Depoimento de Alice

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Eles falaram que você chegou perto dela
E de mim para ela falou
Ela achou que eu era um bom caráter
Mas não me deixou nadar ainda assim.

Ele deu sua palavra que não tinha sido eu
(E todos sabemos, isso é verdade)
Se ela quisesse mesmo saber
O que aconteceria com você?

Eu dei para ele um, eles lhe deram então dois,
Você para nós deu três ou mais
Eles todos devolveram os seus
Mas todos eram meus antes

Se houvesse chance de ela ou eu
Estarmos envolvidos nesse problema
Ele pediria a vocês para libertá-los
E fomos libertados.

Eu achava que era o que tinha sido
(Antes de ela dar seu estrilo)
Um obstáculo que apareceu
Entre ele, nós e aquilo.

Não o deixe ver que ela a eles tem amado
Para sempre deve ser
Um segredo, de todos mantido a parte
Entre você e eu.

"Esta é a prova mais importante que já ouvimos aqui", disse o Rei esfregando as mãos, "portanto, vamos agora aos jurados..."
"Se algum deles for capaz de entender os versos", disse Alice (a menina tinha crescido tanto nos últimos minutos que não estava com medo nenhum de interromper o Rei), "eu lhe darei seis pence. Eu acho que não há um mínimo de sentido em nada."
Todo o júri escreveu, em suas lousas. "Ela acha que não há um mínimo de sentido em nada". Mas nenhum deles se habilitou a explicar os versos.
"Se não há sentido neles", disse o Rei, "isso livra o mundo de um incômodo, você sabe, não precisamos procurar um. E eu não sei não", ele continuou desdobrando o papel sobre os joelhos, olhando para ele de rabo de olho, "eu até diria que há algum sentido neles, afinal de contas '...Mas disse que eu não sei nadar...' Você não sabe nadar, sabe?", ele perguntou virando-se para o Valete.
O Valete balançou a cabeça tristemente. "Eu pareço com alguém que sabe nadar?", ele respondeu (Certamente que não, pois ele era uma carta de baralho feita de papelão.)
"Tudo bem por enquanto", disse o Rei, que continuou a falar sobre os versos para si mesmo: "E isso, nós sabemos, é verdade...isso é o júri, claro...Porém, se ela quisesse ir ao fim...isso deve ser a Rainha...Que seria de ti, saber quem há de?...O quê, afinal?...Deram duas a ele, a ela dei uma...ora, isso deve ser o que ele fez com as tortas, certo?"
"Mas os versos continuam com Todas voltaram, não faltou nenhuma", disse Alice.
"Certo, lá estão elas!", disse o Rei com ar de triunfo, apontando para as tortas sobre a mesa. Nada poderia ser mais claro que isso. Depois vem...Antes dela dar seu estrilo... você nunca deu estrilo algum, não é, minha querida?", ele disse para a Rainha.
"Nunca!", respondeu a Rainha furiosamente, jogando um tinteiro em cima do Lagarto enquanto falava. (O infeliz pequeno Bill tinha parado de escrever na lousa com o dedo, pois percebera que de nada adiantava; mas depois do ataque começou a escrever novamente usando a tinta que lhe escorria pela cara, enquanto não secava.)
"Então suas palavras têm estilo", disse o Rei olhando para o tribunal com um sorriso. Havia um silêncio de morte.
"É um trocadilho!", o Rei completou com raiva, e então todo mindo começou a rir. "Deixemos o júri considerar seu veredito", disse o Rei, mais ou menos pela vigésima vez no dia.
"Não, não!", disse a Rainha. "A sentença primeiro...depois o veredito."
"Que disparate!", disse Alice em voz alta. "Que idéia imbecil esta da sentença antes!"
"Dobre sua língua", gritou a Rainha, vermelha de raiva.
"Não dobro não!", respondeu Alice.
"Cortem-lhe a cabeça!", a Rainha berrou o mais alto que pôde. Ninguém se mexeu.
"Quem se importa com você?", disse Alice (que acabara de voltar ao seu tamanho normal). Vocês não passam de um baralho de cartas!"

