— Não exatamente. Sabe que sempre me dei bem comigo mesmo, naquela casa. — negara, apanhando uma pedrinha para tacar longe, vendo-a quicar duas vezes na água antes de afundar. — Acontece que agora eu já não sei como deixar alguém chegar perto sem ser um perigo.

   — E você quer deixar alguém se aproximar? Quem, Charlie? — Billy pareceu repentinamente mais interessado na conversa, um tanto perplexo com tal situação, após observar o amigo enlutado por tantos anos com seu divórcio com Renée.

   — Não desse jeito, seu pervertido! — mesmo chateado, foi fácil rir um pouco com Billy. — É apenas uma amizade que fiz recentemente, e bem, não encontrei coragem para contar sobre os causos sobrenaturais em minha família!

   — Posso não sair muito da reserva, mas eu tenho quase certeza de que você nunca mencionou uma “amizade" dessas. — Billy estreitara os olhos, matutando as possibilidades. — E, fora a chegada de uma certa doutora, não me recordo de ninguém novo na cidade para atrair sua atenção!

   — Já lhe disse que não é bem assim! Gosto dela, de verdade, mas não pelo rostinho bonito. — explicara, apesar de algo no rosto do amigo denunciar que ele não tinha tanta fé disso. — Ela me confidenciou coisas. Mesmo sem me conhecer direito, ela foi franca sobre sua história, e meio que me mata não poder retribuir o favor.

   — A história de sua filha não é a sua história, Charlie. Bella está seguindo com a sua vida, bem tranquilamente no Alaska. Seja honesto quanto ao que te cabe, e tudo ficará bem. — assentira, ofertando seu melhor sorriso. — Agora, se não for muito, me tire daqui. Meu traseiro está congelando! — acrescentara com humor, arrancando boas risadas de ambos.

...

   Tendo algo com que pensar, Charlie ainda levara o resto daquela noite para se perguntar como então poderia fazer as coisas voltarem ao eixo. Afinal levara um mês inteiro até expressar seu incômodo a Billy, e a essa altura, Natalie não era mais tão “acessível”: as pessoas já a reconheciam pelas ruas, a cumprimentando ou solicitando consultas.

   E, mesmo que a casa dela estivesse a apenas quatro ruas de distância da sua, não se sentia idiota o bastante de ir lá sem ser convidado.

   De todo modo, a sorte pareceu sorrir ao seu favor quando, cinco dias após sua conversa com Billy, Charlie acabara por se esbarrar com Natalie em seu horário de almoço no Carver’s Café. Tanto pela movimentação naquela hora do dia, quanto pela conversa despreocupada que trocava com a garçonete a caminho de sua mesa, Natalie demorara até reparar na figura de Charlie, seu semblante se franzindo de imediato com tal constatação.

   Todos os sinais pareciam tentar o alertar de que aquele não era o melhor momento para a abordar, mas sentindo-se especialmente corajoso naquele dia, logo pulara para ocupar o assento oposto em sua mesa.

   — Natalie. — acenara com a cabeça.

   — Charlie. — ela respondeu da mesma forma, embora seus olhos verdes parecessem ocupados em avaliar as intenções em tal abordagem.

   — É bom te ver por aqui. — comentara, sem muito propósito. Sempre imaginou que o fato de se desencontrarem na lanchonete fosse o fato de ela talvez ter um horário de almoço distinto, mas ao vê-la ali ele só conseguiu pensar que talvez este não fosse o caso. — Tem comido em outro lugar?

   — Tenho levado marmita para o serviço. Como bem sabe, eu gosto de cozinhar. — a mulher prontamente ficara na defensiva, mencionando o único jantar o qual ele pudera experimentar de sua comida. — Mas acontece que hoje eu decidi me dar um mimo. A Salada Cobb é uma delícia, consegui o dia de folga, e pensei que talvez não fosse uma má ideia.

   — Mimo? E ao que se deveria o dia de hoje? — questionou, mas antes que pudesse obter uma resposta, o universo fora mais rápido em lhe dar um esclarecimento.

   — Feliz aniversário, Dra. Jenkins! — a garçonete sorrira radiante, ao repousar um cupcake confeitado diante de Natalie, que riu envergonhada com tamanha gentileza.

   Trocando um olhar entre as duas, Charlie levou algum tempo antes de sair do transe, sua cabeça tentando calcular um número de dias que nem mesmo ele tinha noção, como se parecesse muito cedo para vê-la fazendo anos em Forks.

   “21 de março” pensou consigo mesmo, achando a data um tanto quanto condizente com a mulher, por se tratar da data do equinócio de primavera. Se perguntava se ela já teria pensado nisso alguma vez em sua vida, ou se era um surto apenas seu.

   — Muito obrigada, Joanne! — a ruiva agradecera, rapidamente dando uma mordida no doce para comprovar que havia apreciado e muito o seu gesto.

   Quando voltaram a ficar a sós na mesa, no entanto, a boa simpatia de Natalie pareceu voltar a dar uma vacilada, encarando Charlie como se ele tivesse acabado de ouvir algo de que ela não gostaria que tivesse consciência.

   — Meus parabéns, Natalie...De verdade. — mesmo acanhado, não conseguira deixar de dar suas felicitações, coçando o bigode sem ter muito mais o que lhe dizer.

   — Obrigada, Charlie. — ela ao menos sorriu em agradecimento, embora seus olhos parecessem ter dificuldade para olhar diretamente para ele. — Olha, por mais que eu não tenha ouvido nenhuma palavra como “Foi mal” ou “Me desculpe” saindo da sua boca, quero que saiba que eu já te perdoei, okay? Acabou que minha chateação partiu mais de uma insegurança minha do que um deslize seu, e...

   — Eu deveria ter te ligado. — ele a cortou, não suportando a ideia de vê-la se culpando assim. — Olha, você disse muitas coisas naquela noite, assim como eu falei. Acho que é normal esperar um pingo de consideração da pessoa, depois de confidenciarem tanto. — cruzara os braços sobre a mesa, subitamente muito interessado em avaliar os confeitos no bolinho. — Eu sinto muito.

   Natalie não o respondera de imediato, mas seus olhos tornaram a olhar para ele, portanto Charlie pôde interpretar isto como um bom sinal.

   — Tem planos para hoje? — questionou, tentando mudar de assunto para algo mais ameno, já que pareciam relativamente acertados.

   — Não. Minha ideia de curtir meu aniversário era alugar alguns filmes, pedir pizza e dormir até o próximo turno estendido no hospital. — ela dera de ombros, sem dar muita importância. — Bom, Ed prometeu me ligar mais tarde, assim como a minha nora, mas ainda não tive sinais de Faith.

   — Bom, tem uma locadora na cidade, uma pizzaria na qual pedir pizza...Mas também temos um cinema em Port Angeles, se preferir uma sessão.

   — Está se propondo a me acompanhar neste cinema? — a doutora franzira o cenho, quase não crendo no que ouvia. — Está se convidando para passar meu aniversário comigo, Charlie?

   “Pelo menos ela não está chamando isto de encontro” ponderara consigo mesmo, ainda que seu rosto estivesse igualmente ruborizado.

   — A não ser que prefira passar seu aniversário na sua casa, o...

   — ...O que você também não se importaria de fazê-lo? — ela deduziu em tom provocante, rindo de seu constrangimento. — Pois está bem, eu vou pensar neste caso. Devo te dar uma resposta definitiva até as cinco, então fique atento a ligações, pode ser? — propusera, e por mais que nem passasse pela sua cabeça negar, Charlie soube que um “não” estava fora de questão para Natalie.

Equinócio - TwilightWhere stories live. Discover now