No meio do jogo tinha uma notícia

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Então a maternidade me sobreveio.

Acabei dando entrada no hospital, porque eu sempre fui dessas.

Das que surtam achando que nunca vão dar conta.

Das que se acham na obrigação de fazer tudo tão perfeito que qualquer deslize torna-se uma completa tortura.

Das que pensam mais nos outros do que em si mesma.

Das que querem a oportunidade, mas que nem sempre se permitem viver por conta do medo.

Sou das que persistem, mas também já desisti de muita coisa.

Foi o fato de desistir, aliás, que me deu alguma coragem pra fazer diferente. Diferente do que todos pensaram: "mãe".

Tenho quase certeza de que ninguém associou minha imagem a um álbum de gestante. E, parabéns, acertaram! Nem mesmo fiz ensaio, porque eu não sou dessas.

Para quem planeja uma gravidez todo registro é extremamente importante, desde o primeiro teste de farmácia até a última ultrassom antes do nascimento. Na verdade, eu tive uma crise de riso quando ouvi, pela primeira vez, o coração daquela que é hoje, graças a Deus, e para sempre, o amor da minha vida. Estou considerando a ultrassom obstétrica, porque a primeira que fiz, na realidade, foi uma transvaginal. Foi um negócio tão chato, sabe? Fora da casinha! Estava tão deslocada que enquanto a moça falava um monte de coisa, tudo ligado ao feto, passava um filme em minha cabeça.

Era um filme tão preto e branco. E se a  minha vida fosse virar aquele tipo de filme? Mas eu sempre fui uma amante das cores. Não poderia ser dessa forma. E mesmo com um turbilhão de coisas, fiquei feliz, bem lá no fundo, por saber que ela estava bem. Tão bem quanto eu estava, dias antes, quando fui ao hospital com uma lesão pós jogo. Voltei para casa com uma série de medicações para tomar. Não tomei nenhuma, não me julguem por isso. Não tomei, e fiquei grata por não ter tomado nada, pois, dias depois, soube da existência da minha filha. Foi tudo muito louco! Queria que fosse mentira, mas a verdade era necessária naquele momento. A verdade era que eu já estava com uma vida em meu ventre. Chorei por ter sido tão dura, mas os meus sentimentos também estavam feridos. E eu sabia que não era culpa dela... Por que transformam tudo em jogo de culpados e inocentes? MATERNIDADE não é sobre isso!

Aliás, maternidade é sobre muitas coisas. É sobre o que acontece antes e depois do nascimento. Ser mãe de primeiro momento parece maravilhoso. Quem não acha lindo ouvir "te amei desde o primeiro segundo"? Eu, particularmente, até penso que esse é o pensamento. Mas quem consegue pensar também? Parece surreal! Enquanto umas mergulham de cabeça pra vivenciar a nova experiência, outras descem de tobogã. Há sempre um risco, a chegada, em ambos os casos, pode ser arriscada.

Arriscar tudo? Não arriscar nada? "Só ir".

Descobri tarde, mas, a meu ver, foi também muito cedo.

Cedo para deixar a partida, lutei tanto pra sair do banco.

Eu consigo voltar pra o jogo? Parece tudo tão incerto...

Diário das que voltamOn viuen les histories. Descobreix ara