- Espera. Notícia? Que notícia?

A confusão estampada no rosto de Melanie era claramente um reflexo da minha própria. Logo pensei em Kieran, e que alguma coisa teria acontecido. Mas, segundo nossos amigos, ele estava se recuperando bem.

Um olhar confuso tingiu a face do médico, mas este foi rapidamente substituído por outro. Consternação. - Imaginei que alguém já tivesse vindo avisá-los. Bem, não existe jeito fácil de dizer isso. - ele respirou fundo e olhou para nós desolado. - Julianne perdeu o bebê que esperava.

Ah, meu Deus!

Estávamos em choque. Os três. Outra vez eu não sentia minhas pernas. Não. Não. Não. Minha cabeça ficava repetindo, na esperança de que pudesse mudar aquela realidade. Por que, era isso. Realidade. E não havia nada que pudéssemos fazer a respeito.

- Meu Deus. - incapaz de conter as lágrimas, Melanie apoiou as costas em Pete, que envolveu seus ombros com as mãos, confortando-a.

- Sinto muito, mas, não houve nada que pudéssemos fazer. - disse o médico, mantendo o rosto impassível, embora fosse possível ver que isso requeria muito esforço.

- Kieran já sabe? - perguntei. Ele desviou os olhos de Melanie, que continuava chorando, e me encarou. - O rapaz que estava com ela no carro. Ele era o pai do bebê.

Era. Por que não existe mais bebê. Não existe mais Jill.

- Não. Eu estava indo falar com ele, mas preferi tranqüilizá-los a respeito da garota primeiro.

- Obrigado. Eu posso ir junto?

Ele pensou um pouco, e então assentiu.

Com um ultimo olhar para Pete e Melanie, segui o médico pelo corredor iluminado de onde chegara minutos atrás. Ele me levou por entre milhões de salas. Um labirinto infinito. O cheiro frio comum em hospitais atingiu minhas narinas, trazendo uma sensação desagradável. Subimos um lance de escadas e depois uma rampa larga. No terceiro andar, o homem a minha frente parou diante de uma porta e fez um sinal para que eu me aproximasse.

- Como é o seu nome? - perguntou.

- Jude.

- Jude, não sei como seu amigo vai receber a notícia. É bom estar preparado para qualquer reação. - Eu assenti, e ele continuou. - Vou entrar e ver como ele está. Só então saberei se posso falar sobre... Desculpe, com a urgência dos acontecimentos não tive de tempo de saber. Eles são casados? Não me lembro do sobrenome que consta no prontuário de Julianne.

- Eles moram juntos. - respondi.

- Certo. Namorados então. - o médico sorriu amavelmente, e logo depois suspirou - Já tive que dar inúmeras notícias como essa antes. Mas, você ficaria surpreso em saber que é a primeira vez que lido com um casal tão jovem. Eles com certeza sentirão essa perda. Mas, como eu disse, são jovens. Eles poderão tentar novamente quando sentirem que estão prontos. Talvez você possa ajudá-los a ver isso em longo prazo. O que eu disser hoje pode não servir para muita coisa.

Não sei o que ele pretendia com aquela conversa fiada. As palavras entravam e se avolumavam formando conexões que não apresentavam grande sentido. Se o objetivo era me preparar para o que eu encontraria do outro lado, e me deixar calmo, talvez ele ficasse surpreso em saber que não estava funcionando. Por que demônios ele não abria logo a porta? Eu queria ver Kieran. Precisava ter certeza que ele estava bem.

Como se guiado pelos meus pensamentos, ele assim o fez. Abriu cuidadosamente a porta, e espiou pela abertura que se mostrava maior aos poucos. Kieran estava deitado, com a cabeça apoiada em travesseiros, encarando o teto. Quando ouviu o barulho da porta, ergueu a cabeça. O jeito como ele a moveu, parecia que pesava cinqüenta quilos. Meu amigo estava um pouco pálido. Não sei o que ele viu quando olhou para nós, mas suas sobrancelhas caíram em peso sobre seus olhos.

Impossível Resistir - Serie Paradise City - Livro 2Onde as histórias ganham vida. Descobre agora