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But it's been two thousand one hundred and 90 days of our love blackout.
— Glitch, Taylor Swift

Um vozerio me acordou e meus olhos queimaram quando eu tentei enxergar algo no apartamento escuro, uma luz colorida oscilando na minha visão. Para mim, a pior parte do inverno era acordar no escuro, começar o dia no escuro, e ter pouquíssimos momentos de luz do dia.

— Louis? — Eu me sentei na cama e o achei parado do outro lado do sofá, encarando a Tv. — O que faz aqui?

Por um momento a noite de ontem desapareceu da minha cabeça, por um momento achar Louis naquele apartamento (e não no corredor), parado em pé na sala, vestindo uma calça social com o cinto nos passantes, mas aberto, uma camiseta branca de botões com a gravata desamarrada, era loucura.

Até que tudo pareceu chegar ao seu devido lugar quando eu comecei a processar a noite passada, o ontem; lembrei que fui demitido e que Louis quebrou o pé.

Louis se virou para mim, as sobrancelhas erguidas em surpresa, e pegou o controle para abaixar o som da Tv.

— Oh... a Tv te acordou?

— Sim. — disse, esfregando os olhos.

— Desculpa.

— Tudo bem. Você não devia estar trabalhando? — perguntei, me levantando da cama.

Louis não respondeu, apenas indicou a Tv e a matéria que passava. Uma série de imagens de árvores caídas, carros cobertos de neve, estradas interditadas e pessoas relatando coisas que eu não prestei atenção. Meu cérebro só conseguiu processar o título da matéria: Tempestade de neve assola Nova York. Todas as vias estão interditadas e autoridades pedem para que a população fique em casa.

Levei uma mão à cabeça. Ótimo! Nada de trabalho ou faculdade por hoje! Eu definitivamente devia ter feito algo de muito ruim e agora estava pagando por tudo.

— E como está o seu pé? — perguntei, vendo a calça bege toda amarrotada na parte de cima da bota ortopédica, como se Louis tivesse tentado enfia-lá ali dentro.

— Está ótimo! Mas essa coisa incomoda, posso tirar só por um momento? — perguntou com uma careta, e eu o olhei incrédulo.

— Claro que não, Louis! Ficou doido? Você quebrou o pé, não ralou o joelho. Tem que usar isso até o médico dizer chega. — esbravejei, a voz rouca de sono, comprimindo os olhos para olhá-lo. — E o seu queixo?

— Bem. — ele deu de ombros, olhando para o noticiário. — Coçando um pouco.

— Tente não coçar ou pode abrir os pontos. Eu já vou ver...

— Tem café na cafeteira.

Inalei profundamente pelo nariz, seguindo para a cozinha, tentando organizar os pensamentos, mas toda vez que eu tentava com mais afinco, parecia só piorar as coisas.

Voltei para a sala com minha caneca de café em mãos, sentando no sofá ao lado de Louis. Não me lembrava da ultima vez que tinha o visto vestindo roupas de trabalho. Ele sempre parecia tão sério e formal, como os homens de Nova York pareciam ao andar no caminho contrário ao meu enquanto eu voltava para casa mais cedo porque tinha perdido o emprego. Louis não era um homem de Nova York, e talvez por isso eu nunca o encontrava nas ruas. Mas eu queria, queria trombar com ele enquanto atravessava a rua e atrapalhar o trânsito; chamá-lo para tomar um café, almoçar, tomar uma cerveja na hora do almoço.

Eu tinha tempo para isso nos meus dias, embora fossem muito corridos (antes, quando eu tinha pra onde correr), e acreditava que ele também tinha. Talvez nos veríamos mais se não morássemos juntos, talvez nos encontrarmos pela rua fosse mais possível dessa forma. Eu gostaria de vê-lo mais, acho que nos daríamos bem. E é estranho pensar isso, como se nem nos conhecêssemos, quando na verdade já gozamos um no outro, mas em partes é real. Não nos conhecemos, achar que nos daríamos bem é só uma suposição que eu gosto de fazer.

meet me in the hallway  * l.s *Where stories live. Discover now