passagem dasestações. Sentia-se fraco e indisposto quase sempre. A única coisa que sepermitia fazer, quando não estava trancado em seu quarto caído por algumpassamento, era contar suas horas nos jardins da propriedade acompanhado porMary, lendo algum romance ou observando os pássaros que ali gostavam de viver.


Golden Slumbers - Tom HiddlestonOnde as histórias ganham vida. Descobre agora