O n e s h o t

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Robert Freeman queria ganhar mais dinheiro para viajar e encontrou uma solução para isso: construir uma pensão. Depois de pronta, foi divulgada e não tardou em aparecer clientes. A princípio, tudo transcorreu tranquilamente. Mas os hóspedes começaram a brigar por coisas simples, com quem esquece chinelos no corredor fazendo muitos tropeçarem na hora de passar ou com quem esquece roupas, muitas das vezes as íntimas, no banheiro compartilhado. Era questão de pouco tempo para a paciência do vovô esgotar de vez.

Dois caras esperam na fila do banheiro. Chega um terceiro que fica na frente dos dois. O último da ordem berra com gosto:

- Ei, é cego por acaso? Não vê que sou o primeiro da fila?

O outro rebate sentindo uma veia inchar na têmpora:

- Tá de brincadeira, né? Deixa de ser um bosta! Não viu que coloquei até um banquinho para marcar o meu lugar? Eu que cheguei aqui primeiro!

Começaram a brigar com socos e chutes. O vovô não conseguiu ignorar a gritaria mesmo colocando a TV no volume máximo.

Robert desligou a TV rosnando, saiu da sala, passou pela porta que dá para a pensão e subiu as escadas já segurando o seu cinto para casos de resistência. Berrou:

- CHEGAAAAA! TODO MUNDO PARA FORA DESTA CASA! AGORA! ACABOU A PENSÃO!

Blenda, que acordou recentemente por causa da agitação, colocou a cabeça para fora do seu quarto e se deparou com a confusão, viu que o velho estava falando sério para todo mundo. Suplicou:

- Mas senhor Freeman... eu, eu preciso de um lugar para ficar.

- Sinto muito, Blenda, mas não dá para levar adiante essa idéia de pensionato. Sou muito velho para essas coisas! Não sei aonde eu estava com a cabeça quando decidi fazer isso.

Robert sai e Blenda morde o lábio. Voltando para o quarto, passa a arrumar as malas. Um dos caras que causou a confusão coloca a cabeça para dentro do aposento da morena:

- Boa sorte aí em encontrar uma casa, Blenda.

- Como se atreve a me desejar boa sorte, seu canalha estúpido? Não se comportaram como gente e agora estamos no olho da rua!

- S-sinto muito.

- Não, você não sente!

- V-você pode ficar na casa da minha mãe. Vou pra lá agora...

- Está falando sério? Ela mora do outro lado do país! Eu quero continuar em Woodcrest! Está me entendendo? Agora saia!

Blenda atira um travesseiro na direção do cara que some antes de ser acertado.

De malas prontas e emitindo um suspiro cansado, Blenda seguras suas bagagens pelas alças e se dirige a saída. Na porta, estanca imediatamente ao se deparar com o dono da ex pensão a sua espera.

- Blenda, eu preciso de sua ajuda.

- Com o quê, senhor Freeman?

- Vi no seu Instagram que trabalha de babá.

- Sim sou babá, gosto de crianças. Mas aonde quer chegar com isso? Precisa dos meus serviços?

- Sim! Cuide dos meus netos. Preciso sair imediatamente para... érr... - o vovô quer muito conhecer pessoalmente uma mulher que ele teve contato através de suas redes sociais - ver uns parentes distantes que estão com problemas e não sei quando volto. Se tiver algum problema sério, manda mensagem no WhatsApp, meu número está na geladeira. Mando dinheiro todos os meses e 40% dele é todo seu!

- O-ok...!

- Já até conversei com os meninos sobre se comportar caso eu os deixasse com uma babá. Tchau!

- Mas nem ferrando! - Riley murmura escondido, havia ouvido a última conversa de seu avô e não gostou da idéia de ter babá desde a primeira vez, em muito tempo, que ele mencionou.

Blenda volta para o quarto e assume a responsabilidade de ficar de olho nos dois pequenos. Na primeira semana, eles escolheram relutantemente se comportar se dedicando a ficar apenas no videogame e ir para a escola. Mas depois enjoaram dela e das regras que tinham que seguir para tudo não virar um caos, decidiram que iriam dá um jeito de se livrar da babá.

Blenda sai e antes diz que volta logo. Ela vai ao supermercado comprar alguns itens que esqueceu de colocar na lista de compras do mês. Quando volta, é recebida com bolinhas duras sendo atiradas contra ela assim que abre a porta. Os garotos não dão sinais de largar as arminhas de brinquedo e Blenda se encolhe, correndo para o arbusto mais próximo.

- Ai! Ai! Meninos! Parem!

- Continue atirando, Huey! - Riley brada e atira mais que o outro.

- Realmente deveriam parar! Estou precisando do dinheiro, pra valer! Vão ser tão cruéis assim? Preciso alimentar a minha irmãzinha.

- Yeah!

- Riley, abaixa a arma.

Huey pediu e foi ignorado com sucesso.

- Uhuuuh!

- Abaixa a arma, caramba.

Huey dá um tapão na nuca do empolgado e ele logo cessa o tiroteio.

- Ai! Aff.

- Está tudo bem, Blenda, já pode sair do arbusto.

Huey avisou e Blenda pode sair tranquila de sua fortaleza natural.

- Ah valeu, meninos.

Huey a guia até a porta, convidando e conversando.

- Entre.

- Obrigada, Huey, você é um anjo.

- Não sabia que tinha uma irmã.

- É, eu tenho. Ela tem a sua idade e vai chegar na sexta-feira. Seu avô disse que ela pode ficar aqui, com a gente, disse também que precisam mesmo de mais amiguinhas para brincar.

- Ah não! Sem chance!

- Riley, seja legal com ela.

Huey pediu mais carrancudo que o habitual.

- Só digo uma coisa: não vou dividir meus brinquedos com ela!

Riley diz já subindo para o quarto, batendo a porta logo em seguida.

- Ele vai sim. Talvez um brinquedo só mas vai. - Huey afirma.

Riley abre a porta para gritar:

- NÃO VOU NÃO!

E fecha outra vez.

Dias depois a irmã caçula de Blenda chega a residência dos Freeman. A babá faz apresentações visivelmente contente.

- Huey, essa é a minha irmãzinha Agatha.

- Olá, bem-vinda, Agatha Christie.

- Haha, olá. É só Agatha mesmo.

Riley desce as escadas ao ouvir vozes no andar inferior.

- Ah e este é o irmão dele, Riley.

- Oi, quer jogar basquete?

- Adoraria.

Agatha levanta o olhar para a irmã e indaga:

- Eu posso ir jogar basquete com ele lá fora?

- Que pergunta! Mas é claro! Vão lá! Vocês podem brincar à vontade, não precisam pedir a minha permissão para isso.

Riley e Agatha saem saltitantes.

- Eu não falei que ele iria dividir pelo menos um brinquedo?

- Ha ha, sim, você conhece bem o seu irmão.

Reino de Panteras NegrasWhere stories live. Discover now