Das cartas de Natália,
Tu estás comigo. Eu te sinto. Mas não, não me perguntes por
que, eu não saberia responder. Vejo-te cada vez que fecho os olhos.
Saio de casa tentando esquecer, a lembrança é muito forte é como
uma brasa, uma chama que ironicamente queima meu coração, e
talvez por isso te traz para tão perto de mim. Disfarço perante as
pessoas, mas aquele dia está gravado em minha memória junto com a
culpa... Culpa porque tive pensamentos infames, como se isso pudesse
ter mudado o teu trágico destino. Uma tarde de sol que não pode
deixar meus pensamentos, mesmo dormindo (se é que durmo!) não
consigo abandonar aquela desastrosa tarde de sol. Era linda, assim
como tu eras lindo. Oh! Que distraída, não tinha ainda reparado no
teu sorriso que iluminava aquele dia e ofuscava a luz do sol! Não mais
te verei. Entre mil pessoas e o pensamento em ti, por quê? Éramos duas
partes de uma mesma alma? Tínhamos alguma missão a cumprir?
Juntos? Era ainda muito cedo... Fico sozinha um instante e ali estás
de volta, forte e onipresente, inundado em minha mente. Terás me
enfeitiçado? Tu não poderias. Tento me concentrar em meus afazeres,
mas continuo sentindo que me destinas uma missão. Vem logo então!
Dize-me o que fazer. O que posso fazer?
Tu estás perto. Em cada pássaro que voa, fazendo estripulias,
rasgando o céu cinzento, tu estás. E cada uma dessas aves que
cantam, livres no espaço, soltas no vazio, és tu nos abençoando com
tua presença marcante. Oh! Como eu queria ter-te novamente em teu
ninho, linda e voraz fênix! Confesso-te que, quando vi outra como tu,
quase a confundi contigo! Era tão voraz quanto tu e fez meu coração
quase parar de bater! Por um momento abracei a doce ilusão de que
tu podias ter voltado. Um regresso impossível... Mas que poderia ter
sido tu, enviando-me o sinal que te pedi. Arrepios percorrem o meu
corpo enquanto derramo estas palavras fúnebres no papel gelado.
Sinto calafrios que tomam conta do meu corpo sempre que ouço os
sons (e eu os ouço o tempo todo dentro de mim), eles ficaram gravados
em mim, o baque seco e depois a explosão. Pensei ter visto o teu rosto
esculpido na fumaça negra. Estou te esperando e assim estarei até que
julgues conveniente levar-me contigo.
Sim, eu sinto a tua mão acariciando meus cabelos quando em
meu leito, forte e gentilmente, talvez receoso, tentas dizer-me que estás
bem, ou que não estás? Tive a impressão de que me disseste "Não te
preocupes mais!", apenas uma impressão. Mesmo assim, consoladora,
aliviou minha consciência. Mas não a minha alma. Ainda anseio
por ti. Muito. Clamo por tua presença zelosa, não sei se deveria, mas
chamo-te o tempo todo. O desejo queima tanto quanto as chamas
que te levaram embora. Arde dentro da alma e faz com que a
respiração fique fraca e o coração bata descompassado, e por vezes,
lágrimas brotam dos meus olhos cansados. Então eu acordo! É preciso
ter controle para não deixar o rio de emoções arrastar-me em sua
forte correnteza. Até mesmo o vento gelado a açoitar minha pele te
traz até mim. Inacreditavelmente, depois que te foste, um frio intenso
abateu-se sobre todos nós, impedindo o sol de brilhar novamente. Os
céus também estão de luto por ti, não deveria ter sido assim e eu não
me convenço do contrário. O que fazes lá em cima, afinal? Eu preciso
saber! Por favor, dá-me a resposta pela qual tanto anseio! Acalma
minha alma e meu coração! Não importa o que digam ou que possam
dizer, apenas acreditarei no que quiseres que eu acredite, ouvirei a
verdade vinda de teus doces lábios e a ela, me entrego.
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O Voo da Fênix (Degustação)
RomanceDe repente, Natália vê-se diante de uma nova realidade: um aneurisma cerebral, que pode se romper a qualquer momento. Diante da nova realidade, descobre uma força de vontade antes adormecida e a vontade de encontrar o homem que a atormenta todas as...