Capítulo vinte e quatro - a verdade

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O ajudei a subir as escadas até seu quarto, já passava das cinco da tarde, terminei de tomar meu chocolate quente, meu pai havia bebido apenas a metade do dele, joguei fora o restante do líquido em sua xícara e lavei a louça suja e decidi fazer uma sopa, Amber me ensinou alguns segredos culinários, uma sopa de legumes faria milagres com meu pai, e também ele merecia um bom jantar.

Fui até a geladeira pegar alguns dos ingredientes, coloquei a panela no fogo quando ouvi um estrondo vindo do andar de cima, como se algo caísse no chão, meu coração quase saiu pela boca.

— Pai? — gritei. Não obtive resposta. Desliguei o fogo, cruzando a sala indo em direção às escadas, a cada passo a madeira velha dos degraus rangiam, no compasso que meu coração continuava acelerado, com um pressentimento.

— Pai! Foi o senhor que fez o barulho? — perguntei andando pelo corredor até seu quarto. Bati de leve na porta, nada, nenhum um som. Ele não respondeu novamente.

Com a esperança de ele não ter respondido por estar dormindo, abri a porta. Minha mão paralisou na maçaneta quando a porta se escancarou e vi meu pai no chão.

Meu Deus.

Minhas pernas travadas finalmente voltaram a se movimentar.

— Pai? Pai! Pai?! — gritei correndo até ele. — Pai, fala comigo!

Ele não respondeu, não se moveu. Havia um frasco de remédio em sua mão. Será que tentou tomar para ajudar com a dor e desmaiou?

Seus óculos estavam quebrados ao seu lado. Tomei cuidado para verificar se não havia nenhum ferimento aberto por causa da queda. Não quis mexer demais, o recomendado era sempre deixar o paciente intocado para os paramédicos — mas isso era no caso de acidentes de carro, não tinha certeza se encaixava no quadro de meu pai. Não parecia haver nada, nem sangue ou hematoma evidente.

Não sabia exatamente o que fazer. Ligava para ambulância? Ou tentava colocá-lo no carro e o levava para hospital?

Não conseguiria levantá-lo sozinha. Merda. Merda.

Comecei a ficar desesperada, as lágrimas começaram a me impedir de raciocinar direito, mas era meu pai ali no chão, precisava me concentrar.

A primeira coisa que precisava fazer era encontrar um celular, mas não queria sair de perto dele.

— Tudo bem, pai, vai ficar tudo bem, vou ligar para a ambulância — minha voz mal saia por conta do choro preso em minha garganta. Eu precisava ser forte. Ele estava bem. Garanti para mim mesma, foi só um desmaio, a pressão deveria ter caído pela dor de estômago.

Meu celular ficou lá embaixo na mesa de centro da sala, mas o celular do meu pai provavelmente estava aqui em algum lugar do quarto. Sem sair do lado dele, passei os olhos ao redor, o encontrei na cômoda do outro lado. Levantei quase caindo pelo nervosismo, quase sai engatinhando pelo chão para alcançar o aparelho. Tentei fazer isso o mais rápido que podia.

Disquei o número da emergência às pressas, com as mãos trêmulas e mal conseguindo encontrar os números. Demorou alguns segundos até uma voz me atender.

Emergência, como posso ajudá-la?

— Meu pai, ele desmaiou, eu não sei o que fazer... — minha voz saiu toda atropelada e tremendo, não tinha certeza se a mulher do outro conseguiu entender.

Calma, precisamos que você se acalme e seja clara. O paciente apresentou algum sintoma durante o dia?

— Ele reclamou de dor de estômago.

Ela me pediu meu endereço, e para que eu mantivesse o foco que ambulância estaria a caminho.

Precisei sair de perto de meu pai para estar pronta quando a ambulância chegasse, o que demorou uns dez minutos que mais pareceram horas. Todos os procedimentos típicos foram feitos, eles verificaram os sinais vitais e o colocaram na maca. Nunca pensei que teria que ver meu pai saindo de casa desse jeito, ele era o homem com uma vitalidade impecável. Corria todas as manhãs antes do trabalho, apesar de sempre comer porcarias no jantar, ele mantinha seus exames de rotina em ordem, nunca nenhum de seus checapes deu alguma alteração.

Inefável Where stories live. Discover now