Prólogo

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6 anos antes

Pov Millie Bobby Brown

— Tem certeza que você quer fazer isso? — Perguntou.

Suas mãos frias segurando as minhas, transmitindo alguma segurança, mesmo que seu corpo inteiro indicasse o contrário.

— Sim, eu tenho certeza.

Meus pés apressaram os passos, me concentrei para não tropeçar em meu próprio ritmo, correndo na pista do aeroporto em direção a aeronave. Atrás de mim corriam meus dois seguranças designados para cuidar e proteger, mas que no momento estavam sendo cúmplices de uma das maiores loucuras da minha vida. Se bem que, se parar um minuto para refletir, loucura mesmo seria me casar com uma pessoa que não amo em nome da liberdade. Paradoxalmente esse casamento que serviria como passaporte de emancipação, seria minha pior prisão, um terrível pesadelo.

Ele tocou em minha cintura suavemente e tirou minha mochila pendurada em meus ombros, inclinando a cabeça sugerindo que eu adentrasse a aeronave.

— Por favor, precisamos nos apressar — se dirigiu a despachante de voo parada segurando uma prancheta diante a pequena escada do Falcon 8X.

Subi os poucos degraus e me abriguei dentro do jato executivo encontrando um ponto de segurança, o interior fundia design sofisticado e funcionalidade de alto padrão revestido por uma combinação de couro macio e detalhes em madeira.

— Fica calma, já vamos sair daqui.

Estava estampado no meu rosto o misto de nervosismo e medo, e isso foi o suficiente para ele interromper o que estava fazendo e me dar um beijo na testa. Pisquei para ele quando suas mãos se afastaram de mim para colocar nossas mochilas no espaçoso compartimento de bagagens.

— Pré-check ok. Pode liberar — ouvi a voz do mecânico de voo conversando com a despachante do lado de fora.

Inclinei a cabeça em direção a pequena janela redonda e observei a movimentação dos pilotos e da aeromoça recolhendo a documentação de voo. Eles agradeceram a despachante e começaram a subir os degraus da aeronave.

Meu coração palpitou quando Charles e Douglas arregalaram os olhos, fazendo sinal com as mãos. Meus seguranças acompanham minha vida desde os treze anos de idade, talvez eles estiveram presentes em mais crises de ansiedade do que eu gostaria.

— Por favor, bom dia! — Cumprimentei os tripulantes em alto e bom som. Eles me reverenciaram de forma cordial e eu os apressei. — Podemos ir?

— Gostaria de uma água com gás, senhorita Brown? — A comissária perguntou, seus olhos castanhos medindo cada centímetro do desespero em meu corpo.

— Só precisamos sair daqui — reforcei.

Ela deu meio sorriso e começou sua checagem habitual de segurança ignorando minha pressa. Charles ergueu a mão do lado de fora, parado próximo a escada. Era um sinal. Eles estavam chegando para me buscar. Minhas pernas sentiam a ansiedade envenenando meu organismo, elas não paravam de tremer. É como se tivessem vida própria. Me encolhi no banco, o estofado de couro fez barulho, fechei os olhos e senti o toque frio em meu braço, que logo se transformou num abraço quando se aninhou comigo na mesma poltrona que parecia ser grande o suficiente para acomodar três de nós.

— Já deu certo, Mills. — Ele disse.

— Verificação de sistema check — um dos pilotos confirmou, sua voz distorcida ecoou no sistema de áudio da comissária —, Valéria, porta em automático.

A comissária olhou em minha direção.

— Senhorita Brown, poltrona na vertical, por favor, somente até decolarmos.

Pressionei o botão no painel automático diante de mim, ele suspirou e deu um pulo para ocupar a poltrona a minha frente e mesmo que apenas alguns centímetros nos separassem, parecia ser longe demais, vazio demais.

Afivelei o cinto de segurança, abracei as próprias pernas encolhidas junto ao meu corpo como se fosse capaz de me fechar numa concha e imaginei os olhos vermelhos de ira do meu pai, que naquele momento, já sabia que estava fugindo do país com alguém que não era meu noivo arranjado.

— Última verificação de cabine check. Porta em automático.

Valéria deu a confirmação e com a porta fechada olhei pela janela e observei os dois carros pretos invadindo o pátio da área restrita. As sirenes das viaturas de segurança aeroportuária os seguiam para impedir a intrusão e iluminavam as paredes laterais do hangar. A noite foi colorida em tons de angustia e aflição. Eles chegaram.

Charles e Douglas olharam para trás, nosso carro estacionado há metros de distância e uma única certeza de que acabaram de ser demitidos por estarem de acordo com a minha fuga. Toquei o vidro da janela redonda e como se eles fossem capazes de me ouvir, sussurrei um "obrigado" sôfrego com lágrimas teimosas presas no canto interno dos olhos.

A aeronave deu push-back. Os seguranças caminhavam apressadamente rumo ao carro, os outros dois automóveis que invadiram a pista foram interceptados pela vigilância, e quando o piloto fez uma manobra de lateralização, o vi abrindo a porta de trás. Meu noivo, seguido do meu pai. Fechei os olhos.

As lágrimas escaparam, mas imediatamente as senti sendo amparadas por um dedo tocando meu rosto. Seu toque suave escorregou por minha bochecha, sua mão pálida acomodou a minha quando desafivelou seu cinto por tempo o suficiente para inclinar-se em minha direção e cobrir meus lábios com um beijo.

— Vai ficar tudo bem. Estamos juntos.

Sorri, seus olhos escuros e cachos negros desorganizados estavam ali, diante de mim, e me concentrando em suas sardas, próximas o suficiente do meu rosto, mesmo que por meio segundo, me senti em casa. É louco pensar que o conceito de lar não é um lugar, mas uma companhia. E Finn Wolfhard era a minha preferida. 


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Nota da Autora:

Escrevi essa fanfic no auge da segunda temporada de Stranger Things, quando todas as especulações sobre esse casal, além da ficção, eram latentes. Embora fossem apenas adolescentes e o maior público dessa história acompanhasse a idade, recebi muitos comentários sobre essa fanfic no Spirit, e até criei algumas outras histórias de universo alternativo. Atualmente, com o começo das gravações de uma nova (e última) temporada, senti vontade de reviver esse fandom, reescrevendo essa história que marcou a adolescência de uma galera. Com a escrita um pouco mais lapidada, quero reviver essas emoções com vocês que sempre shipparam Fillie/Mileven. Se um dia esse casal existiu além das telas, não sabemos, mas é pra isso que existe a ficção: imaginar. 

Comentem muito para eu continuar postando. A vida adulta é complicada e cheia de afazeres então isso servirá de motivação para eu não parar de reescrever essa fic. 

Beijinhos, mandy.

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⏰ Last updated: Jan 20 ⏰

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Ruin the Friendship - Fillie/MilevenWhere stories live. Discover now