IV - Serpente de Fogo

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Várias das árvores naquele bosque pareciam formar outras trilhas porque suas folhagens ficavam muito no alto e seus troncos eram finos, não ocupando muito espaço entre uma árvore e outra. Aeliana sabia que aquilo era uma enganação, principalmente quando se chegava aos carvalhos e as enormes raízes começavam a dificultar a caminhada. A única trilha do bosque era bastante larga, feita e cuidada por agricultores e caçadores que viviam do que encontravam por ali. Fora da trilha, o caminho era muito perigoso.

Aeliana se pegou imaginando como a jovem humana, com seu problema na perna direita, conseguiria andar por ali, principalmente sozinha. Além disso, ela ficou pensando no irmão que tinha ido em busca de recompensa e na família da moça. Nem os guardas eram capazes de resolver o problema com a serpente de fogo e até os Lúmenes preferiram dar a volta em vez de lutar. O quanto aquela família precisava de dinheiro para esse cara se arriscar?

Por experiência, a jovem Lúmen sabia que devia chegar à trilha. Mesmo entrando por outro lugar, aquele era o objetivo de todos que passavam pelo bosque. Era muito mais fácil se localizar e se locomover por ela. Talvez pudesse pensar que o monstro estaria escondido entre as árvores, mas ninguém costumava passar longe da trilha, o que significava que, para o monstro atacar os viajantes, ele tinha que estar lá também. Quiçá às margens, mas definitivamente próximo dela. Não sabia qual caminho o irmão de Isolde tinha tomado, mas esse também seria o objetivo dele.

O tempo que levou para chegar até a entrada alternativa do bosque que usou foi o mesmo gasto para encontrar a trilha. Aeliana olhou de um lado para o outro, vendo o caminho extremamente vazio. Se o irmão de Isolde tinha passado por ali, já o tinha feito há muito tempo. Se ele não tivesse entrado por ali, também não o teria feito muito para trás, pois poderia ser visto pelos guardas. Então, simplesmente apressou o passo e seguiu adiante.

Como era dia, o bosque não parecia nem um pouco assustador. Na verdade, era um espetáculo vibrante de cores e vida. As folhas de verde intenso teciam uma tapeçaria densa que oscilava sob a carícia do sol impetuoso do meio do dia de verão. Os troncos das árvores exibiam uma paleta de tons terrosos, que fizeram Aeliana se perguntar se seria difícil reconhecer os cabelos do irmão de Isolde. As texturas pareciam beber avidamente a luz solar e a brisa quente que percorria o bosque trazia consigo o perfume fresco das folhas e a sinfonia de pássaros.

Pássaros.

Aeliana parou de andar imediatamente. Ficou atenta aos sons ao seu redor mais do que às cores. Zumbidos de insetos, pássaros cantando, animais correndo. Se o bosque era tão perigoso por causa da tal serpente de fogo, como tudo parecia tão normal e tranquilo? Os animais não deviam estar escondidos também? Sabendo que não precisava se preocupar por enquanto, voltou a caminhar com passos rápidos.

Depois de mais algum tempo, ouviu um farfalhar à sua esquerda e parou, observando, atenta, alguns arbustos se remexendo. Tão perto da trilha, provavelmente não era um predador – mesmo se levasse em conta que estavam há pelo menos uma semana sem usar aquele caminho. Também não era um animal pequeno, porque estava mexendo muitos arbustos. Dificilmente seria a tal serpente de fogo, visto que, pelo que lembrava, o guarda sobrevivente tinha falado sobre ser enorme. Só tinha uma opção...

— Olá. Quem está aí? — Os arbustos pararam de se mover imediatamente. Aquilo chamou mais a atenção de Aeliana do que teria feito um farfalhar mais agitado, uma fuga ou um susto. — Tris, é você? Sua irmã Isolde me pediu para te encontrar.

O silêncio se estendeu. De verdade dessa vez. Até os sons do bosque cessaram. Tinha pensado que não era um predador. Poderia estar enganada?

Abriu as pernas na largura dos ombros e flexionou levemente os joelhos. Todos os seus músculos se tensionaram, preparados para responder instantaneamente. Posicionou a lança diagonalmente à frente do corpo, apontando em direção ao possível adversário. Os olhos verdes, intensos e determinados, focaram nos arbustos.

Chama e LuzWhere stories live. Discover now