Capítulo 1.

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Meus olhos não param abertos.

Nem a aula de biologia consegue me manter acordada depois de horas sem dormir. Olho para os lados, bocejando e incomodada com a luz forte no meu rosto. Porra, tinha acabado de tirar o cochilo que eu precisava para ficar inteira até pelo menos o resto dessa aula. Porém, fico atenta logo depois de ver todos da sala me encarando. Olho para Diana do outro lado da sala, com uma clara interrogação na minha testa. Ela apontou discretamente com a sua cabeça para frente. O que eu perdi?

— Senhorita Shirley, que prazer eu tenho em ganhar sua atenção em pelo menos um minuto da minha aula. — disse o professor careta, que aparentemente me odeia metade do tempo que passa nessa sala de aula.

Qual é? Não é como se metade da sala não dormisse na aula dele, e ele não fica rondando eles como um urubu prestes a pegar os restos da presa morta.

Céus, que mórbido. Ri sozinha com o que eu pensei. Eu sou a presa? Vejo grandes semelhanças, considerando o meu estado de quase-morte.

Ouvi um pigarro. Ok, é do professor.

— O prazer é todo meu professor. Mas na próxima, fale um pouco mais baixo, para que eu consiga dormir melhor — provoco-o. Ele revira os olhos, acostumado com esse tipo de resposta. Principalmente de mim.

Antigamente, costumava acompanhar as aulas dele como se ele fosse um Deus para mim, afinal, a matéria que ele dá era essencial para o que eu pensava em fazer no futuro. Porém, os problemas vieram, e acabei entrando cada vez mais na minha bolha de não fazer nada até que eu me forme e vire uma vagabunda sem grana, deixando o meu sonho de lado.

Até então, estava acostumada com essa ideia, só que parecia que ele não tinha engolido o fato da única pessoa que aparentemente prestava atenção no que ele ensinava não dar a mínima para mais nada da aula dele.

Eu não gosto dele. Mas, merda, tenho que admitir, ele é um ótimo professor.

— Beleza, Anne — ele respira fundo, antes de apoiar o corpo na própria mesa, apontar com o dedo para a porta e dizer: — Fora.

Olho para ele, não deixando transparecer nada no meu rosto. Que piada, mal havia começado a semana e ele já me expulsou da aula. Não me importava, poderia facilmente usar esse tempo para ficar lendo na biblioteca. Pego as minhas coisas que estavam na mesa — uma caneta e um caderno cheio de rabiscos — , coloco a mochila nas costas e vou em direção à porta, ouvindo risos e cochichos do quão fodida eu estava.

Não me importava, ficava repetindo isso na minha cabeça, até eu acreditar que era verdade.

Essa era minha filosofia de vida para encarar isso, fingir não me importar, até que isso pare de me incomodar.

Abri a porta, dando um aceno com a cabeça para o professor, prestes a sair, até que uma fala me fez ficar parada. E tirar totalmente o meu sono.

— Tenta não assustar ninguém com essa sua cara, esquisita — o garoto fodido de cabelo loiro e olhos azuis disse, fazendo com que a sala se preenchesse com um coro de risadas.

Eu ri com sarcasmo. Era só isso que ele tinha para hoje?

— Incrível, é assim que você conquista alguém? Você já foi melhor nos elogios — digo, olhando-o distante, com claro desinteresse. — Tenta falar algo que não se aplique a você na próxima vez, quem sabe você consegue me atingir de alguma forma? — debocho, dando de ombros e saindo da sala, sem querer ouvir os risos dos outros e o que ele iria dizer a seguir.

Ando pelos corredores apressadamente, enxugando uma lágrima que ameaçava cair. Me recuso a chorar por aquele garoto. Pelo menos até eu chegar em casa. Em casa eu choraria, com certeza.

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⏰ Dernière mise à jour : Apr 20 ⏰

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[𝑺𝒉𝒊𝒍𝒃𝒆𝒓𝒕 ]- FlawlessOù les histoires vivent. Découvrez maintenant