Nesse instante todo o baralho voou no ar, começando depois a cair sobre Alice; ela deu um gritinho, meio com medo, meio com raiva, tentando rebatê-las. A menina achou-se então deitada no barranco com a cabeça no colo da irmã, que gentilmente afastava algumas folhas secas que tinham caído da árvore sobre elas.
"Acorde, Alice querida!!", disse a irmã. "Nossa, que sono pesado você teve!"
"Puxa, que sonho estranho que eu tive!", disse Alice. Então ela contou para a irmã, tão bem quanto pôde lembrar, as estranhas Aventuras que vocês acabaram de ler. Então, depois que terminou, sua irmã deu-lhe um beijo e disse "Foi um sonho curioso, querida, certamente; mas agora apresse-se, é hora do chá: está ficando tarde."
Alice levantou-se e saiu correndo, pensando enquanto corria que aquele tinha mesmo sido um sonho maravilhoso.
Mas sua irmã ficou lá mesmo, com a cabeça entre as mãos, pensando na pequena Alice e em suas maravilhosas Aventuras, até que ela mesma começou a sonhar e este foi seu sonho...
Primeiro, ela sonhou com a pequena Alice: mais uma vez sua mãozinhas estavam pousadas nos joelhos e seus olhos brilhantes olhavam para ela...ela podia até mesmo ouvir os diferentes tons da sua vozinha e ver aquele jeito só dela de atirar a cabeça para trás e afastar as mechas de cabelo que sempre teimavam em lhe cair sobre os olhos...e enquanto escutava, ou parecia que escutava, todo o espaço en volta dela ia ficando repleto daquelas estranhas criaturinhas do sonho da irmãzinha.
A grama farfalhava sob os pés do apressado Coelho Branco...o Rato assustado espalhava água para fora da lagoa...ela podia ouvir o tilintar das xícaras de chá enquanto a Lebre de Março e seus amigos partilhavam da sua refeição que nunca acabava, e a vozinha aguda da Rainha ordenando a execução dos seus infelizes convidados...mais uma vez o bebê-porco estava espirrando no colo da Duquesa, enquanto pratos e travessas se espatifavam em volta...e mais uma vez o guincho do Grifo, o ranger do giz do Lagarto e os tais aplausos sufocados dos porcos-da-índia enchiam o ar, misturados com os soluços distantes da miserável Falsa Tartaruga.
Sentada, com os olhos fechados, quase acreditou estar ela mesma no País das Maravilhas, mesmo sabendo que quando abrisse os olhos novamente tudo voltaria a ser a chata realidade de sempre...a grama se mexeria apenas com o vento e a lagoa estaria se movimentando apenas com os juncos...o tilintar da xícaras novamente seria o badalar dos sinos pendurados nos pescoços dos carneiros...os gritos agudos da Rainha seriam apenas os berros do pastor...o espirro do bebê, o guincho do grifo, e todas as outras coisas esquisitas iriam transformar-se (ela sabia) no confuso clamor da vida no campo...assim como o mugir do gado à distância iria tomar lugar dos pesados soluços da Falsa Tartaruga.
Finalmente, ela imaginou como sua irmãzinha, no futuro, transformar-se-ia em uma mulher adulta: e como ela iria manter, através da sua maturidade o mesmo coração simples e afetuoso da sua infância: como também ela sempre estaria cercada de criancinhas e faria os olhos delas brilharem com muitas histórias estranhas, talvez até mesmo com o sonho do País das Maravilhas de há muito tempo atrás; como ela adoraria compartilhar com suas tristezas simples e alegrar-se com suas brincadeiras ingênuas, lembrando-se da sua própria infância e daqueles felizes dias de verão.

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ALICE NO PAIS DAS MARAVILHASOnde histórias criam vida. Descubra agora