Camila sempre foi acostumada a manter tudo sob controle - olhar sério, postura impecável e uma confiança que parecia inabalável.
Mas o que acontece quando o que tá dentro transborda? Quando a queda vem justamente no meio da maior oportunidade da car...
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Gabi Guimarães – Point of View
Ciúmes. Era exatamente esse o sentimento que me corroía nesse exato momento. Após a vitória contra a seleção italiana, tudo o que eu queria era levar Camila pra jantar, só nós duas, sem ninguém por perto, pra que enfim eu pudesse ficar a sós com ela. Esse era o meu plano quando mandei mensagem pra Macris pedindo que dormisse no quarto de Antunes hoje. Mas, como aparentemente tudo no mundo gosta de dar errado comigo, e olha que eu tô sendo bem realista quanto a isso, aqui estou eu.
Minha futura namorada, eu, e Antropova. Num restaurante italiano, a poucos metros do hotel onde a seleção da Itália estava hospedada.
Sim, a ironia não passa despercebida.
Eu sei que elas tinham amizade no Igor, sei que dividiram muito tempo na mesma quadra. Mas será que não poderiam ter enterrado essa relação em algum beco de Novara e deixado lá? Porque agora, a cada vez que Camila sorria pra aquela russa gigante, eu sentia como se alguém tivesse apertando meu estômago por dentro.
E era impossível ignorar que ela estava dando em cima da minha mulher. Claro que estava. Até quem estivesse sentado três mesas atrás de nós perceberia a aproximação exagerada, o riso fácil, o jeito estudado de inclinar o corpo toda vez que falava com Camila.
E Camila ingênua demais pra perceber o jogo. Achava graça de cada comentário, ria como se fosse algo inocente. Só que não era. Eu sabia que não era. A forma como Antropova deixava o olhar correr devagar demais, a pausa calculada antes de sorrir, até o jeito de segurar a taça de vinho como se quisesse exibir algo… tudo gritava intenção.
Minha vontade? Levantar e atravessar a mesa, arrancar aquele sorriso irritante com um soco bem dado e deixar bem claro que Antunes já tinha dona. Só que não podia. Não ali, não agora. O que me restava era engolir o ciúme e fingir uma calma que estava longe de existir.
Debaixo da mesa, fechei a mão em punho, tentando aliviar a tensão, mas só consegui sentir as unhas marcando a palma da mão. Por cima, disfarcei apoiando o cotovelo e descansando o queixo na mão, como se estivesse apenas ouvindo a conversa. Na verdade, não prestava atenção em porra nenhuma.
Antropova falou algo em italiano, e Camila riu, mas riu com vontade, daquele jeito que fazia seus olhos se fecharem por um instante. Aquilo foi a gota d’água pra mim. Senti meu estômago revirar. Como se cada gargalhada dela fosse um recado pra mim: “ela tem o poder de fazer a minha mulher sorrir assim também.”
Respirei fundo, tão fundo que quase me engasguei.
“Respira, Guimarães. Respira. No fim das contas, é em cima de você que ela vai terminar a noite.”
Era o que eu repetia pra mim mesma como um mantra, só que a cada vez que Antropova se aproximava mais, eu sentia esse mantra ruir. O jeito como ela ajeitou a cadeira, inclinando-se perigosamente pra perto da Camila… aquilo não era amizade pra ela, nunca foi.