Sn: E você, volte ao trabalho.

— Sim, coronel.

O cara não parece ter gostado muito, ou todos adoram mostrar suas repúdias uns aos outros.

Sn: Você... está melhor?

Jake: Sim.

Sn: Hum. Quando foi a última vez que dormiu?

Jake: Último... Outono?

Ela franziu o cenho, por um momento parecendo distante de onde estamos, mas logo voltou. E fez sinal para que eu a seguisse, até o pátio, onde estava a moto apreendida.

Sn: O que mais quer fazer com ela?

Jake: Uma última corrida.

Montei na moto e dei a partida, e estendi minha mão, esperando por ela, que me olhou primeiro confusa, e depois ergueu uma sobrancelha, algo como "sério?", e por fim aceitou. Laçou sua mão na minha e subiu, se ajeitando no banco e se segurando nas alças da garupa.

Sn: Onde vamos?

Jake: Para o esconderijo. Mas já vou avisando...

Jake: Só tem uma cama.

Sn: Lamento que você tenha que dormir no chão.

Sorri, e dei a partida. Nos dirigindo para meu esconderijo.

Sn: Mas e os arquivos? Eu deixei em casa.

Levei uma das mãos no meu bolso e puxei o pendrive, mostrando para ela, que sorriu e o pegou.

De repente senti um impacto na moto que nos lançou um pouco para frente, quase me fazendo perder o equilíbrio. O carro iria tentar mais uma vez, mas desviei a tempo.

Sn: E agora, quem são eles?

Jake: Melhor não ficarmos para descobrir.

Acelerei com a moto, tentando nos despistar do carro preto, mas o mesmo se manteve na nossa cola e tentou nos derrubar novamente batendo de lado na moto. A moto derrapou, e tive que incliná-la para que não caissemos, deslizando pela rodovia, molhada pela chuva. Quando retomei o controle, levantei a moto e acelerei, tentando nos afastar de novo.

Sn: Me segura.

Jake: Que?

Ela tirou tirou minha mão esquerda do guidão e levou para sua cintura, e se arqueou na moto com a arma na mão mirando no carro. E após 2 disparos certeiros nos pneus, eu a puxei, talvez com força demais, fazendo ela bater em minhas costas e segurar meu peitoral.

Tentei ir mais rápido antes que tentassem mais alguma coisa, mas não foi o bastante. Eles nos atingiram com o carro de novo, e como ultimo recurso, peguei a outra via nos distanciando completamente do carro que não tiveram tempo para virar e seguiram em frente.

Graças a pista molhada, não consegui manter a moto, e nós caímos, derrapando pela pista mas não a soltei. Sua mão estava unida a minha e eu a puxei para mim, abraçando o seu corpo até que finalmente paramos quando minhas costas atingiram fortemente a mureta.

Jake: Você tá bem?

Sn: Sim... Sim.

Ela se levantou, verificando que ninguém mais nos seguiu e só então voltou sua atenção para mim, tentando me levantar.

Sn: O quão longe estamos do esconderijo?

Jake: Não muito.

Me levantei finalmente, usando a mureta. Andei até a moto e a levantei.

Sn: Está bem para dirigir?

Jake: Já estive pior.

Subi na moto e logo ela fez o mesmo.

Jake: Precisamos sumir logo.

Sn: Fico imaginando o que você fez para ser tão perseguido assim.

Sn: Eu vou descobrir quando ver esse pendrive, não é hacker?

Jake: Devo avisar que... Não tem nada bonito aí.

Sn: Certamente não esperava que tivesse, mas você me avisar faz parecer ser algo brutal.

Jake: Eu só tô dizendo que...

Sn: O que tem aqui, hacker?

Jake: Ouça.

Jake: Meu primeiro crime foi alterar os resultados da tele-sena para dar uma vida melhor para minha mãe, e depois eu fugi. Para protegê-la.

Jake: Eles me encontraram e disseram que tudo ficaria bem desde que eu fizesse o que eles queriam. E eu... Fiz coisas ruins.

Sn: Você se rebelou?

Jake: Não. Eles me pediam para invadir sistemas, aqui e ali. Mas eu nunca soube do que realmente se tratava e quando eu descobri...

Jake: Eu...

Jake: Eu apaguei provas de investigações, facilitando a fuga de criminosos. Lavei dinheiro para eles sem perceber, criando contas fantasmas para esconder bilhões. Hackeei bancos, fiz transferências ilegais e achei que era só mais um golpe.

Jake: Alterei registros, Sn. Identidades de pessoas que nunca mais foram encontradas. Gente que pode ter sido vendida, morta. Invadi sistemas para roubar informações e entreguei dados que usaram para chantagem, espionagem, assassinatos.

Jake: Deletei imagens de câmeras de segurança sem saber que estava encobrindo execuções. Modifiquei laudos médicos, assinando a sentença de gente que talvez ainda estivesse viva.

Jake: Criei documentos falsos para criminosos que precisavam se esconder. Sabotei empresas inteiras, levei negócios à falência. Hackeei eleições. Alterei resultados. Fiz líderes subirem e caírem sem nunca sequer saber seus nomes.

Jake: Eu ajudei a desviar dinheiro de hospitais, de escolas, de projetos que podiam salvar vidas. E sabe o que é pior? Eu criei backdoors, acessos escondidos que foram usados para ataques cibernéticos. Eu posso ter ajudado terroristas sem saber.

Jake: Facilitei a venda de armas para traficantes. Alterei identidades de testemunhas protegidas, tornando-as alvos fáceis. Derrubei sistemas de segurança pública, deixando cidades inteiras vulneráveis.

Jake: E tudo isso… achando que era só mais um trabalho. Que não estava fazendo nada de errado e ainda protegendo minha mãe.

Ri sem humor, tentando me desfazer das lágrimas que embaçam meus olhos e voltando a atenção para a estrada.

Jake: Então me diz, Sn... Depois de tudo isso, você ainda confia em mim?

Sn: Eu...

Ela já não estava exatamente próxima a mim, se segurando na alça de apoio da moto, mas agora, parecia querer ainda mais distância, para evitar me tocar minimamente.

Sn: Se... Você puder provar que foi obrigado... Talvez eu...

Jake: Não. Não tenho provas. Sequer tenho os dados de tudo o que fiz.

Jake: Eles pegaram quando eu descobri tudo e quis sair.

Sn: O que tem nesse pendrive então?

Jake: As consequências da minha saída.

Liguei a moto e dei a partida dali. Por sorte, já não estávamos tão longe, o clima está pesando entre nós.

Seu Hacker Where stories live. Discover now