── 𝓐𝗍𝖾́ 𝗅𝗈𝗀𝗈.

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   As pessoas ao redor da Coréia provavelmente esqueceriam daqui uns dias, e isso não mudaria nada de relevante em suas vidas. Mas a minha e de Nabi, em frente á um senhorzinho duas vezes menor que eu, com provas de que o namorado de sua neta viaja no tempo, definitivamente mudaria.

   Nabi parece não saber o que dizer, então cutuca-me com seu braço, me dando um esbarrão para tomar a frente em seu lugar. Maravilha.

   Pigarreio rapidamente.

Tipo assim, senhor Yang, o que rolou é que...

— Não venha tentando mascarar suas palavras bonitas do século dezessete, você fica parecendo um doido — me interrompe o mais velho, desligando a televisão com um aparelhinho preto em sua mão — Desembuchem.

  ֍ ֍ ֍

     Um silêncio mortífero pairava sobre a mesinha de vidro iluminada pelo pôr do Sol na varanda do quintal. Dessa vez, os olhinhos bondosos do avô de minha namorada foram substituídos por uma carranca que reconhecia muito bem de meu irmão. Ele sequer me serviu seu habitual chá de erva daninha, e por ora, o tomava sozinho, como se quisesse gritar "não lhe sirvo chá nunca mais, seu esquisito viajante do tempo".

— Certo, deixa eu me informar primeiro — Nabi começou, engolindo em seco — Pelo quê exatamente o senhor está com essa cara de quem vai me deixar de joelho no milho por semanas?

— Informarei, sim — seu tom é ríspido — Se já não bastasse as mentiras de senhor Hwang, digo isso pois nos dias atuais ele deve ter uns 370 anos, morar no interior da Coréia, e o fato de você ter deixado um completo estranho dormir em seu quarto, e praticamente morar em nossa casa, Yang Nabi ainda teve a audácia de mentir para seu avô, dizendo que viajaria para o interior atrás de seu namorado, quando na verdade, foi atrás de um completo homem estranho com idade para ser meu tatara-avô, e ao invés de ir ao aeroporto como disse, foi mesmo é para a fenda debaixo de sua cama.

   Ficamos em silêncio novamente. Os olhos de Nabi parecem ensaiar para um espetáculo de lágrimas enquanto me amaldiçoo mentalmente por nunca poder ser para ela o namorado perfeito, e por ter que submetê-la a situações como essa, criando desavenças entre ela e seu querido avô, que tanto protege e venera.

— Hyunjin não é velho, tem só 20 anos — é a única coisa que diz minha pequena Nabi, que parecia tão frágil quanto vidro.

      Nessa hora, decido pegar a caneta fininha que havia ali, sem tampa como costuma estar, e começo a escrever em minha mão.

— Isso não muda o fato de ter trago um completo estranho para dentro de sua casa — o tom do avô é tão seco que quase estendi meu braço para que Nabi não fosse machucada pelas farpas — Você nunca saberá se ele fez algo ou roubou algo daqui de casa, não tem ideia das intenções iniciais dele.

   Nabi limpa uma lágrima teimosa antes que caia, e levanta seu rosto vermelho, prestes a entrar em erupção, para rebater as farpas de seu avô.

— Não fale como se Hyunjin não estivesse ouvindo — diz ela, com os lábios contraídos para baixo como uma bebê — Ele não é um estranho malvado e ladrão e nunca faltou o respeito com o senh-

— Está certo, senhor Yang — interrompo Nabi, pousando minha mão sobre sua coxa, levemente coberta por seu vestido favorito — O senhor tem toda a razão.

𝓐𝗆𝗈-𝗍𝖾, 𝗵𝘄𝗮𝗻𝗴 𝗵𝘆𝘂𝗻𝗷𝗶𝗻.Where stories live. Discover now