Erguida em pedra antiga, escura como noites sem lua, sua altura era tamanha que até um gigante atravessaria seu vão sem curvar a cabeça. As marcas do tempo não a enfraqueciam — ao contrário, tornavam-na mais viva. Cada fissura era uma memória. Cada símbolo entalhado, um juramento que jamais foi quebrado.
Gravadas aos pés da porta, onde nenhum olhar apressado ousava ignorar, as palavras permaneciam eternas, profundas como raízes:
“Entre justiça e verdade,
entre magia e inimigos,
entre morte e vida,
aqui estamos nós.
Protegendo a nossa magia.”
Não eram apenas palavras.
Eram um limite.
Um aviso.
Uma promessa.
Quando a porta começou a se mover, não houve ranger. Houve silêncio — um silêncio pesado, respeitoso, como se o próprio castelo prendesse a respiração.
Adrian Arcana surgiu do interior da fortaleza.
O diretor não caminhava com pressa, nem com ostentação. Sua presença bastava. A vara em sua mão — entrelaçando os símbolos de Floralis e Thundrakh — pulsava levemente, como se reconhecesse o mundo além das muralhas. Vida e força. Cura e impacto. Raiz e trovão.
Ele atravessou o limiar da porta como quem atravessa eras.
À sua frente, o pátio de Arkana se estendia vasto e grandioso, amplo o suficiente para comportar batalhas, festivais e destinos entrelaçados. O chão de pedra clara contrastava com as muralhas antigas, e acima deles, o céu parecia sempre atento — como se soubesse que ali nada acontecia por acaso.
Ali estavam eles.
Os novos alunos, inquietos, olhos arregalados, corações acelerados.
E os veteranos, retornando com passos mais firmes, cicatrizes visíveis ou não, carregando histórias que Arkana nunca apaga — apenas guarda.
Entre os recém-chegados, um grupo em especial permanecia unido. Não chamavam atenção ainda. Não sabiam que chamariam. Arkana já sabia. Mas o castelo é paciente.
Adrian ergueu o olhar, e o pátio silenciou.
— Bem-vindos de volta ao Castelo de Arkana.
Sua voz não ecoou. Ela se espalhou.
— Aqui, vocês não aprenderão apenas a conjurar magia. Aprenderão a existir com ela.
Ele fez um gesto sutil, e o ar ao redor pareceu vibrar.
— Antes dos testes… vocês conhecerão aqueles que caminharão ao lado de vocês neste ano.
O primeiro grupo a avançar foi o da Bestiaria.
Homens e mulheres marcados pelo instinto, pela fera interior que não pede permissão para existir. Ali não se ensinava dominação, mas convivência com o selvagem. Seus tutores carregavam presenças distintas — garras invisíveis, olhos atentos, silêncios cheios de significado.
À frente deles estava Torvan Beastheart.
Postura firme. Olhar direto. Nenhuma tentativa de parecer maior do que era — porque ele já era.
— A Bestiaria ensina que negar a própria natureza é a forma mais rápida de perder-se — declarou Adrian. — Aqui, vocês aprenderão a ouvir a fera… e a guiá-la.
Em seguida, a Floralis se apresentou.
Suave, mas jamais frágil. Seus tutores traziam o cheiro de terra molhada, folhas esmagadas e rios antigos. Cura, crescimento, venenos e equilíbrio coexistiam ali como partes de um mesmo ciclo.
Elara Goldenwood avançou com passos tranquilos. Havia algo nela que acalmava até o ar.
— Floralis sustenta Arkana tanto quanto as muralhas — disse o diretor. — Onde há vida, há responsabilidade.
O pátio sentiu isso.
A Sanguis veio depois.
O murmúrio foi inevitável.
Sangue sempre chama atenção.
Mas ali não havia ameaça gratuita. Os tutores da casa carregavam expressão séria, consciente. Nada de glamour. Nada de horror.
À frente, Seraphin Bindingvein mantinha as mãos cruzadas, como quem conhece limites porque já os ultrapassou um dia.
— Sanguis não celebra o sangue — explicou Adrian. — Ela o respeita. Aqui, poder e ética caminham juntos. Ou não caminham.
O silêncio que se seguiu foi pesado… e necessário.
Então, o chão pareceu vibrar levemente com a chegada da Thundrakh.
Força pura, sim — mas também controle, construção e defesa. Seus tutores pareciam capazes de derrubar muralhas… e erguer outras no lugar.
Drakkar Thunderhold, com a cicatriz marcando o rosto como um troféu honesto, sustentava o olhar dos alunos sem desafio.
— Thundrakh ensina que força sem propósito é destruição — disse o diretor. — E propósito sem força é apenas desejo.
Por fim, a Venefica.
Silenciosa. Precisa. Seus tutores observavam mais do que falavam. Frascos, símbolos discretos, mãos que sabiam desfazer antes de criar.
Seraphina Vialweaver inclinou levemente a cabeça. Um gesto simples, carregado de intenção.
— Venefica lembra a Arkana que todo poder cobra um preço — concluiu Adrian. — E que sabedoria é escolher quando não usar magia.
Então, o diretor voltou-se novamente para todos.
— Essas casas não existem para separar vocês… mas para revelar quem vocês são.
O vento atravessou o pátio.
As bandeiras tremularam.
E o castelo observou.
Os testes ainda viriam.
As quedas também.
Mas naquele momento, sob a sombra das muralhas antigas, Arkana havia feito o que sempre faz no início de um novo ciclo:
acolheu.
E, em silêncio, escolheu quem jamais sairia ileso de suas próprias histórias.
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O castelo de Arkana
FantasySinopse Ninguém em Arkana esquece o dia em que o céu se abriu. Do alto, entre nuvens rasgadas e um silêncio que precedeu o impacto, uma garota caiu - não como punição, mas como chamado. O Castelo de Arkana, escola erguida entre magia, tradição e seg...
