Capítulo vinte e sete - adeus?

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Voltei para casa, apostando que eles teriam preparado alguma surpresa.

Fechei a porta deixando minhas chaves e bolsa no Hall de entrada. Não estava errada quanto a uma surpresa, pois fui pega pela maior delas, quando vi meus avós sentados no sofá da sala. Nunca, nem nos meus piores pesadelos imaginava, Lorena e Robert Crawford pisando no carpete marrom da sala de estar do meu pai.

Deveria ter previsto que meu pai não permitiria que fossemos para a Austrália sem antes comunicar meus avós, não estava com cabeça para as cenas escandalosas da minha avó, na verdade não queria falar com ela.

Olhei para meu pai, e ele pareceu entender sem mesmo eu pronunciar qualquer palavra.

— Primeiro escute o que sua avó tem a dizer.

Ele veio até mim e deixou um beijo na minha têmpora.

— Converse de coração aberto, filha. Lembre-se que a mágoa só envenena a alma.

Balancei a cabeça concordando apenas porque meu pai estava pedindo que eu a ouvisse. Tanto meu avô, quanto os outros saíram do cômodo nos deixando sozinhas.

Sentei em uma das poltronas, nenhum pouco confortável com a situação.

Minha avó não parecia a mesma, apesar da camada de maquiagem, haviam olheiras circulando seus olhos, ela parecia ter chorado, ela nunca chorava, era uma pedra incorruptível. Um nó se formou em minha garganta.

— O que você quer conversar? — perguntei friamente, quase não reconhecendo minha voz. Eu nunca falei desse jeito com ninguém.

Ela me olhou, me olhou de verdade e seus olhos cintilavam com as lágrimas que se formaram.

— Você é igualzinha a sua mãe. Minha Ava teria me odiado por saber como eu tratei a filhinha dela.

Precisei piscar rápido para conter minha vontade de chorar. Ela pegou uma caixa de madeira de uns trinta centímetros, com letras em dourado sobre a tampa.

Ava Crawford

Era o nome da minha mãe. Minha avó entregou o objeto para mim, teria recusado pegar, mas tinha o nome da minha mãe, então deveria ser importante para ela.

— Nessa caixa tem todas as memórias dela, fotos, diários... sonhos. Todos os vinte e seis anos dela foram reduzidos a isso. — ela comentou com a voz mais triste que já vi saindo de sua boca. Estava acostumada com amargura e desprezo, mas nunca tristeza.

Passei a mão sobre a madeira escura e polida. Pensando como a vida era uma passagem, em como tudo poderia terminar rapidamente, em tudo que minha mãe deixou de viver.

— Ela amava seu pai, Blair — continuou minha avó. — E a culpa foi minha deles terem se separado, ele incentivava a rebeldia dela, ela queria seguir uma carreira de atriz e eu achava insano da parte dela, eu pensava que ela atiraria nosso nome na lama, na época seu avô estava tentando entrar para o ramo da política, e não precisávamos de um escândalo, precisávamos ser a família perfeita, e então ela ficou grávida...

Toda aquela história estava acabando comigo. Não sabia como reagir a todas as informações. Eu não fazia ideia que minha queria ser atriz, pensando bem, ninguém nunca falava muito sobre ela. Além de meu pai, mas acredito que ele escondeu alguns fatos para não estragar minha relação com meus avôs.

— Eu errei muito, Blair, ameacei que tiraria a sua guarda dela se ela não terminasse a faculdade de direito e se não rompesse o namoro com seu pai, ela fez tudo o que ordenei, até o dia do seu aniversário de dois anos, quando ela decidiu por si mesma, no dia do acidente ela estava disposta a ir embora de Seattle e viver uma nova vida com você e seu pai, era por esse motivo que vocês duas estavam naquele sinal, foi minha culpa, não sua, foi porque impus minha vontade sem me importar com o sentimento dela ou do seu pai. E depois eu quis achar um culpado, descontando em você toda a minha culpa, todo o ódio que eu sentia por mim mesma, porque toda vez que olhava para você eu via ela.

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