Capítulo VII - UMA GRANDE NOTÍCIA

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— Mas por que razão, Pequena Dorrit, por que razão se isola desta maneira? Diga-me.

— Sinto-me melhor aqui. É o meu lugar, aqui sou útil - respondeu ela num fio de voz.

— Mas tem mesmo a certeza de não ter nenhum segredo a confiar-me, de não querer encontrar junto de mim esperança e conforto?

— Um segredo? Não, não tenho segredos - respondeu ela muito perturbada.

De súbito, Maggie interveio:

— Mãezinha, se não tens nenhum segredo a dizer-lhe, conta-lhe então o da princesa!

— A princesa tinha um segredo - perguntou Clennam, surpreendido.

Arthur interrogou Dorrit com o olhar e espantou-se por a ver tão afogueada e tão perturbada: ela explicou-lhe que não passava de uma história de fadas sem interesse que um dia inventara para Maggie. ele não insistiu, mas continuou:

— Pequena Dorrit, só mais uma coisa: sou um homem de idade, poderia ser seu pai ou seu tio, não receie desabafar comigo. Sei que neste momento a sua única preocupação se relaciona com o seu pai, mas, um dia, poderia vir a interessar-se por outra pessoa, sentir um novo afeto.

— Não, não, não.

A Pequena Dorrit ficara muito pálida e abanava lentamente a cabeça, com ar de tranqüila desolação de que ele por muito tempo se recordou.

— Neste momento, não lhe peço confidências. apenas lhe rogo que me conceda, sem hesitação, a sua total confiança.

— Poderia fazer menos por si, que é tão bom?

— E confiaria absolutamente em mim? Não esconderá nenhum desgosto, nenhuma inquietação? E tem a certeza de que neste momento nada a perturba?

— Não, senhor Clennam, pode acreditar em mim.

Ao proferir estas palavras com uma firme convicção, mostrava-se profundamente pálida.

Nesse momento, fizeram-se ouvir, nas escadas arruinadas, uns rangidos significativos, um ruído semelhante a uma pequena locomotiva a vapor e, antes que Maggie abrisse a porta, surgiu um senhor Pancks mais agitado do que nunca:

— Pancks, o cigano - disse, arquejante -, que lê a sina.

Ficou ali especado, sorrindo e resfolegando, com ar espantosamente satisfeito com a sua pessoa, e puxou uma tal fumaça do charuto, que por pouco não se engasgou. Clennam julgou que ele estava embriagado, mas depressa se deu conta de que a causa da sua desmedida excitação não era o álcool.

— Como vai, Miss Dorrit? E o senhor Clennam? Nunca me senti tão satisfeito como hoje. Hem, Miss Dorrit?

Aparentava um prazer insaciável em contemplá-la. Os seus olhinhos negros lançavam chispas e estava tão carregado de eletricidade, que todo o seu corpo parecia irradiar pequenas faíscas estaladiças. Miss Dorrit parecia um pouco assustada e não sabia o que dizer. Pancks pôs-se a rir, apontando para Clennam.

— Não se preocupe com ele, Miss, é dos nossos: diante dele pode, sem receio, reconhecer-me, não é verdade, senhor Clennam? Hem, Miss Dorrit

A exaltação do indivíduo depressa se comunicou a Clennam e Miss Dorrit viu-os, surpreendida, trocar olhares fugazes.

— E. Oh! A propósito, Miss Dorrit - disse Pancks -, lembra-se de que deveria inteirar-se do que existia nas costas da sua mãozinha? Ora bem, vai sabê-lo, minha amiguinha, vai sabê-lo! Senhor Clennam, fizemos um acordo, respeitei-o, se tiver a bondade de me conceder alguns minutos. Miss Dorrit, desejo-lhe uma boa noite.

A Pequena Dorrit (1857)Onde histórias criam vida. Descubra agora