A Princesa de Illéa

Capítulo 23 - Herdeiro de Illéa

- Há décadas temos procurado os diários de Gregory. Faz tempo que sabemos de sua existência e recentemente conseguimos uma confirmação de uma fonte que não posso revelar.

Maxon e eu olhamos para America. August também olha para ela. - Não foi através da sua apresentação no Jornal Oficial que ficamos sabendo.

Ela respira aliviada.

- Nunca quisemos derrubar a monarquia - August diz para Maxon e para mim. - Apesar de ela ter surgido de maneira corrupta, não vemos problema em ter um líder soberano, principalmente se esse líder for um de vocês. 

- Obrigado. - Maxon e eu agradecemos. Eu sei que no fundo nunca serei a líder desse país, mas agradeço o elogio mesmo assim.

- Gostaríamos, sim, de outras coisas. De algumas liberdades específicas. Queremos poder assumir cargos públicos e o fim das castas.

- Você fala como se eu já fosse o rei - Maxon responde, frustrado. - Mesmo que fosse possível, simplesmente não tenho como atender sua reivindicação.

- Mas você está aberto à ideia?

Eu afirmo com a cabeça, mas quem tem que responder a isso é Maxon. 

- É irrelevante se estou ou não aberto à ideia - Maxon diz. - Eu não sou o rei.

August solta um um suspiro e olha para sua companheira, que se apresentou como Georgia. 

- Por falar em reis - Maxon diz. -, por que não explica a America quem você é? Tenho certeza de que o faria muito melhor do que eu.

Percebo que Maxon sugere isso para tentar ganhar tempo e pensar em alguma coisa. 

August abre um sorriso. - Essa é uma história interessante - ele começa. - Como você sabe, Gregory teve três filhos: Katherine, Spencer e Damon. Katherine teve um casamento arranjado com um príncipe, Spencer morreu e Damon herdou o trono. Depois, quando o filho de Damon, Justin, morreu, seu primo, Porter Schreave, tornou-se príncipe e se casou com a viúva de Justin, que vencera a Seleção meros três anos antes. E desde então os Schreave se tornaram a família real. Não deveriam existir descendentes de Illéa. Mas nós existimos.

Eu lembro de mamãe comentar comigo que meu nome vem da filha de Gregory. 

- Nós? - indaga Maxon. 

- Spencer não morreu - August explica. - Ele sabia o que o pai tinha feito para tomar o país. Sabia que sua irmã havia sido praticamente vendida para se casar com uma pessoa que odiava e sabia que o mesmo aconteceria com ele. Mas ele não poderia suportar. Então resolveu fugir.

- Para onde ele foi? - America pergunta.

- Escondeu-se com amigos e parentes. Acabou por criar um acampamento no norte, para pessoas que partilhavam das suas ideias. A região é fria, úmida e bem mais difícil de navegar, então ninguém se arrisca a ir para lá. Vivemos em paz a maior parte do tempo. 

Georgia cutuca August. 

- Parece que acabei de dar as coordenadas para que vocês nos ataquem. Quero apenas lembrá-lo de que nunca matamos nenhum conselheiro ou funcionário real e evitamos feri-los a todo custo. Nosso objetivo sempre foi acabar com as castas. Para isso, precisávamos de uma prova de que Gregory fora o homem que sempre nos contaram que tinha sido. Temos essa prova agora, e America deu pistas suficientes para nos sentirmos seguros em usar isso a nosso favor. Mas não queremos. A não ser que seja extremamente necessário.

- Honestamente, não sei o que fazer com essa informação. Você é um descendente direto de Gregory Illéa, mas não quer a coroa. Veio em busca de coisas que apenas o rei poderia oferecer, mas pediu uma audiência comigo, minha irmã e com uma das garotas da Elite. O rei nem sequer está no palácio. - Maxon diz.

- Nós sabemos - August diz. - Foi tudo planejado.

Maxon bufa. 

- Se vocês não querem a coroa e só pedem coisas que não estão ao meu alcance, por que estão aqui?

Georgia e August e entreolham. 

- Viemos fazer esses pedidos a vocês porque sabemos que vocês são sensatos. Nós os observamos durante sua vida inteira. Podemos ver isso em seus olhos. Vejo isso agora. - August se refere a Maxon e a mim. - Vocês também não gosta das castas. Não gostam da forma como o pai de vocês manda e desmanda no país. Não querem participar de guerras que sabem que não passam de distrações. Mais do que isso, vocês desejam viver um período de paz.

August se vira para Maxon. - Imaginamos que, quando você for rei, as coisas podem mudar de verdade. E há muito tempo esperamos por isso. Estamos preparados para esperar um pouco mais. Os nortistas estão dispostos a nunca mais atacar o palácio e a fazer o possível para deter ou diminuir os ataques sulistas. Nós sabemos de muitas coisas que acontecem fora dos muros do palácio às quais você não tem acesso. Vamos jurar fidelidade caso você se comprometa a trabalhar para que cada habitante de Illéa finalmente tenha a chance de viver sua própria vida.

-  E o que os rebeldes do sul querem, afinal? Matar todos nós? - me intrometo. 

- Em parte sim, mas só para que não haja ninguém para combatê-los. Uma parcela muito grande da população é oprimida, e essa parcela, cada vez maior, chegou à conclusão de que poderia administrar o país com as próprias mãos. - então ele se vira para America. - America, você é Cinco; conhece gente que odeia a monarquia.

Maxon e eu olhamos discretamente para ela. America somente afirma com a cabeça.

- Claro que conhece. Porque a única opção de quem está por baixo é culpar quem está no topo. No caso deles, os motivos para isso são mais que suficientes. Afinal, foi alguém da primeira casta que os condenou a uma vida sem esperança de melhora. Os comandantes do sul convenceram seus seguidores de que o jeito de recuperar o que acreditam ser deles é tomar tudo da monarquia. Mas há pessoas que desertaram do comando rebelde do sul e agora estão comigo. Para mim está claro que, caso os sulistas assumam o poder, não teriam intenção nenhuma de distribuir a riqueza. Quando na história isso aconteceu?

Ele faz uma pausa, e então continua. - O plano deles é destruir Illéa, tomar o poder, fazer um punhado de promessas e manter todos onde já estão agora. Para a maioria das pessoas, a situação certamente iria piorar. Quem for Seis ou Sete não vai ascender, com exceção de alguns rebeldes selecionados em nome do espetáculo. Os Dois e Três terão todos os bens confiscados. Muita gente vai se sentir vingada, mas isso não vai solucionar tudo.

Ele faz outra pausa. - Será como ter Gregory de novo, mas pior. Os sulistas podem ser mais sanguinários do que vocês jamais seriam. As chances de o país reagir são quase nulas. Será a velha opressão de sempre, apenas com um novo nome... e seu povo sofrerá mais do que nunca.

Vejo August olhar fixamente para Maxon. 

- Tudo o que precisamos é de uma garantia, e faremos o máximo possível para ajudá-lo a mudar as coisas, com paz e justiça. Seu povo merece uma chance.

Maxon simplesmente baixa o olhar sem dizer nada.

- Que tipo de garantia? - eu pergunto. - Dinheiro?

- Não - August responde quase rindo. - Temos mais recursos do quevocês imaginam.

- Se não é dinheiro - Mazon começa a dizer. -, o que vocês querem?

Eu estou começando a entender qual o ponto deles. O que eles querem. Mas ele logo responde, se virando para America:

- Escolha ela.